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25/04/2021 Pe. Virgílio Leite Uchôa e Guilherme C. Delgado Edição 3935 Vacinação no mundo e no Brasil
F/ Pixabay
"Não obstante toda a incompetência e má fé dos gestores do governo federal em relação à pandemia no Brasil, ‘apesar de você’, o processo de vacinação que corre na maioria dos Estados brasileiros está bem mais avançado do que o europeu."

Pe. Virgílio Leite Uchôa e Guilherme C. Delgado

Até que se chegasse à produção de imunizantes, a humanidade conviveu com terríveis pandemias, desde a antiguidade até à Gripe Espanhola do início do século XX (1918). Neste longo período, o tratamento era dependente quase que exclusivamente de terapias do afastamento social.

Várias epidemias tropicais

Além daquela terrível pandemia, o Brasil foi acossado ainda no início do século XX por várias epidemias tropicais. Uma delas, a da febre amarela, arriscava-se a se propagar para o resto do mundo a partir dos nossos portos. Isso levou o país a avançar precocemente na pesquisa epidemiológica e na produção de vacinas relacionadas a múltiplos agentes letais, tendo se notabilizado internacionalmente pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto Butantã como principais centros de investigação e produção de vacinas, soro antiofídico e vários outros medicamentos ligados às patologias tropicais. O caráter público dessas duas instituições faz a diferença, uma vez que elas lidam com a saúde de toda a população do país.

Esta breve introdução focando a institucionalidade da pesquisa e a tecnologia epidemiológica no Brasil tem tudo a ver com a questão da vacinação massiva da população. É notório o atraso significativo na vacinação, não apenas na África, Ásia e América Latina, mas principalmente na União Europeia.

Uma falta generalizada de vacinas

Sem entrar em detalhes conjunturais, que não ajudam a esclarecer a situação presente, há uma falta generalizada de vacinas perante as exigências globais de vacinação para conter as ondas epidêmicas. Mas curiosamente esta lacuna é mais grave hoje (abril de 2021) ali onde se localizam os maiores laboratórios privados de pesquisa e produção de vacinas, os países da União Europeia, todos eles envolvidos com a terceira e temendo a quarta onda da pandemia.

Vou citar um exemplo didático e comparativo. Na União Europeia, que adotou uma política de compra e distribuição de vacinas entre grandes e pequenos países, não se conseguiu até ao presente iniciar a vacinação do seu grupo etário mais numeroso e ao mesmo tempo vulnerável, as pessoas de 65 a 79 anos de idade. Isso, muito embora venham cumprindo a contento as metas de vacinações de grupos até mais vulneráveis, ainda que demograficamente restritos, como as pessoas com mais de 80 anos, pessoal de saúde, moradores de lares assistenciais e albergues etc.

Com capacidade econômica e tecnológica muitas vezes superior à do Brasil, a União Europeia se envolveu em uma negociação estritamente contratual com grandes Laboratórios Farmacêuticos privados – Pfizer, Moderna AstraZeneca, Johnson & Johnson etc.. Ela foi capaz de fazer encomendas ainda no segundo semestre de 2020, quando praticamente todas as vacinas estavam em fase de testes clínicos.

Mas colocou todas as suas fichas nos contratos com empresas privadas, por não disporem aqueles países de instituições públicas para o fabrico de imunizantes, ao contrário do que ocorre no Brasil.

O atraso significativo na entrega das vacinas, ‘por razões que a própria razão desconhece’, comprometeu gravemente a programada abertura do sistema econômico por ocasião do verão europeu (a partir de 21 de junho). Mas o pior foi ter comprometido seriamente a vida humana já neste segundo ano de recrudescimento da pandemia.

‘Apesar de você’, o processo de vacinação avança

Por outro lado, não obstante toda a incompetência e má fé dos gestores do governo federal em relação à pandemia no Brasil, ‘apesar de você’, o processo de vacinação que corre na maioria dos Estados brasileiros está bem mais avançado do que o europeu. Segundo informações confiáveis, grupos etários da faixa dos setenta já receberam a primeira dose e em alguns casos já se entrou na faixa dos 60.

Observa-se pelos dados mais recentes que o universo dos vacinados está perto dos 10%. São 20 milhões de vacinas aplicadas até ao início de abril, das quais 80% são da Coronavac (chinesa), para o que o Instituto Butantã tem contribuído positivamente com sua parceria no processo industrial, sem contar que já realiza estudos clínicos de uma vacina própria específica.

Solidariedade internacional

No momento em que a disponibilidade e intensidade da vacinação são essenciais à contenção dos surtos pandêmicos, muito mais intensos no Brasil por obra e desgraça do ‘negacionismo’, precisamos destacar também, com toda honestidade, o papel da solidariedade internacional que se soma à experiência institucional pretérita do nosso país. E aqui é necessário fazer a devida justiça à China que, não obstante todas as agressões verbais com que foi tratado seu governo por parte das autoridades brasileiras, vem mantendo regulares os processos de fornecimento do princípio ativo das vacinas ao Butantã e à Fiocruz.

Finalmente, sobre o que se passa efetivamente no atraso mundial do processo de vacinação, ainda precisamos conhecer melhor os meandros da questão em cada região do mundo. Mas, pelas indicações indiretas, aparentemente tem falado mais alto o jogo comercial do que a própria letra dos contratos. Em outras palavras, é a velha falta de solidariedade humana em todos os níveis, desde o doméstico até ao internacional, a eterna corresponsável por tanta desgraça que vem assolando a nossa sofrida humanidade.

Bolrede, Abril 2021

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