Destaques Igreja Hoje
Compartilhe esta notícia:
22/02/2023 Luis Miguel Modino - CELAM Edição 3956 Único sujeito ativo e fundamental de toda a ação e missão da Igreja Igreja do Caribe inicia Encontro Sinodal como Povo de Deus,
F/ L M Modino
"A segunda das quatro assembleias da fase continental do Sínodo 2021-2024 na América Latina e no Caribe começou neste 20 de fevereiro. Cerca de 50 representantes das Conferências Episcopais da Região das Caribe estão reunidos em Santo Domingo até 24 de fevereiro, trazendo consigo as reflexões e o discernimento de cada Conferência Episcopal, e assim, em conjunto, modelando sinodalmente o futuro da Igreja em cada região, no continente e no mundo."

Em nome da Conferência Episcopal Dominicana, Dom Santiago Rodríguez, presidente do Instituto Nacional de Pastoral, deu as boas-vindas aos participantes, recordando importantes momentos históricos na Igreja Dominicana, bem como a importância dos títulos marianos para o povo dominicano. Um processo sinodal que o Bispo de San Pedro de Macorís vê como uma oportunidade para "grandes emoções e experiências, adquirindo novos impulsos, conhecimentos, métodos e expressões para responder aos grandes desafios da missão evangelizadora do Povo Santo de Deus".

O prelado recordou a importância da Assembleia Eclesial da América Latina, onde "percebemos a importância de ser uma Igreja em saída, que escuta, que acolhe, e a importância de caminharmos juntos para uma Igreja sinodal em comunhão, participação e missão". Um caminho vivido no amor, na experiência comum da fé, que "deve irradiar aqueles laços que nos unem como Igreja, uma comunidade cristã que partilha com um coração e um espírito", uma unidade que se realiza na diversidade dos membros e que têm a perspectiva de formar uma comunidade, um objetivo que o Papa Francisco quer alcançar com o apelo a ser uma Igreja sinodal.

Dom Faustino Burgos Brisman recordou a história da Catedral Primaz da América, onde teve lugar a abertura do encontro. Em nome do arcebispo de Santo Domingo, o bispo auxiliar e secretário do episcopado dominicano deu as boas-vindas aos participantes, pedindo um momento frutuoso.

Em nome da Vida Religiosa, José Luis Jiménez Portes, disse ver neste encontro uma oportunidade de ligação "ao processo de evangelização e conversão que nós, como Igreja latino-americana, temos vindo a atravessar há mais de 500 anos". Um momento com o qual "o Povo de Deus em peregrinação nestas terras quer avançar por este caminho de sinodalidade, recriando a Igreja que, sendo o Povo de Deus, Corpo de Cristo e Templo do Espírito Santo, comunica a toda a humanidade a vida e a beleza que é o Evangelho".

O presidente da Vida Religiosa no país destacou "a riqueza da escuta, o impulso para continuar a acompanhar este povo que sofre, que luta, que sonha e que encarna o apelo à evangelização através da construção da comunidade e da Igreja". A par disto, a importância da fase consultiva, que dentro do processo sinodal, "nos permitiu nomear os nossos pontos fortes e fracos, as nossas oportunidades e ameaças, ajudou-nos a identificar os sinais dos tempos que hoje nos desafiam com maior urgência", mas que também nos levou a caminhar juntos e "procurar a melhor resposta para todos estes desafios". Um caminho que resumiu em 5 palavras: escutar, trabalhar em conjunto, responder ao presente, criar estruturas dinâmicas e funcionais, e celebrar e dar o dom da fé. 

Dom Miguel Cabrejos começou por destacar a importância da categoria Povo de Deus, introduzida com o Concílio Vaticano II, na qual o Papa Francisco tanto insiste, e que "nos permite afirmar a igualdade de todos os fiéis na dignidade da existência cristã e a desigualdade orgânica ou funcional dos membros". É uma eclesiologia que nasce da "dignidade batismal como critério estruturante para a configuração da identidade de todos os sujeitos eclesiais", insistiu o presidente do Conselho Episcopal da América Latina e do Caribe (Celam), que colocou as subjetividades eclesiais na base da dignidade batismal partilhada e da participação de todos no sacerdócio comum.

