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Encontro da RUC: A política, modo de aproximar os estudantes universitários ao bem comum

Por Luis Miguel Modino

A política é uma concretização do sonho social, do qual Francisco falou em Querida Amazônia. Este foi o tema de reflexão do II Encontro Sinodal de Reitores de Universidades para o Cuidado da Casa Comum da Rede de Universidades para o Cuidado da Casa Comum (RUC), que acontecerá de 20 a 24 de maio de 2025, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Estado político atual

No terceiro dia do encontro, a reflexão abordou a questão da "Justiça Ecológica Integral e Diálogo Social" como a melhor política para respeitar a dignidade humana. O ponto de partida foi a análise do estado político atual, buscando relacionar política e ecologia. Nessa perspectiva, Alex Villas Boas, da Universidade Católica Portuguesa, apoiando-se em Michel de Certeau, que Francisco considerava um teólogo de referência, abordou essa questão. Ele destacou três elementos: a inteligência poliédrica, da qual falava Michel Foucault, para pensar a política e o poder; a crítica à auto referencialidade do conhecimento; e a intersecção entre agenda religiosa e agenda política como fonte de revolução, falando de espiritualidade política. Uma teologia pública que é um exercício de diálogo e comunhão entre diferentes pessoas.

Uma realidade política que, nos Estados Unidos, segundo Victor Carmona, da Universidade de San Diego, é uma política que cria muros e incentiva uma visão estreita da realidade. Uma realidade que exige iniciativas que ampliem horizontes, construam pontes, gerem conversão ecológica e inclusão. Nessa perspectiva, Enrique del Percio, da Universidade de San Isidro (Argentina), inspirado por Scannone, destacou a importância do diálogo entre Teologia, Filosofia e Ciências Sociais, para não ser dominado pela ideologia. Abordando os conceitos de liberdade, individualidade e sociedade, percebe a necessidade de assumir que estamos em relações, colocando a fraternidade como horizonte, e a necessidade de entender o que é fraternidade madura. A partir daí, assumir que não podemos alcançar a realização se não alcançarmos a realização dos outros. Algo que exige a luta pela dignidade.

Justiça Ecológica

Ao abordar a questão da Justiça Ecológica Social e Ambiental Integral, Ernesto Villanueva, da Universidade Nacional Arturo Jauretche, na Argentina, destacou a ideia platônica de que a política é uma preocupação com o bem comum, uma semente que cada pessoa guarda no coração e deve ser nutrida. Por isso, ele considera a organização um aspecto central, já que ninguém consegue atuar individualmente em todas as áreas, alertando para o risco de cair na especialização excessiva. Ele acredita que é necessário integrar todas as atividades na esfera da política global para evitar que outras potências ocupem esses espaços.

Por sua vez, Fernando Ponce de León, da Universidade Católica do Equador, questionou se a política ainda encanta. Na opinião dele, há indiferença e antipolítica. Estamos diante de pessoas que, para ganhar eleições, dizem que não são políticas, um discurso que é comprado por muitos. Isso levanta a questão de se a política é um sonho ou um pesadelo, levando a uma tendência de promover a ecologia sem recorrer à política. Partindo da premissa de que a educação é um ato político, pois tem uma intenção por trás, ele pediu para a universidade escolher que tipo de pessoas ela quer formar. Isso porque construir uma força política social exige tempo e paciência.

Caminhando juntos para causar impacto

No encontro da RUC, "estamos nos engajando em políticas profundas e transformadoras", de acordo com Susana Nuín, da Universidade Sofia. É necessário articular profundamente a rede, diante da tentação de competir com os outros. Para isso, ela defende ir além das margens para poder congregar, para compartilhar as riquezas de cada universidade. Isso porque "só temos impacto político se formos capazes de caminhar juntos", enfatizou a socióloga uruguaia. Jackeline Farbiarz, da PUC-Rio, abordou questões relacionadas ao mundo indígena a partir de sua experiência em uma aldeia indígena. O objetivo é promover o diálogo entre as realidades das universidades e da região amazônica visando a transformação em vários níveis.

