A imagem da canga usada no carro de bois ou no arado, realidades do meio rural, é o símbolo da escravidão. Quando Júlio César venceu os gauleses, pendurou um jugo em dois postes, a pouca altura, e fez com que os vencidos passassem em fila, sob a canga, diante do trono improvisado do general vencedor. Isto é “sub-jugar”. Lembrar que as tribos vencidas passavam à condição de servidão.
Claro, ninguém tem liberdade sem limites. Obedecemos às leis, normas, preceitos e até a “conveniências” sociais, como os ditames da moda e as regras de polidez. Quando Yahweh fez aliança com seu povo, deu-lhe uma Lei a ser cumprida: as Dez Palavras do Sinai. Não podemos ignorar que a Lei é dada a um povo que o próprio Senhor libertara da escravidão do Egito: “Eu sou Yahweh teu Deus, aquele que te fez sair da terra do Egito, da casa da escravidão”. (Dt 5,6)
Uma vez libertado, a vida do povo dependia da obediência aos estatutos divinos (cf. Dt 30, 19-20), a rebeldia seria sua perdição. Mas esse povo, alvo de tantos privilégios, não queria oferecer o pescoço ao jugo da lei, era um povo “de dura cerviz” (cf. Dt 31,27; Ne 9,29), isto é, recusava-se a dobrar a coluna cervical, o ponto exato onde se coloca a canga dos bois.
Em suas cartas, São Paulo vai lembrar que a Lei fria do Sinai representou um jugo para Israel. A Boa Nova de Jesus Cristo era uma inesperada libertação: “De fato, pela Lei eu morri para a Lei, a fim de viver para Deus. [...] Se é pela Lei que vem a justiça, então Cristo morreu em vão”. (Gl 2,19.21) O cristão proveniente do judaísmo estava livre de uma Lei que fora sempre um jugo pesado demais para ser carregado apenas com esforço pessoal (cf. At 15,10). O jugo quebrado é sinal de libertação (cf. Jr 30,8).
No Evangelho, Jesus faz um convite que pode parecer estranho. Ele se dirige aos cansados sob o peso de seu fardo: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas, pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. (Mt 11,29-30)
Quando Jesus diz “meu jugo”, deixa claro que ele é obediente ao Pai, abre mão de sua vontade própria (cf. Lc 22,42) e se deixa guiar. O discípulo que aceita o jugo da obediência à voz de Deus poderá contar com a presença de Jesus a seu lado, pois um jugo é sempre carregado a dois.
Alguns textos bíblicos: Gn 27,40; Ex 19,20,1-17; Is 9,4; Eclo 51,26; 2Cor 6,14;
(Do livro “Uma voz na nuvem”, Ed. Cultor de Livros, S. Paulo)
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