Por Luis Miguel Modino
O cuidado da Casa Comum, a promoção da ecologia integral, é uma preocupação no Magistério do Papa Francisco, um caminho assumido pela Igreja da Amazônia, pela arquidiocese de Manaus. A Campanha da Fraternidade 2025, que tem como tema “Fraternidade e Ecologia Integral”, é uma temática abordada pela nona vez na Igreja do Brasil durante o tempo da Quaresma, e é mais uma oportunidade para refletir sobre essa temática e sentir a necessidade de avançar no caminho da conversão ecológica.
Necessária Conversão Ecológica
A arquidiocese de Manaus lançou, nesta quinta-feira, a Campanha da Fraternidade, que lembra os 10 anos da Laudato Si, segundo o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner, que sublinhou a necessidade da conversão ecológica, dado que o tempo da Quaresma nos faz um chamado à conversão, como a Igreja tem feito ao longo da história: conversão pessoal, conversão social, segundo pediu o Papa João Paulo II, e conversão ecológica, a pedido do Papa Francisco.
Afirmando que “não estamos desligados, como nós sabemos pela Laudato Si, de toda a realidade em que nós vivemos”, o arcebispo de Manaus disse que “necessitamos de converter as nossas ações, as nossas relações, para criarmos um pouco mais de harmonia.” Isso porque “se continuarmos no modo como estamos de dominação e de destruição do meio ambiente, nós, como Terra e como humanidade, não teremos futuro.” Diante disso, ele fez um chamado à esperança, seguindo a temática do Ano Jubilar, ressaltando que “a Campanha da Fraternidade nos aponta a esperança, através da conversão ecológica.”
A Campanha da Fraternidade ajuda a refletir diante das catástrofes ecológicas que aconteceram: a grande seca, as enchentes, buscando “sobre quanto seja importante cuidar da nossa Casa Comum”, disse a coordenadora de Pastoral da arquidiocese de Manaus, Ir. Rosana Marchetti. A religiosa lembrou o objetivo da campanha, que nos chama a “um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra.” Um chamado “para que nós possamos deixar descansar a terra”, seguindo o espírito do ano jubilar na Bíblia. Nessa perspectiva, ela disse que “escutar o grito da terra, escutar os gritos dos pobres, é algo que interpela a nossa fé.”
“Os santos padres diziam que a glória de Deus é a vida do homem e da mulher. A gente pode parafrasear dizendo que a glória de Deus é a vida de tudo aquilo que existe”, disse o bispo auxiliar de Manaus, dom Zenildo Lima. Ele insistiu em que “a questão socioambiental, a questão da ecologia integral, para nós é, sim, também um problema religioso, uma questão de fé. O que está em ameaça é a glória de Deus na medida em que a vida do que existe é ameaçada.”
Toda formação numa perspectiva ecológica
O bispo auxiliar insistiu em que “há muito a Igreja que está na Amazônia se reconhece como uma Igreja irmã da Criação”, afirmando que “toda a Igreja que está desenvolvendo sua ação evangelizadora na Amazônia entende como horizonte de realização do Reino de Deus toda a realidade criada.” Nesse sentido, dom Zenildo Lima lembrou que essa temática se fez presente na décima Assembleia Pastoral Arquidiocesana, onde “nós reconhecemos que este horizonte da Casa Comum, que enfim é o horizonte do Reino de Deus, é uma condição indispensável, podíamos dizer uma condição sine qua non, para o nosso exercício de evangelização.”
Uma reflexão que levou a arquidiocese de Manaus a assumir que “é muito importante que em todos os nossos processos, processos missionários, processos formativos, processos de solidificação das nossas comunidades, processos da celebração da fé, passem por esta perspectiva ecológica, por esta perspectiva socioambiental”, levando a ecologia integral a permear toda a ação evangelizadora e, a partir daí, articular processos pastorais organizados, com ministérios do cuidado da Casa Comum, dado que “guardar a Casa Comum é também um ministério eclesial”, sublinhou o bispo auxiliar. Assim surgiu na arquidiocese de Manaus a Comissão de Ecologia Integral, que tem articulado as numerosas iniciativas presentes nas comunidades, fazendo o trabalho mais eficaz.
