Roteiros Pastorais Homilética
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03/06/2020 Antônio Carlos Santini Edição 3924 Solenidade do Sagrado Coração de Jesus – 19/06/2020
F/ Escultura de Roberto Guimarães
"Venham a mim... e Eu lhes darei descanso. (Mt 11,28)"

Solenidade do Sagrado Coração de Jesus – 19/06/2020

Leituras: Dt 7,6-11; 1Jo 4,7-16; Mt 11,25-30

 

  1. Um mistério de amor. A primeira leitura, extraída da Primeira Aliança, que ainda não conhece o mistério da Trindade de Deus, já sabe, no entanto, pela aliança concluída com o Deus de Israel, que existe em Deus um mistério insondável. São afastadas todas as razões logicas, pelas quais justamente Israel deveria ter sido escolhido, a tal ponto que, como razão dominante, nessa condescendência e nessa eleição, Deus permanece unicamente amor.

Certamente, lembramos que Deus assim permanece fiel a seu juramento feito aos pais, mas assim a eleição de amor é somente recolocada no tempo daqueles pais, quando, no fundo, Deus tinha ainda menos motivos para privilegiar de maneira tão única alguns homens os patriarcas.

Ao contemplar esse amor sem razão de Deus, Israel pôde formular o “primeiro mandamento”, a resposta de um amor incondicional do povo a Deus.

 

  1. O Amor crucificado. Contemplando o amor do Deus trinitário, revelado em Jesus Cristo, provado por sua Paixão, João pode, na segunda leitura, designar Deus simplesmente como “o amor”. Ele é de fato a testemunha privilegiada que viu, ao pé da cruz, o traspassamento do coração de Jesus, e o atestou de maneira tríplice, solene.

Em sua epístola, ele repete ainda uma vez o acontecimento no qual ele leu a firmação de que Deus é amor: “Nós temos contemplado e atestamos”, diz ele na qualidade de testemunha ocular, que a seguir pode dizer com toda a comunidade: “E quanto a nós, nós reconhecemos o amor que Deus tem por nós”.

Na festa do Sagrado Coração, nós celebramos a prova extrema e decisiva de que o Deus trinitário não é outra coisa, a não ser amor – em um sentido absoluto e inconcebível que nos ultrapassa infinitamente.

 

  1. A chaga de amor. O Evangelho chama Jesus de “humilde de coração”, em um grande contexto trinitário: a afirmação de que o conhecimento recíproco do Pai e do Filho só é acessível àqueles a quem o Filho o revela. E são justamente os “pequeninos” ou, no sentido de Jesus, os “humildes”, aqueles que já estão aparentados com as disposições do Filho.

Tais disposições, ele não as possui somente depois de sua encarnação, mas ele as tem na qualidade de “Filho”. Logo, desde toda a eternidade: sua atitude para com o Pai, enquanto origem da Divindade, que ele chama de “maior” que ele mesmo, sua atitude de perfeita disponibilidade não é mais que a resposta à atitude do Pai, que nada esconde a seu Filho, mas, ao contrário, lhe concede e lhe revela até o fundo tudo o que Deus tem e é.

É como se a “chaga do lado” mais original, de onde escorre aquilo que é extremo, fosse a chaga de amor do Pai, que deixa correr o extremo do que ele é. Quando o Filho encarnado convida para irem até ele os que estão pesadamente sobrecarregados, para aliviar seus fardos, ele é no mundo a perfeita imagem do Pai: seu Espírito é o mesmo.

Não devemos desconhecer que, para nós, o mistério trinitário de Deus só se revela através do dom perfeito de Jesus.

A festa do Santíssimo Sacramento, assim como a do Sagrado Coração, são as últimas concretizações da maneira como o Deus trinitário se revela a nós. O pai doa o Filho na eucaristia produzida pelo Espírito; o coração do Filho, traspassado, abre o acesso ao coração do Pai, e o Espírito dos dois jorra da chaga para o mundo.

(Comentário de Hans Urs von Balthasar.)

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