“Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve no céu um silêncio...” (Ap 8,1)
Os documentos e mensagens oficiais eram “selados” com cilindros de barro ou discos de lacre, para garantir o segredo de seu conteúdo e autenticar o remetente. Aliás, a palavra “selo” vem do latim “sigillum”, diminutivo de “signum”: pequeno sinal. Nosso adjetivo “sigiloso” conserva a ideia de algo secreto, fechado à leitura de outros. O material do selo recebia uma impressão especial, em geral por um anel de sinete, com uma figura em negativo.
Trata-se, pois, de uma “marca” de origem, tal como o sinal da cruz na fronte do batizando. O termo grego “sphragis” [selo] designava, por analogia, o batismo como sinal/sacramento da fé. Na Carta aos Efésios, Paulo escreve: “Vós fostes selados pelo Espírito da promessa, o Espírito Santo, que é o penhor da nossa herança”. (Ef 1,13-14)
Falando sobre Abraão, Paulo diz que o patriarca “recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que ele tinha quando incircunciso”. (Rm 4,11) Quando surgem desvios da doutrina nas comunidades cristãs, o mesmo apóstolo escreve a Timóteo e garante que “não obstante, o sólido fundamento colocado por Deus permanece, marcado pelo selo desta palavra”. (2Tm 2,19)
De modo geral, o “selo” é a garantia de um segredo contra alguma revelação indevida, como o “top secret” de documentos militares. O Livro de Tobias fala de um certo Aicar, copeiro-mor e guardião do selo do rei Senaquerib” (cf. Tb 1,22). No mesmo livro, Gabael conta os sacos de dinheiro “com os selos intactos” (cf. Tb 9,5). Na transmissão do poder a novo governante, os sinais de poder eram o diadema, o manto real e o selo (cf. 1Mac 6,15).
O Livro de Jó mostra o poder de Deus, que “manda ao sol que não brilhe e guarda as estrelas sob um selo [sigilo]”. (Jó 9,7) O Cântico dos Cânticos usa belíssima imagem ao falar da relação amorosa como uma marca indelével: “Grava-me como um selo em teu coração, como um selo em teu braço; pois o amor é forte, é como a morte”. (Ct 8,6)
No Apocalipse, a revelação está contida em um livro sigiloso, fechado por sete selos. Ninguém é digno de rompê-los para que se divulgue o conteúdo, a não o Cordeiro imolado. “Eis que o Leão da tribo de Judá, o Rebento de Davi, venceu para poder abrir o livro e seus sete selos”. (Ap 5,31) Todos os eleitos são marcados com o selo do Deus vivo (cf. Ap 7,2; 9,4)
Alguns textos bíblicos: Gn 38,18; 1Rs 21,8; Est 8,8; Jó 38,14; Eclo 22,27; Jr 22,24; Ap 8,1.
(Do livro “Uma voz na nuvem”, Ed. Cultor de Livros, 2021)