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O papado, um corpo estranho na tradição de Jesus

Por Eduardo Hoornaert

Título sugerido: “O Papado à Luz da Fraternidade Evangélica”

No artigo, o historiador Eduardo Hoornaert propõe um olhar crítico sobre o papado, não a partir das figuras dos papas, mas da instituição em si — a Sedes Apostolica — e de sua relação com o espírito original do Evangelho. Ele argumenta que o papado representa uma inserção do princípio dinástico — típico de sociedades hierarquizadas desde o neolítico — dentro de uma proposta de fraternidade radical trazida por Jesus de Nazaré.

Hoornaert inicia mostrando que, nos Evangelhos, Jesus rejeita expressamente qualquer modelo de liderança autoritária. A comunidade cristã deveria ser fraterna, onde o maior é o servidor. Nos primeiros anos do cristianismo, essa fraternidade ainda era perceptível, como nas cartas de Paulo.

Entre vocês poucos sábios,
Poucos poderosos, poucos nobres.
Pelo contrário, o que é louco no mundo,
Deus o escolheu para dar vergonha aos sábios;
O que há de fraco no mundo,
Deus o escolheu para dar vergonha à força,
o que há de mais ‘comum’ no mundo,
o que todos desprezam,
Deus escolheu o que não é nada
E deixou de lado o que pretende ‘ser’ (1Cor 1, 26-29).

Contudo, já por volta do ano 150, com o Pastor de Hermas, percebe-se uma mudança: surgem disputas por cargos e prestígio dentro das comunidades, sinal de que o espírito fraterno estava sendo substituído por estruturas de poder.

Um marco importante dessa transformação é a ascensão do clero celibatário, que, ao impedir heranças familiares, se consolida como elite dirigente. Isso marca o nascimento do clericalismo como estrutura de poder, deslocando o foco da fraternidade evangélica para o controle moral e corporal, especialmente via celibato.

A seguir, o autor analisa os conflitos entre bispos das grandes cidades do Império (como Alexandria, Antioquia, Constantinopla e Roma), mostrando que a alegação de “sucessão apostólica” foi usada como recurso ideológico para justificar a primazia e disputar poder. Roma, em especial, invocou a figura de Pedro para fundamentar seu “primado”, baseando-se sobretudo em um único texto de Mateus (16,17-20), cuja interpretação literal é questionável. Hoornaert ressalta que a construção do papado petrino é tardia e marcada por disputas políticas, como a elaborada por Eusébio de Cesareia, bispo e historiador do século IV, cuja narrativa busca legitimar a centralidade de Roma em detrimento de outras sedes.

Ao final, Hoornaert nos convida a refletir: o papado, tal como se consolidou, está em desacordo com a proposta de uma fraternidade radical e igualitária presente na origem do cristianismo. Para ele, essa instituição histórica deve ser vista com senso crítico, especialmente por aqueles comprometidos com a fidelidade ao espírito do Evangelho.

"Uma história que, embora sendo ‘de longa duração’ (Fernand Braudel), tem início e fim, nascimento e morte. Pois, como diz a canção: tudo passa, tudo passará; e nada fica, nada ficará."

Texto completo em IHU

 

 

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