Por Micaela Díaz Miranda
O teólogo brasileiro Francisco de Aquino Júnior oferece uma reflexão provocativa e esperançosa em seu artigo “Sinodalidade como profecia social”, publicado na edição 190 da Revista Medellín (janeiro-junho de 2025). Disponível para ser baixado no site do Observatório Latino-Americano de Sinodalidade, este texto propõe uma leitura do atual processo sinodal como oportunidade não apenas de renovação eclesial, mas também de transformação social. Aquino Junior enfatiza que a sinodalidade não deve ser vivida como um fim em si mesma, mas como expressão e meio da missão da Igreja no mundo.
Francisco de Aquino Júnior é padre da Diocese de Limoeiro do Norte (Ceará, Brasil), doutor em Teologia pela Universidade de Münster (Alemanha) e professor da Faculdade Católica de Fortaleza e da Universidade Católica de Pernambuco. Seu amplo trabalho em teologia pastoral e eclesiologia crítica o posiciona como uma voz de destaque na reflexão latino-americana sobre os caminhos da reforma sinodal e da conversão.
Desde o início do artigo, o autor insiste que a sinodalidade está intrinsecamente ligada à missão da Igreja: “Sinodalidade e missão são inseparáveis e se remetem mutuamente”. Essa conexão exige repensar as estruturas eclesiais à luz de sua dimensão missionária: não se trata de organizar primeiro a Igreja e depois considerar sua missão, mas de construir estruturas que já sejam sinais e meios do Reino de Deus.
Aquino Junior retoma o legado do Concílio Vaticano II e afirma que nem toda forma de organização eclesial é compatível com sua natureza. A sinodalidade, como “dimensão constitutiva” da Igreja, deve ser encarnada em estruturas que expressem real comunhão e participação, superando lógicas clericais e centralistas. “Uma Igreja que se compreende como mistério de comunhão, mas produz relações de dominação (…) nega em sua estrutura visível o que propõe como missão”, afirma com veemência.
Assim, o dinamismo sinodal implica a superação do clericalismo e a promoção de uma organização mais horizontal, onde todos os carismas e ministérios encontrem espaço de reconhecimento e responsabilidade compartilhada. Este caminho é desafiador, mas importante para que a Igreja seja verdadeiramente fermento de comunhão e serviço no mundo.
Na segunda seção de sua reflexão, o autor introduz o conceito de “diaconia social”: uma Igreja que, ao se organizar sinodicamente, se descentraliza e se coloca a serviço do mundo, especialmente dos pobres e marginalizados. Essa perspectiva não é apenas teológica, mas profundamente política e ética. “A sinodalidade se constitui como autêntica ‘diaconia social’”, afirma, referindo-se a uma Igreja que encarna o ethos do Reino em suas relações internas e em sua presença na sociedade.
A sinodalidade, vivida com espírito missionário, promove uma cultura de encontro, diálogo, cooperação ecumênica e inter-religiosa e compromisso com a justiça social. Nas palavras do autor, a Igreja deve se tornar “ensaio e fermento de novas formas de relação”, colaborando ativamente na transformação das estruturas sociais e na defesa dos direitos humanos e da nossa casa comum.
Neste sentido, a sinodalidade também se torna um processo de conversão contínua: do coração, das estruturas eclesiais e da sociedade. Francisco de Aquino propõe uma autêntica “conversão social” que se materializa no “lugar e o papel privilegiado dos pobres, a destinação universal dos bens, o primado da solidariedade e cuidado da casa comum “.
Por fim, o autor desenvolve a sinodalidade como uma “profecia social”, isto é, como denúncia das estruturas de exclusão e anúncio de novas possibilidades para a vida fraterna. Em um mundo marcado pelo individualismo, desigualdade e autoritarismo, a Igreja sinodal pode ser uma “bandeira entre as nações”, como já afirmou o Papa Francisco.
A sinodalidade torna-se profecia em três direções principais: primeiro, como profecia de fraternidade e unidade, numa cultura que isola e fragmenta ; Em segundo lugar, como profecia do diálogo e do bem comum, em contraste com modelos autoritários de poder; e terceiro, como uma profecia de justiça social e cuidado com a nossa casa comum, onde a Igreja “escuta os gritos dos pobres e da terra” e age de acordo.
O texto conclui com um apelo para evitar que o processo sinodal se torne fechado em si mesmo ou um mero exercício organizacional. A Igreja verdadeiramente sinodal — diz Aquino Júnior — é aquela que se deixa afetar pelo sofrimento humano, que caminha ao lado do povo e que não passa ao lado “do Senhor caído à beira do caminho”.
“A sinodalidade como profecia social”, de Francisco de Aquino Júnior, está disponível no site do Observatório Latino-Americano da Sinodalidade .
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Fonte: Observatório da Sinodalidade
A sinodalidade torna-se profecia em três direções principais: primeiro, como profecia de fraternidade e unidade, numa cultura que isola e fragmenta ; Em segundo lugar, como profecia do diálogo e do bem comum, em contraste com modelos autoritários de poder; e terceiro, como uma profecia de justiça social e cuidado com a nossa casa comum, onde a Igreja “escuta os gritos dos pobres e da terra” e age de acordo.
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