Durante os anos em que vivi em Roma tive a oportunidade de conhecer umas figuras extravagantes. Dentre estas estava um exorcista, que realizava os rituais de exorcismo literalmente abaixo da casa paroquial em que morei. Evidentemente nunca os pude presenciar, mas tive a possibilidade de atender em confissão algumas das pessoas supostamente possessas. Conversando com elas, nada pude perceber de demoníaco ou sobrenatural, mas eram evidentes os transtornos psíquicos que, ao invés de serem tratados com a ciência, eram tratados com religião. Somente a cidade de Roma possuía, à época, sete exorcistas, que estavam sempre ocupados. De segunda à sexta esses exorcistas estavam pelas paróquias exorcizando pessoas. Tinham muitos demônios circulando pela Cidade Eterna! No Brasil isso era incomum até o combate, por parte da Igreja Católica, da lógica neopentecostal através de movimentos católicos de caráter pentecostal (fogo se combate com fogo!). Com eles o diabo volta aos discursos, às pregações, às homilias e claro, se torna o responsável por muita coisa ruim que acontece no dia a dia das pessoas. O diabo, que antes desfilava nas igrejas evangélicas, agora está novamente firme e forte na Igreja Católica, muito mais do que durante todo o século XX. Estava de férias e agora voltou à ativa? Durante o medievo e grande parte da modernidade o diabo e seu séquito de demônios eram os causadores de muita desgraça. A teologia havia distinguido inclusive os demônios masculinos dos femininos (íncubos e súcubos). Os primeiros, os íncubos eram entidades demoníacas masculinas que atingiam as mulheres durante o sono; súcubos eram as entidades demoníacas femininas, que atacavam os homens. Não se podia nem dormir em paz! Ambas as entidades, tanto as masculinas quanto as femininas estavam sempre relacionadas ao sono e ao sexo. Os desejos noturnos não eram humanos, mas frutos de atividades demoníacas. A sandice chegou aos extremos quando se começou a afirmar que mulheres podiam copular com o Diabo. Essas, que depois seriam caçadas como bruxas, foram apontadas como causadoras de pestes, fome, pragas nas plantações, mau tempo, mortes de nascituros e desaparecimentos de crianças, etc. Não é estranho entender que o não acesso ao conhecimento científico causasse a explicação de fenômenos a partir de uma ótica religiosa ou mágica. Sempre se fez assim. Porém, em pleno século XXI isso voltou com força total, mesmo em meio aos avanços da psicologia e da psiquiatria. Não discuto aqui a doutrina católica sobre a existência do diabo, nem mesmo a possibilidade, ainda que muito remota, da chamada “possessão”, mas sim essa obsessão atual em busca de exorcismos, libertação da obsessão demoníaca de casas e objetos, quebra de maldições, etc. Voltamos ao medievo, é isso? Quando ainda jovem seminarista li vários textos sobre possessão, livros estes escritos por exorcistas famosos como Pe. Gabriele Amorth, Pe. Corrado Balducci, Pe. Fortea. Me chamou atenção que as lógicas dos argumentos eram sempre as mesmas. Não havia nenhuma explicação para a possessão, exceto caso a pessoa estivesse envolvida por um determinado tipo de pecado (em geral de tônica sexual) ou ligada à outras crenças, como o satanismo. E esses homens exorcizaram algumas pessoas por décadas! Muitos dos presuntos possessos precisam ser exorcizados muitas vezes e nunca ficam livres. Isso é um dos pontos que mais me chamou e chama atenção nesses relatos. Os sacramentos na Igreja tem um lógica clara: se eu celebro a Eucaristia, o pão e o vinho são o Corpo e o Sangue de Cristo; se eu absolvo uma pessoa, ela está absolvida; se eu batizo alguém, esse alguém está batizado! Porém, mesmo os sacramentais, que são instituídos pela Igreja, tem um valor imediato: se eu abençoo água, ela está abençoada; se eu abençoo um objeto de devoção, ele está abençoado. Então, como entender que esse sacramental (o exorcismo) não funciona direito? A Igreja tem ou não tem autoridade para expulsar o Mal? Quantas vezes Jesus exorcizava a mesma pessoa? Tenho quase certeza de que esse surto de demônios e possessões no Brasil do século XXI é muito mais explicável pela ciência do que pela religião. É mais fácil colocar a culpa dos meus problemas e dilemas interiores em um ente externo, pois assim eu não preciso resolver nada, o padre, o pastor, ou pajé resolvem para mim. Essa histeria que, tomara Deus, não irá incendiar ainda mais a Igreja no Brasil é, no meu ponto de vista, uma enorme confissão de infantilidade teológica. Desconhece-se o contexto de quando os evangelhos foram escritos e se usam os textos para justificar qualquer coisa, se desconhece o mal e a violência causados por crenças histéricas em demônios, se desconhece, enfim, os avanços da ciência que nos dão outras possibilidades explicativas para fenômenos outrora vistos a partir da fé. A nível de sugestão deixo uma boa pista para aqueles que estão sempre prontos a ver o demônio por tudo e a requerem exorcismos por parte da Igreja: frequentem psicólogos e psiquiatras ateus, pessoas que não estejam dispostas a chancelar as crenças pessoais de vocês. Depois, caso esses profissionais cheguem a dizer que não podem responder com o olhar da ciência quais são as causas dos males que vocês carregam, então vocês podem correr para a sacristia.
Tenho quase certeza de que esse surto de demônios e possessões no Brasil do século XXI é muito mais explicável pela ciência do que pela religião. É mais fácil colocar a culpa dos meus problemas e dilemas interiores em um ente externo, pois assim eu não preciso resolver nada, o padre, o pastor, ou pajé resolvem para mim.
O Arcebispo de Lima, Cardeal Carlos Castillo. Ele sustenta que na universidade, "segundo a linha de pensamento moderna, o que desenvolve o conhecimento, tanto filosófico quanto científico, depende das ciências sociais, exatas ou experimentais, mas sempre há uma tendência, na mentalidade moderna, a dizer que nós é que sabemos".
O estado atual da nossa Casa Comum estimula a reflexão e a ação nas universidades em vista do desenvolvimento sustentável, levando ao ensino pelo exemplo e a trabalhar a incidência, como destacou Rafaela Diegoli, do Instituto Tecnológico de Monterrey. Não podemos ignorar as palavras de Francisco, que disse que "profissionais de sucesso não podem ser formados em sociedades fracassadas"
E fazer memória é o que tem ajudado as nossas comunidades ribeirinhas, os povos indígenas, de fato, a sobreviver e a saber tirar da floresta, de fato, a preservação”.