O mais importante é o Povo de Deus

Daqui surge a abordagem do Vaticano II sobre "uma nova hermenêutica inspirada na lógica do todo", com três sujeitos eclesiais entre os quais o mais importante é o Povo de Deus, pois exprime a totalidade e constitui "o único sujeito ativo e fundamental de toda a ação e missão da Igreja", o que supõe "uma nova compreensão da forma como as identidades dos sujeitos eclesiais são configuradas", em que a Igreja é vista com base no Batismo e não na hierarquia, segundo Dom Miguel Cabrejos, que defendeu os encontros eclesiais e não apenas episcopais.

No que diz respeito ao discernimento comunitário, que é muito importante compreender, "reconhece o Povo de Deus como sujeitos de discernimento", insistiu o prelado, inspirado pela Lumen Gentium. Todos são chamados a escutar atentamente e a discernir em vista do diálogo e do discernimento, o que requer uma escuta mútua que nos motiva "a afastarmo-nos do eu isolado com as suas ideias e conceitos preferidos em direção à comunhão no nós", como diz o Documento de Aparecida e retoma Evangelii Gaudium.

Seguindo o que foi dito na Gaudium et Spes, o prelado peruano insistiu que "ouvir os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho é um dever para a Igreja". A escuta é inerente à Igreja e o discernimento é uma atitude e um desafio. A partir daí, ele apelou ao escrutínio dos sinais dos tempos e ao seu discernimento à luz do Evangelho como um desafio para a Igreja de hoje. Isto "requer uma grande abertura interior ao Espírito de Deus, que sopra onde quer e quando quer", e que está a trabalhar "na história do nosso mundo ferido, renovando a face da terra e trazendo nova vida em situações de morte".

Dom Cabrejos afirmou que "através de uma leitura crente e perspicaz dos sinais dos tempos, com a graça de Deus, podemos permitir, no meio de realidades duras e desafiadoras, fatos positivos, cheios de significado e humanidade". Para o presidente do Celam, "eles são sinais, cheios de esperança, e comunicam-nos a presença ativa do Espírito, encorajam-nos no nosso compromisso comunitário para com o Reino de Deus".

Ao mesmo tempo, o presidente do episcopado peruano salientou a importância de "olhar com olhos de fé e coração perspicaz para uma realidade profundamente marcada por injustiças, divisões e descartes desumanos", como um elemento que "nos leva a tomar consciência do potencial transformador da presença de Deus, que também nestas situações profundamente chocantes e dolorosas, promete e promove a vida plena". Estes são sinais em que "Deus fala ao nosso coração" e que nos levam a refletir sobre a relação do ser humano com Deus, com o nosso próximo e com toda a Criação.

Nas palavras do presidente do Celam, "o discernimento comunitário dos sinais dos tempos é também uma importante expressão da corresponsabilidade de todos os membros do Povo de Deus na Igreja e da sua missão no mundo de hoje", algo que apareceu na escuta da Assembleia Eclesial e no atual processo sinodal, que está presente no sensus fidei e leva a descobrir o que realmente vem de Deus. Um discernimento comunitário, presente nos Atos dos Apóstolos, ao qual a Igreja é chamada a regressar, como foi indicado no recente encontro com as igrejas da América Central e do México.

Neste sentido, Dom Miguel Cabrejos salientou que "a prática do discernimento comunitário é essencial para crescer em sinodalidade e para caminhar realmente juntos na nossa Igreja", algo que será levado a cabo durante o encontro, e para isso apontou a necessidade de "aprender a arte do discernimento comunitário, a fim de avançar no caminho de uma Igreja participativa e corresponsável". Isto com a contribuição de todos os membros da Igreja e numa dinâmica em que "o transbordamento do amor criativo do Espírito nos impele a ser uma Igreja sinodal que, como tal, não deve preocupar-se com a sua própria autopreservação, mas ser capaz de sair para proclamar o Evangelho".

