Mais uma vez a Igreja do Brasil nos convoca para colocar em prática a fraternidade deixando-nos moldar pelo modo de ser e de agir de Jesus, o bom samaritano de toda a história cristã.

Vivemos tempos que alguns chamam de “sombrios”, fala-se do fim ou até da morte das “grandes utopias” que moviam as mentes, os corações e inspiravam uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária para todos. Os ares pós-modernos parecem insuflar o mundo, o universo para dentro do sujeito e o torna anestesiado para as dores, os sofrimentos e as necessidades dos outros, o faz insensível também diante dos demais seres e da natureza, e mais, desperta atitudes próprias dos tempos da barbárie: “Olho por olho, dente por dente!”

Pior ainda é que a religião, as igrejas, que sempre anunciam (ou deveriam anunciar) a Boa Nova do Reino que é justiça, verdade, fraternidade, vida para todos, por causa de uma visão fechada, fundamentalista, discriminatória, passam a ser usadas para justificar atitudes diretamente contrárias ao espírito religioso e verdadeiramente evangélico. Sob uma nuvem de preceitos religiosos, de pretensa defesa da fé e da tradição, apoiam-se ações violentas por parte de seus integrantes; espalham-se mentiras pelas redes sociais (fake news), calúnia, difamação, divisão, verdadeira corrupção do que é genuinamente cristão.

Neste sentido, não é exagero afirmar que há muitos católicos e evangélicos, devotos da igreja e da bíblia, mas pouco cristãos, pois não traduzem em suas vidas as atitudes samaritanas de Jesus: ver, sentir compaixão, cuidar (cf. Lc 10,33-34). Apostam mais na violência que no amor. E ainda caluniam, difamam e se opõem a quem assume esta atitude samaritana. Não é de se estranhar a oposição acirrada da parte de muitos, ao Papa Francisco que se faz samaritano e orienta a Igreja para uma vida samaritana e misericordiosa.

A vida, dom de Deus, é um presente e uma tarefa, é um dom e um compromisso. Se somos filhos de Deus, devemos assumir a missão de cuidar e preservar a vida humana e a vida no planeta. Este é o sonho de Deus que aparece no livro do Gênesis (Gn 2,15). Esse é o projeto de vida defendido por Jesus no anúncio do Reino (cf. Jo 10,10). Ao sermos chamados à vida, recebemos a missão de defendê-la e de zelar pela sua preservação e do cuidado com a natureza, que nos garante a vida e tudo o que é necessário ao nosso sustento e bem-estar. Somos chamados a nos redescobrir como irmãos uns do outros e irmãos de toda a Criação. São Francisco foi quem melhor intuiu e vivenciou essa fraternidade. Não é sem motivo que ela goza de tanto reconhecimento em todo o mundo e admiração até daqueles que não são cristãos. A fraternidade é universal, não tem fronteiras. Ela verdadeiramente é caminho de vida e de salvação.

E quando vir alguém pouco fraterno e contra as atitudes fraternas, contra a fraternidade, pode saber que nesta pessoa falta a presença de Deus. Onde o Espírito se faz presente logo se reconhecem os seus frutos: amor, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, fé, mansidão, domínio de si... (Gl 5,23-24). Por isso, quem tem se colocado contra a Campanha da Fraternidade promovida pela Igreja do Brasil, espalhando fake news a esse respeito, está fazendo resistência, opondo-se a um projeto de vida para todos, está entristecendo o Espírito de Deus... (cf. Ef 4, 30-32). Quem é de Deus se faz fraterno e busca a fraternidade.

Neste período quaresmal, abra-se à graça de Deus, contemple as atitudes do bom samaritano. Deixe-se guiar pelo sopro do Espírito que nos leva à fraternidade, que nos faz ver os que estão caídos e necessitados; faz-nos sentir compaixão, sentir dentro de nós a dor do outro; faz-nos ter atitudes de cuidado e de preservação da vida humana e da vida do planeta. Decididamente, Vida é dom e compromisso.