Ir. Afonso Murad
Minha catequista de 1ª eucaristia se chamava Iara. Quando comecei a frequentar os encontros de catequese, eu tinha 8 anos de idade, e Iara, uns 18 anos. Recordo-me de sua feição alegre, do sorriso discreto, e da forma como nos recebia, cada semana, com um abraço carinhoso. Não tínhamos aulas, e sim encontros. Ela dispunha as carteiras em círculo, e nos sentíamos como crianças que tinham o que dizer e partilhar. De vez em quando fazíamos festa com refresco e bolo caseiro. Depois eu compreendi o que ela queria: mais do que ensinar doutrinas e fórmulas, a catequese era de fato uma “iniciação cristã”. Levou-me a apaixonar-me por Jesus, desejar ler mais os evangelhos, participar de comunidade-Igreja, receber o corpo e sangue do Senhor na Eucaristia.
Não precisei aprender com ela as orações da Ave-Maria, o Pai-Nosso e o Credo. Pois meu pai e minha mãe rezavam o terço com os filhos todos os dias, nos meses de maio e de outubro. Mas a Salve Rainha, êta oração difícil! Eu não conseguia entender aquelas palavras que me soavam estranhas: “degredados filhos de Eva”, e “vale de lágrimas”. Fui até procurar no dicionário e achei a seguinte explicação: “degradado: pessoa que foi expulsa de seu país por um tempo determinado ou por toda a vida”. E continuei a não compreender porque a gente rezava assim para Nossa Senhora.
Iara me ensinou, e isso eu guardo no coração, que Jesus e Maria não estavam num céu distante da gente. Eles são nossos amigos, que nos amam. Ela lia o Evangelho e comentava as cenas onde Jesus acolhia os pecadores, curava os doentes, tinha dó da multidão, acolhia as crianças. Minha catequista falava também de Maria de Nazaré, a jovem que deu o sim a Deus. É a mãe de Jesus, nossa irmã na fé e nossa mãe. A catequista cantava conosco: “Salve Maria, tu és a estrela virginal de Nazaré. És a mais bela entre as mulheres, cheia de graça, esposa de José”. Iara falava sobre a coragem de Maria, a mulher que ficou ao pé da cruz com outras companheiras, quando os outros haviam abandonado Jesus.
Agradeço a Deus pela minha catequista, que me ensinou tanto, com palavras e gestos. Ela me levou a descobrir aquilo que eu diria mais tarde: “Maria é toda de Deus e tão humana! Ao mesmo tempo, nossa irmã na terra, a mulher de Nazaré. E nossa Mãe no Céu, glorificada por Jesus”. Amém!
* Afonso Murad - Professor universitário e pesquisador na Faculdade Jesuita (FAJE)
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