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21/06/2023 Pe. José Raimundo da Costa, SDN Edição 3960 Viver a Eucaristia II: corpo, refeição e eros
F/ Pixabay
"Comer a carne é, pois, ingerir, assimilar a doação da Eucaristia. Consumir a hóstia, o alimento espiritual significa, realmente, pôr para dentro da gente o mesmo empenho humano, pobre e sofrido de Jesus, a serviço dos outros. "

A Eucaristia é, acima de tudo, comunhão. Quando dela participamos nos unimos a Cristo e formamos um único corpo, porque comungamos do seu Corpo e do seu Sangue. Certamente, veremos um corpo completamente transformado e transfigurado no amor, que no pão partido está perfeitamente compendiado.

 1. Um único corpo

Para o Apóstolo Paulo, em virtude da ação do Espírito Santo, nós nos tornamos o corpo de CristoSanto Agostinho dizia que, durante a Eucaristia, nós “recebemos aquilo que somos”. Assim, sob o olhar simbólico, de quem nos vê, nos enxerga semelhantes a um bom bocado de pão e a um bom gole de vinho. Porque o amor assimila, e ser assimilado a Jesus significa que o nosso corpo também é chamado a se transfigurar.

Com efeito, o Corpo é um e, não obstante, tem muitos membros, mas todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, formam um só corpo. Assim também acontece com Cristo. Pois fomos todos batizados num só Espírito para ser um só corpo, judeus, e gregos, escravos e livres; e todos bebemos de um só Espírito.’ (1Cor 12,12-13).

“Somos muitos e formamos um só corpo em Cristo, sendo membros um dos outros”(Rm 12,5);

“Há um só Corpo e um só Espírito, assim como é uma sós esperança da vocação com que fostes chamados; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; há um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos”(Ef 4,4-5);

“Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; pois todos vós sois  um só em Cristo Jesus” (Gl 4,28);

“Cristo é tudo em todos” (Cl 3,11).

 2. A refeição

O professor de teologia sacramental no Seminário de Bérgamo e formador da comunidade do seminário, Manuel Belli, no artigo que escreveu sobre a Nova Teologia Eucarística - Eucaristia: corpo, refeição e eros, acentua que A missa é uma refeição ritualizada. Verdade: podemos fazer muito melhor na celebração para que essa dimensão se torne particularmente evidente. Somos confortados pela tradição: São Paulo fala do “reunir-se” da comunidade como linguagem “técnica” para aludir à celebração eucarística. “Encontrar-se para partir o pão” era o modo como os antigos expressavam aquilo que nós dizemos com “missa”.

Na missa, acima de tudo, se come. E o ser humano não é apenas um ser que se nutre. O comer humano é muito mais rico: não existe vínculo com a nutrição que não envolva a questão do sentido.

Na missa, não se come tanto, mas aquilo que se come deveria ter um poder nutritivo. A que damos o poder de saciar a nossa existência? Sentar-se à mesa da Eucaristia requer responder com honestidade à pergunta sobre o que estamos realmente buscando na nossa existência.

Não é possível sair dessa questão senão levando os nossos desejos a sério: o que o corpo de Cristo tem a ver com o meu desejo? O que eu quero que aconteça quando me sento à mesa da Eucaristia? Se desejamos o encontro com Deus, então essa mesa terá um poder saciador. Se desejamos menos do que ele e nos contentamos com uma boa pregação divertida, ou com um canto emotivamente envolvente, ou com um gesto particularmente extravagante, mais cedo ou mais tarde participaremos da Eucaristia famintos e será uma prática que não nos dirá muito. É preciso ser um pouco místico para viver a Eucaristia em plenitude.

Mas não podemos esquecer que, na missa, nos sentamos à mesa com outros. A dimensão comunitária também tem a sua importância. A primeira coisa que acontece quando participamos da Eucaristia é que nos encontramos: a celebração começa justamente com o ato de se reunir. E não é algo tão simples!”

 3. "Comer a carne" e "beber o sangue"

No capítulo da Eucaristia (6° de São João), os judeus ficaram escandalizados  quando ouviram que deveriam comer  e beber  da carne  e do sangue do Cristo.  Na forma grosseira de entender e interpretar a palavra de Jesus se perguntaram: "Como é que este homem pode nos dar de comer sua carne?" (v. 52).

Jesus não responde à questão do como, mas insiste no significado e nas consequências do comer sua carne e beber seu sangue, do alimentar-se de sua doação cotidiana e da sua cruz. Eles, não obstante, não conseguiram apreender o alcance profundo do compromisso proposto por Jesus e disseram: "É dura demais esta palavra! Quem a pode suportar?" (id., 60).

A teologia Joanina se ocupa do significado. Deixa de lado a polêmica e se debruça no sentido maior da revelação do mestre.

Podemos concluir que comer a carne é, pois, ingerir, assimilar a doação da Eucaristia. Consumir a hóstia, o alimento espiritual significa, realmente, pôr para dentro da gente o mesmo empenho humano, pobre e sofrido de Jesus, a serviço dos outros.

Beber o sangue, consequentemente, significa deixar escorrer para dentro de si a coragem, aceitar o chamado e o desafio de também se transformar em sangue derramado para o bem dos irmãos.

Toda vez que definimos como ‘modus vivendi’, as exigências e vivências da Eucaristia fazemos acontecer em nós o que Jesus nos indica com seu ensino. Olhar o mundo, contemplar a criação com o seu olhar, encarar a vida, abraçar o desafio de viver sem violência, sem divisão social, desvestido de preconceitos, comprometido com o respeito, com o direito  e à justiça para todos.

Este é o segredo de ser eucarístico!

Primeira parte deste artigo: Viver a Eucaristia I: Sacramento e Mistério

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