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27/05/2022 Luis Miguel Modino - Regional Norte 1 Edição 3947 O novo humanismo do Papa Francisco: ser pessoas normais, concretas, simples, com o pé no chão
F/ By L M Modino
"O eco humanismo é o que define o novo humanismo do Papa Francisco, segundo Maurício Abdalla, juntando os direitos dos seres humanos e da natureza. O filósofo vê aí a base da Laudato Si´, se referindo ao grito da Terra e grito dos pobres, que falava Leonardo Boff, integrados num só clamor. "

“O novo humanismo a partir do Papa Francisco”, foi o tema de mais uma live organizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dentro do programa “Igreja no Brasil - Painel” realizada neste 26 de maio, com a presença do padre Manfredo Araújo de Oliveira, de Maurício Abdalla e Moisés Sbardelotto, conduzidos por Dom Joaquim Mol Guimarães.

Uma discussão que tem sido precedida pela lembrança da Conferência de Aparecida, que está completando 15 anos neste mês de maio. Segundo o Bispo Auxiliar de Belo Horizonte, “estamos trazendo o Papa Francisco sob as luzes do Papa Francisco”, algo recolhido num livro que está sendo lançado, onde participam 25 autores renomados, com uma riqueza de reflexão muito grande.

Um farol neste mundo em crise

O presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB refletia sobre um tempo marcado pela presença de um pequeno grupo de bilionários que “condenam milhões de pessoas à pobreza, miséria, à fome, ao estado permanente de fome”, testando assim os Estados de direito, com uma grande influencia das novas tecnologias, que nem sempre aportam elementos positivos. Nessa realidade, o Papa Francisco foi definido por Dom Mol como “uma voz que representa um farol neste mundo em crise, obscurecido por muitas situações que desumanizam o humano”.

O debate partiu da pergunta: “Quais são os pressupostos deste novo humanismo apontado pelo Papa Francisco e como eles se expressam no Magistério do Papa Francisco?”. O padre Manfredo afirmou, citando o Papa Francisco, que o modo de organizar a sociedade, sobretudo a economia, destrói o ser humano, falando sobre a poluição mental gerada por milhões de informações ao mesmo tempo, que dificulta a capacidade de pensar, de uma reflexão profunda.

O novo humanismo do Papa Francisco

O novo humanismo proposto pelo Papa Francisco supera o antropocentrismo próprio do Iluminismo da Modernidade, segundo o professor emérito da Universidade Federal do Ceará. Frente a isso o Papa insiste no valor próprio de cada realidade, “que se radica na sua própria constituição”, algo fundamental para construir um projeto alternativo ao projeto tecnocrático, onde o ser humano é responsável pela Criação, dado que “tudo está entrelaçado com tudo, tudo faz parte de uma grande unidade na imensa diversidade e complexidade dos seres”, superando assim tentações de domínio, conduzindo a uma adequada visão do todo, ao cuidado com a natureza e com os pobres, pois “degradação ambiental e degradação social caminham juntas, como fruto do paradigma moderno”.

O eco humanismo é o que define o novo humanismo do Papa Francisco, segundo Maurício Abdalla, juntando os direitos dos seres humanos e da natureza. O filósofo vê aí a base da Laudato Si´, se referindo ao grito da Terra e grito dos pobres, que falava Leonardo Boff, integrados num só clamor. Abdalla afirmou que esse humanismo é um anticapitalismo, dado seu caráter anti-humano e antinatureza, algo presente nos discursos do Papa Francisco aos movimentos populares. Frente ao capitalismo, a alternativa hoje é a organização a partir da base, segundo o professor de Filosofia da Universidade Federal do Espírito Santo. Uma sociedade marcada pelo lucro, sem importar o que dá esse lucro, tudo vira mercadoria. Diante disso, ressaltou o eco humanismo como um convite a pensar alternativas que ajudem a transformar as atuais estruturas.

“A realidade é mais importante do que a ideia”

Moisés Sbardelotto abordou a questão do testemunho no Papa Francisco, algo que ele não duvida em dizer que faz, “em primeiro lugar o próprio Evangelho” e de suas opções ao longo da sua vida. Como termo humanismo, o Papa questiona o sentido que damos ao humano, segundo o professor da PUC Minas, trazendo à tona a raiz comum que está no humus, algo explícito na Laudato Si, que ele assume ao dizer que “nós mesmos somos terra”. Junto com isso destaca a ideia de comum para entender o humanismo do Papa Francisco, o fato de ser filhos e filhas da mesma terra nos faz irmãos e irmãs. Comum que leva a ser “pessoas normais, pessoas concretas, pessoas simples, com o pé no chão, e por tanto comuns, que saibam, dialogar, conviver, com as suas irmãs e seus irmãos sejam quem forem”.

Sbardelotto define ao Papa Francisco como “muito terráqueo, preocupado com a realidade concreta das pessoas, que vivem hoje no nosso Planeta, e da possibilidade de existência desse Planeta diante de tanta destruição. Ele destaca uma das máximas do pensamento do Papa Francisco: “a realidade é mais importante do que a ideia”, algo que o jornalista relacionava com a espiritualidade, muitas vezes metafísica, esquecendo-nos da realidade. Ele refletiu sobre elementos presentes no Papa Francisco: a Igreja em saída às periferias geográficas e existenciais, onde estão presentes os pobres, os descartados; as viagens internacionais, uma mostra de suas escolhas eclesiais e políticas; seus encontros com os movimentos populares; o Dia Mundial dos Pobres; a ideia da Alegria em seus documentos; uma Igreja samaritana, ao serviço; a Reforma da Cúria...

Caminhamos para um Apocalipse ecológico-social

Respondendo às perguntas dos participantes, o padre Manfredo advertiu que nós estamos caminhando para um Apocalipse ecológico-social, o que está ligado a um sistema económico. Diante disso o Papa Francisco faz uma reflexão ética, querendo responder a  “uma economia material que se desloca”, refletindo sobre as causas estruturais da forma de organizar a vida hoje.

Diante da cultura do descarte, algo intrínseco ao capitalismo, segundo Maurício Abdalla, abordando a questão da Economia de Francisco e Clara, ele disse que “ao colocar o ser humano e a natureza no centro, você tem uma contradição fundamental com os propósitos do sistema capitalista, submetendo a economia ao ser humano e à natureza, e não ao contrário, como é comum no sistema atual”.

Para poder impulsionar o novo humanismo, Moisés Sbardelotto, com as palavras do Papa Francisco, afirmou que a Igreja tem que voltar a sua missão inicial, que é anunciar o Evangelho. Isso significa “testemunhar em palavras e obras essa misericórdia do Pai, especialmente tocando a carne sofredora de Cristo no pobre”. Uma Igreja que não se preocupa consigo mesma, mas que olha para fora, sai pelas estradas, o que é desafiador, incômodo, comprometedor, nos põe em risco. No Brasil, uma Igreja que olha para as periferias, para aqueles que sofrem, especialmente neste período pós pandemia. Uma presença Política, expressão de caridade e amor, que a Igreja experimenta do próprio Deus.

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