Comunhão, Participação e Missão

A sinodalidade, algo que Dom Cabrejos descreveu como emocionante, porque é o caminho da Igreja no século XXI, "não é um conceito a ser estudado, mas uma vida a ser vivida", porque a única maneira de compreender a sinodalidade é vivê-la. Um processo que ninguém sabe como terminará, o que exige "permanecer aberto ao Espírito para nos conduzir no processo de escuta, discernimento e caminhar juntos em direção ao Reino de Deus". A partir daí, salientou a importância de "contextualizar a questão da sinodalidade a todos os níveis", salientando que "em cada nível, a sinodalidade deve ser adaptada a um contexto específico, desde que seja colocada no contexto da Comunhão, Participação e Missão".

Isto é vivido a nível continental, porque permitirá "enriquecer a sua própria identidade como Igreja, contextualizar a sinodalidade dentro da Igreja e tornar a sinodalidade uma realidade verdadeiramente autêntica na vida quotidiana da sua Igreja". A partir daí apelou a ver esta etapa continental e os diferentes encontros como uma oportunidade para fazer "ouvir a voz da América Latina e do Caribe no mundo como um Continente", que será reunida na síntese continental, e para ouvir "a sua própria voz no seu próprio solo sobre o que quer para si".

Um caminho conjunto em que a alma é o Espírito, que forja corações e nos ensina a viver em comunidade, respeitando a diversidade sem quebrar a unidade. Um encontro que começou na mesma Catedral onde o Papa João Paulo II presidiu à Eucaristia com a qual foi aberta em 1992 a IV Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, que insistiu na conversão, no compromisso de aprofundar a luta pela justiça e pelos direitos humanos, e acima de tudo na missão.

Um encontro inspirado na figura de Frei Antônio de Montesinos e no seu grito profético que "promoveu e protegeu a liberdade dos mais desprotegidos", como recordou a Irmã Daniela Cannavina. Montesinos chegou em 1510 ao local onde se realiza este encontro como parte de "uma comunidade pobre, que quis anunciar a Palavra a partir de um contexto de inserção na realidade", de acordo com a secretária-geral da CLAR. Algo que teve lugar entre aqueles que sofreram exploração, maus-tratos, onde o sangue de muitos inocentes correu, algo que permanece até hoje.

Ler os fatos, examinar a realidade a partir do Evangelho

Uma comunidade que "lê os fatos, examina a realidade, ilumina-a à luz do Evangelho, a opressão desumana sofrida pelo povo indígena daquela época faz flutuar um grito e atravessa todo o tempo, o grito de Frei Antônio de Montesinos", segundo a Irmã Daniela. A religiosa destacou o discurso de alguém que mostrou que os indígenas tinham alma, coração, sentimento, o que teve um grande impacto, deixando algumas pessoas fora dos seus sentidos, movidas de compaixão, mas que também deixou outros notáveis indignados e exigiu uma retratação pública.

O grito de Montesinos foi o primeiro grito libertário na América Latina, mas não foi o único, como recorda o Documento de Puebla, recordando aqueles que defenderam os povos indígenas contra os conquistadores, exemplos que mostram como a Igreja promove a dignidade e a liberdade dos homens e mulheres latino-americanos. Uma realidade que se repete após mais de 500 anos, que mostra que "os nossos povos da América Latina e do Caribe são recheados por gritos proféticos que foram silenciados, mas continuam a partir dos diferentes pontos cardeais, continuam a dizer-nos que a vida deve ser dada, nunca deve ser retida", insistiu a religiosa, que apelou a uma mudança de direção e interrogou os presentes com diferentes perguntas, convidando-os a responder à luz do Espírito.

Compartilhe esta notícia:
Nome:
E-mail:
E-mail do amigo:
DEIXE UM COMENTÁRIO
TAGS
ÚLTIMAS NOTÍCIAS