A política como preocupação com o bem comum é necessária em tempos de antipolítica e exaltação do individualismo, segundo Oscar Alpa, da Universidade Nacional de La Pampa (Argentina). Uma necessidade nas universidades, que sempre se preocuparam com a política, com o bem comum. No caminho para a COP 30, é preciso pensar nos jovens, no "façam bagunça" que Francisco pediu na Jornada Mundial da Juventude no Rio. Daí a preocupação com os jovens fazendo bagunça política, para não serem dispensáveis, com conhecimento limitado em uma área específica, o que aumenta o risco de serem descartados.

Uma reflexão que tem estado presente no debate realizado em vários grupos, buscando aproximar os universitários de tudo o que se relaciona com o bem comum, resgatar o conceito de comunidade e integridade, superando o individualismo dominante. Buscando dar voz aos silenciados pela sociedade por meio da universidade, visto que a universidade vai além do campus, com possibilidade de influenciar decisões políticas. Recuperar o significado da palavra "política" e organizar a atividade política é uma necessidade urgente nas universidades. Para isso, foram elaboradas propostas que visam contribuir para o avanço dessa dimensão política, que leva ao avanço do sonho social.

Diálogo com o poder político

O impacto deste encontro, tendo em vista a COP 30, aumenta com o diálogo com os diversos setores da sociedade. Daí a importância da presença da Ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, que ressaltou a importância de trazer a contribuição da ciência com a sensibilidade de um olhar disposto a perceber as coisas, a ouvi-las e a compreendê-las. A ministra denunciou a atual situação do Brasil, que ameaça à democracia, que vem sendo mantida com dificuldade e com fortes polarizações, a exemplo da lei sancionada em 21 de maio que acaba com a proteção ambiental no país.

No Dia da Biodiversidade, ela pediu a compreensão de que todos precisam da natureza, "porque é nosso dever preservar e conservar a vida, onde todos devemos estar integrados". Nesse sentido, “se todas as formas de existência são uma forma de louvar a Deus, então cada espécie de biodiversidade que se extingue é uma forma a menos de louvor ao Criador”.

A ministra disse lamentar a lei aprovada pelo Senado brasileiro, mas lutar pelo que foi visto nesta reunião, pois "por mais difícil que seja, sempre encontraremos uma maneira de preservar a vida, porque vida é resistência", afirmando que "nossa casa comum deve ser preservada". Ela disse gostar da ideia de trocar dívida externa pela proteção da natureza, pedindo a todos que entendam que todos nós dependemos da biodiversidade; 50% do PIB mundial depende da biodiversidade.

Necessidade de diálogo com os povos indígenas

Marina Silva destacou a continuidade dada pelo Papa Leão XIV no cuidado da nossa casa comum. Junto a isso, ela pediu o fomento do diálogo com os povos indígenas e seus conhecimentos ancestrais sobre a preservação dos recursos naturais, uma iniciativa presente na Laudato si e no Sínodo para a Amazônia. Nesse sentido, é preciso enxergar os sinais cada vez mais claros de que as condições de vida podem ser destruídas, o que torna a COP 30 uma COP de implementação, com uma atitude clínica e não cínica.

A falta de cuidado com a nossa casa comum causa milhões de mortes, algo que não choca as pessoas. Nesse sentido, ela denunciou que o investimento em atividades intensivas em carbono supera em muito os gastos com preservação das condições de vida. Em resposta, ela exigiu um compromisso com a verdade, um compromisso político e ético para acelerar o processo de conservação, o que não é mágico, nem pode acontecer da noite para o dia. A ministra falou sobre a proposta de um balance ético liderado pelo Papa Leão XIV, no diálogo inter-religioso, para que a COP 30 seja o momento de implementação, "porque não há mais tempo a perder; é um compromisso com a vida, um compromisso com a nossa casa comum".

 

 

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