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28/10/2023 Alberto Melloni Edição 3964 Sínodo: o não dito, os adiamentos e as questões abertas pelo Papa
F/ Pixabay
" O Sínodo, de fato, é o instrumento com o qual a comunhão expressa no ato litúrgico produz decisões com as quais a Igreja confessa que “não é o evangelho que muda, mas nós que estamos começando a entendê-lo melhor” (Roncalli). Mas até agora a única decisão tomada foi adiar tudo para 2024 sem dizer nada sobre o intercessão, que é o momento crucial."

Francisco deu ao Sínodo da Igreja Católica uma forma diferente: aquela de um “concílio não geral”, que reúne uma parcela do colégio episcopal, alguns fiéis católicos e poucos cristãos de outras Igrejas. Ele o convocou para uma sessão que agora está prestes a terminar com um documento intermédio, e a uma segunda sessão no próximo ano: na véspera de uma longa intersessão na qual o Sínodo não está nem dissolvido nem reunido, não é possível tirar conclusões, mas certamente listar algumas questões.

Sínodo se cercou de um segredo paradoxal. Das conversas papais feitas de improviso com os jesuítas de todos os lugares, conhecemos cada suspiro: da maior assembleia cristã desde o Vaticano II nada. A proibição de comunicação foi imposta por Francisco com a pia fraus que nos sínodos sobre a família e sobre a Amazônia foram os jornalistas que ditaram a agenda da comunhão de pessoas divorciadas e sobre os padres casados (que haviam sido admitidos por Bento XVI, mas apenas se ex anglicanos). Resultado: houve comunicação, mas disse urbi et orbi que a Igreja Católica fez uma escolha autorreferencial, numa murmuração global realizada justamente no mesmo momento que uma inundação de sangue banhava a terra de Israel e de Gaza, acrescentando um capítulo chave à terceira guerra mundial em episódios.

No discurso mais importante do seu pontificado – porque a conciliaridade é o conteúdo mais importante do pontificado - Francisco limitou-se a dizer que o sínodo não é um parlamento e é feito pelo Espírito. Princípio sacrossanto: o Sínodo não é “representação” de uma audiência, mas "representação" da Igreja universal e recebe autoridade imediatamente de Cristo, para intuir partes de verdade cristalizadas pelo desuso e redescobertas na medida em que à luz da história “amadurece” a compreensão do Evangelho (o “maturetur” da Dei Verbum 12); e a ação do Espírito é demonstrada não pela adoção de uma comportada etiqueta eclesiástica, mas pela capacidade de falar às vidas concretas da fé concreta. No entanto, nada resultou daqueles princípios: ou pelo menos nada que deixasse claro que a diferença entre um bispo e um Luca Casarini não vem de uma lógica de casta, mas pelo fato de que a consagração episcopal torna o bispo voz da communio ecclesiarum, sem a qual a policromia das Igrejas se torna federalismo de estranhos.

A preocupação do Papa em não submeter ao Sínodo documentos já prontos (como acontecia nos sínodos de Paulo VI a Bento XVI) levou a secretaria a uma obsessão “metodológica”. Os otimistas dizem que isso evitou o conflito que era esperado, especialmente em temas geralmente mantidos sob os panos. Os pessimistas dizem que ele adiou. Os realistas dizem que não tendo que discutir, foi posto de lado o problema dos problemas que é a proximidade entre bispos e teólogos: é graças a isso que funcionaram as grandes reuniões conciliares da Igreja com a história, como o Vaticano II e o Tridentino, durante o qual os bispos tinham que assistir à discussão dos teólogos antes de tomar a palavra e votar.

O sistema de mesas temáticas em que cada um diz o que pensa e depois o que entendeu dos outros, silenciou os saberes (exegéticos, históricos, canônicos); sedou, portanto, a fobia romana pelos bispos de fora da Itália; e silenciou o desajeitado partido dos dubia, que gostariam de reprovar o Papa no exame de catolicismo. Mas também garantiu que as intervenções na plenária de três minutos pudessem produzir uma torrente de pensamentos fragmentados: um longo tik-tok ‘igrejístco’, em cujo fluxo ninguém entende para onde se esteja indo ou para onde de deva ir.

Christoph Theobald, o teólogo de mais alto nível no Sínodo, descreveu isso em um livro que está sendo publicado, como “um novo concílio que não diz o seu nome” (ou seja, não se define como concílio). Mas que estejamos assistindo a um Vaticano III em pequena escala, capaz de curar as muitas feridas que a Igreja conheceu e se infligiu durante os últimos três pontificados, não é certo. O Sínodo, de fato, é o instrumento com o qual a comunhão expressa no ato litúrgico produz decisões com as quais a Igreja confessa que “não é o evangelho que muda, mas nós que estamos começando a entendê-lo melhor” (Roncalli). Mas até agora a única decisão tomada foi adiar tudo para 2024 sem dizer nada sobre o intercessão, que é o momento crucial.

Portanto, para evitar que 2024 delibere sobre o nada ou precipite posições que devolveriam à Suprema Autoridade a tarefa de dizer se uma orientação é “ideológica” (quando algo não lhe agrada, assim diz Francisco) ou não, é preciso entender que o Sínodo se prolonga durante a intersessão e requer muita reflexão, muita sabedoria e muita confiança.

Não é um problema novo: foi assim entre o primeiro e o segundo períodos do Vaticano II, quando funcionou uma comissão de coordenação e quando Paulo VI escolheu quatro “moderadores” com poderes para dirigir a discussão, abrir sessões de votação, submeter questões, de forma a evitar que o debate se enrolasse sobre si mesmo; repensar tais instrumentos para a intersessão sinodal talvez poderia ser a única maneira de evitar que a Igreja apareça, no piedoso silêncio em que terminou o Sínodo, ocupada apenas com os seus próprios assuntos, enquanto o mundo arde à espera da Palavra que salva.

Fonte: IHU

 

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