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22/12/2019 Frei Carlos Mesters - OCD Edição 3918 Um resumo do conteúdo da Boa Nova do Reino 1/2 Palavra de Deus
F/ Falco / Pixabay
"Jesus quer que todos descubram a Boa Nova do Reino"

 

Jesus é a fonte e o modelo da ação evangelizadora dos cristãos. Como tal ele nos é apresentado nos Evangelhos. Os Evangelhos descrevem como Jesus, após trinta anos de convivência e de trabalho em Nazaré, anunciou a Boa Nova de Deus ao povo do seu tempo. Qual foi a prática que Jesus adotou para realizar sua missão evangelizadora? Qual foi o conteúdo? Qual a finalidade? Qual a fonte da Boa Nova do Reino? No que segue, queremos responder a estas quatro perguntas.

O Evangelho de Marcos oferece o seguinte resumo do conteúdo da Boa Nova de Jesus: “Depois que João foi preso, veio Jesus para a Galiléia proclamando o Evangelho de Deus! Esgotou-se o prazo, o Reino de Deus chegou! Mudem de vida e acreditem na Boa Nova” (Mc 1,14-15).

 

  1. “Esgotou-se o prazo”

Jesus lê os fatos com olhos novos, nascidos de Deus

Para Jesus, a prisão de João Batista fez o prazo se esgotar. Fez o kairós de Deus chegar! Isso mostra que Jesus ficava atento aos fatos e aos tempos e os analisava com olhos diferentes. Por isso conseguiu perceber neles a ação de Deus. Esta mesma atitude diante dos fatos verifica-se em várias outras ocasiões. Por exemplo, ele interpela os apóstolos: “Vocês dizem que faltam quatro dias para a colheita. Mas eu digo, levantem os olhos e vejam os campos. Eles estão brancos para a colheita!” (Jo 4,35). E aos fariseus e saduceus ele responde: “Ao pôr-do-sol vocês dizem: ‘Vai fazer bom tempo, porque o céu está vermelho’. E de manhã: ‘ hoje vai chover, porque o céu está vermelho-escuro’. Olhando o céu, vocês sabem prever o tempo, mas não são capazes de interpretar os sinais dos tempos” (Mt 16,2-3; cf Mt 24,32; Lc 12,54-56). A leitura diferente dos fatos ajudou Jesus a perceber a chegada do Reino.

 

Jesus ajuda o povo a ler os fatos com olhos novos

Jesus quer que todos descubram a Boa Nova do Reino. Por isso, percorre o país e convoca o povo. Ele envia doze discípulos (Mt 10,1; Lc 9,1). Mais tarde, envia outros setenta e dois (Lc 10,1). Todos devem levar o mesmo anúncio: “O Reino de Deus chegou!” (Lc 1,9; Mt 10,7). Pois a colheita é grande, os operários são poucos e o tempo urge (Mt 9,35-38). Jesus ajuda o povo a ler os fatos com os mesmo olhos diferentes: faz refletir a partir do que acontece (Lc 13,1-5); manda estar atento, pois ninguém sabe quando chega hora (Mt 24,42); ajuda o povo para não ser enganado (Mt 24,4.11.26); critica interpretações erradas (Jo 9,2-3).

Através das parábolas procura levar o povo a ter um olhar crítico sobre a realidade do país e sobre a sua prática religiosa. Por exemplo, as parábolas do fariseu e do publicano (Lc 18,9-41), dos dois filhos (Mt 21,28-32), do bom samaritano (Lc 10,29-37). Deste modo, Jesus ajuda o povo a discernir, entro dos fatos, os sinais do reine de Deus que vem chegando. Nem todos aceitam a interpretação que Jesus faz dos fatos. Os fariseus e os saduceus não sabem ler os sinais dos tempos e o combatem (Mt 16,1-4). Jerusalém e as cidades da Galiléia se fecham (Lc 13,34-35; 10,13-15; 19,42). Os pobres, porém, e os discípulos reconhecem e aceitam a mensagem (Mt 11,25; 13,11).

