Por IHU
A democracia moderna, em muitos países, deixou de ser um espaço de participação, debate e pluralidade, para tornar-se um mecanismo formal esvaziado, dominado por exigências de mercado e decisões tecnocráticas. Em entrevista recente ao Instituto Humanitas Unisinos (IHU), o filósofo Sandro Luiz Bazzanella analisa esse processo e alerta para a naturalização de um “estado de exceção permanente” como técnica de governo. Suas reflexões ajudam a compreender a fragilidade das democracias representativas atuais e os riscos de novas formas de autoritarismo.
Para Bazzanella, a democracia contemporânea perdeu a essência de espaço de poder constituinte. O que deveria ser arena de debate plural e divergente se converte em palco de decisões voltadas ao mercado: desregulamentação, flexibilização e ajustes fiscais que afetam a vida concreta das pessoas, sobretudo as mais vulneráveis. Assim, a democracia permanece apenas como discurso, sem ligação real com a vontade popular.
Inspirado em Hannah Arendt, o filósofo lembra que a modernidade colocou a economia no centro da vida pública. A política tornou-se subordinada à lógica produtivista e à busca incessante de desenvolvimento, impondo sacrifícios sociais e humanos em nome de promessas que nunca se cumprem plenamente.
Outro ponto central da análise é a transformação do estado de exceção — antes emergencial — em dispositivo normativo e permanente. Essa naturalização abre espaço para novas formas de autoritarismo, muitas vezes legitimadas democraticamente. No Brasil, esse mecanismo se combina com o peso histórico de um passado escravocrata e colonial, perpetuando desigualdades e violências.
Segundo Bazzanella, o discurso do desenvolvimento legitima práticas de vigilância e controle social. A lógica é simples: se ainda não alcançamos o desenvolvimento prometido, é porque não obedecemos suficientemente aos seus imperativos. Essa retórica mantém a sociedade em estado constante de subordinação.
Apesar do cenário de esvaziamento democrático, o filósofo ressalta que a vida acontece no plano local e regional, onde se guardam memórias, afetos e tradições. Resgatar a política nesses espaços é um caminho de resistência e reconstrução dos laços comunitários, fundamentais para revitalizar a democracia de baixo para cima.
A análise de Sandro Luiz Bazzanella mostra como a democracia representativa atual corre o risco de se tornar apenas um instrumento legitimador de políticas de mercado e de governos autoritários. Frente a esse desafio, o convite é repensar a democracia como prática viva, marcada pelo debate plural, pela participação efetiva dos cidadãos e pela valorização da vida comunitária. Somente assim será possível recuperar sua vocação originária: garantir o bem comum e a dignidade de todas as pessoas.
Veja a entrevista completa em IHU
O filósofo Sandro Luiz Bazzanella analisa como a lógica de mercado e o estado de exceção permanente corroem as democracias representativas, abrindo espaço para novas formas de autoritarismo e para o distanciamento entre instituições e povo.
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