Na frente dessa comissão está Frei Paulo Xavier Ribeiro, que a definiu como “uma tentativa de potencializar esse processo, a partir da ação evangelizadora da Igreja de Manaus, essa dimensão da ecologia integral”, um caminho que tem levado a descobrir inúmeras atividades, com adultos, jovens e crianças, citando alguns exemplos que ajudam na incidência política e no compromisso com a vida das famílias, a vida da sociedade. O frei Capuchinho destacou “o encaminhamento disso com responsabilidade, com honestidade, um critério que pode vislumbrar ações que nos ajudam a consolidar um mundo diferente.”
Ecologia integral, uma dimensão da nossa fé
Na arquidiocese de Manaus, segundo relatou o coordenador de Pastoral, padre Geraldo Bendaham, estão sendo realizadas diversas atividades em torno da Campanha da Fraternidade, como está sendo a formação de comunidades, áreas missionárias, paróquias, setores, regiões episcopais. Junto com isso, ele destacou a importância das novenas nas famílias, que ajudarão na conscientização, na oração, para restabelecer novamente o amor à natureza. Mais um ano, na Quarta-feira de Cinzas, será realizada a abertura da campanha, que em 2025 se concretizará numa caminhada ecológica da Catedral até o Parque Rio Negro, tendo como elemento de reflexão o cuidado da água.
O cardeal Steiner insistiu em que “como discípulos missionários, como discípulas missionárias, nós queremos que a ecologia faça parte da caminhada da nossa fé, para podermos assim cuidar melhor da obra que Deus entregou nas nossas mãos.” Ele falou sobre a reflexão do Papa Francisco, que faz um chamado para passar do desejo de dominar ao desejo de cultivar e cuidar. Segundo o arcebispo, “temos que ter uma relação de maior respeito, de maior cuidado, não de domínio, de destruição”, lembrando o modo de São Francisco de Assis se relacionar com as criaturas, “se relacionava como irmão e irmã”, o que deve nos levar a “retomar esse modo de uma relação fraterna com todas as criaturas.”
O cardeal Steiner denunciou que “o que comanda hoje é o mercado, é a economia, é o poder de tirar da Natureza o mais que nós podemos, mas não em vista dos pobres, em vista de quem já tem.” Isso diante de uma realidade que nos mostra que “o momento da Terra está ficando muito difícil, muito difícil, mas nós queremos continuar a crer que somos capazes de buscar soluções e somos capazes de cuidar da nossa casa comum.” O arcebispo destacou como a Igreja de Manaus sempre reza pelo Papa Francisco, “um homem que tem nos levado a perceber a grandeza de viver o Evangelho, a alegria de poder viver o Evangelho, um homem que não tem medo de dizer as coisas, não tem medo de dizer das nossas fraquezas, das nossas fragilidades”, ressaltando que o Papa Francisco, desde o começo, tem se preocupado com a questão do meio ambiente e a ligação muito grande entre o meio ambiente e os pobres.
A situação climática na Amazônia tem provocado receio, medo, para não falar de pânico, em que nós entramos numa situação de irreversibilidade como consequências das mudanças climáticas, segundo dom Zenildo Lima. O bispo auxiliar demandou “a necessidade de grandes intervenções a nível de governos mundiais, mas a gente percebe que quando entra em jogo a questão dos mercados, a coisa sempre fica muito atrofiada. As iniciativas de ecologia integral parecem uma gota no oceano do que nós temos como enfrentamento.” Nesse sentido, ele vê a realização da COP30 na Amazônia como algo que vai exigir muita pressão da sociedade organizada.
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