 

  1. “O Reino de Deus chegou”

A novidade que causa admiração

Naquele tempo, todos esperavam a vinda do Reino de Deus, mas cada um a seu modo. Para os fariseus, o Reino viria quando a observância da Lei de Deus fosse perfeita; para os essênios, quando o país fosse purificado. O povo, orientado pelos escribas e pelos fariseus, esperava a vinda de um messias glorioso. Jesus, porém, já não esperava pela vinda do Reino de Deus. Para ele, o Reino já estava chegando! Esta era a novidade! Qual a análise que Jesus fez para chegar a esta conclusão? Onde estava o Reino de que ele falava? Pois a observância da Lei de Deus ainda não eram perfeita; o país ainda não estava purificado. E não havia nada de glorioso para se poder concluir: “Este é o Reino!”. Por isso, os fariseus o questionaram: “Queremos ver um sinal feito por ti!” (MT 12,38; Mc 8,11). Quais os sinais? (Lc 17,20).

Jesus não dá nenhum, sinal nem prova (Mt 12,39-40). Para os outros, a chegada do Reino dependia do esforço que eles mesmos teriam de fazer. Dependia da observância da Lei de Deus, da purificação da terra, ou da luta. Jesus dizia o contrário: “O Reino de Deus não vem como fruto da observância, mas ele já está no meio de vocês!” (Lc 17,20-21). Independentemente do esforce feito. O Reino já tinha chegado! A sua chegada não dependia do esforço humano, mas era pura gratuidade. Esta era uma maneira radicalmente nova de encara a vinda do Reino.

Jesus não diz em que consiste o Reino. Diz apenas que o Reino já chegou. Se já chegou, então o Reino devia estar presente e visível nas coisas que Jesus andava fazendo e dizendo: “Vão dizer a João o que estão vendo e ouvindo: cegos vêem, coxos andam, leprosos são limpos, surdos ouvem, mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados” (Mt 11,5-6). “Se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou até vocês!” (Lc 11,20).

 

Uma nova leitura da Escritura

Para ajudar o povo a perceber a presença do Reino nele mesmo e nos fatos, Jesus usava a Bíblia e a interpretava de maneira nova. A experiência que ele tinha e Deus lhe dava olhos novos pra entender melhor a ação de Deus no passado e era nele uma luz para iluminar o sentido da Escritura. Assim, iluminada pela Bíblia, a Boa Noiva do Reino aparecia aos olhos dói povo não como bastarda e impostora, vinda de fora, mas como filha nascida em casa, como fiel à Tradição, como realização da Promessa. O Antigo Testamento ajudava o povo a perceber como o Reino de Deus estava se realizando dentro dos fatos da vida de Jesus e da Sua própria vida. Jesus realizava Promessa. Por isso, o povo se reconhecia nele e encontrava nele a Boa Nova de Deus!

 

Os sinais do Reino presentes na vida

O Reino que estava chegando era tudo aquilo que encontrou em movimento com a chegada e o anúncio de Jesus. Era a própria história progredindo. “O Reino está no meio de vocês!” Mas não era fácil definir claramente o que vinha a ser o Reino presente no meio do povo. O Reino era algo que a pessoa experimentava quando estava em contato com a pessoa de Jesus e com a comunidade por ele criada. Para ajudar o povo a entender esta misteriosa presença do Reino dentro dos fatos da vida, Jesus usava as parábolas. São muitas: semente, campo, pérola, joio e trigo, grão de mostarda, rede, pesca, fermento, sal, tesouro, dracma perdida, devedor implacável, trabalhadores da vinha, casamento do filho do rei, as dez virgens, bom samaritano, juiz iníquo, filho pródigo, ovelha perdida etc. “Quem tem ouvidos para ouvir ouça!” (Mt 13,9) as parábolas provocam o povo para ir descobrindo as coisas de Deus a partir da sua própria experiência de vida.

Os pobres entendem esta linguagem (Mt 11,25), pois o Reino enunciado por Jesus é delas (Mt 5,3-10). É para eles (Lc 4,18). Os outros, porém, os de fora, eles ouvem, mas não entendem (Mc 4,11,12). Muitas vezes, nas discussões com os fariseus, Jesus tentou corrigir a visão que eles tinha,m de Deus, da lei e da história. Mas não conseguiu. Eles não se abriram e se agarravam à antiga leitura que faziam do Antigo Testamento. Não permitiam o novo entrar.

 

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