F/ Reprodução L Eropeista

 

Leão XIV: a diplomacia silenciosa que busca reposicionar o Vaticano no palco global

Por Donatello D Andrea

O artigo de Donatello D Andrea em LEropeista analisa o início do pontificado do Papa Leão XIV (Robert Francis Prevost), destacando como sua eleição inaugura uma etapa marcada pela busca de continuidade em relação ao Papa Francisco, mas com um estilo distinto, mais institucional e diplomático. Primeiro papa nascido nos Estados Unidos, mas profundamente marcado pela experiência missionária na América Latina, Leão XIV carrega uma identidade capaz de articular o Norte e o Sul globais. Seu perfil revela a opção por uma liderança menos performática e midiática e mais discreta e simbólica, como mostra a escolha do nome “Leão”, evocando Leão XIII e a tradição do catolicismo social. A comunicação do novo pontífice também se caracteriza pela prudência: uso calculado de línguas, discursos menos emocionais e uma linguagem diplomática que privilegia o equilíbrio.

No campo internacional, Leão XIV prioriza a promoção da paz, a justiça social, a defesa da dignidade humana, o cuidado com migrantes e refugiados, a atenção ao meio ambiente e a reflexão ética sobre o uso da inteligência artificial. Em conflitos como os da Ucrânia e do Oriente Médio, sua abordagem evita acusações diretas, preferindo apelos à paz e ao diálogo, numa diplomacia mais reservada, voltada a resultados de bastidores. Tal opção representa uma mudança de estilo em relação ao Papa Francisco, que privilegiava gestos visíveis e presença simbólica, e reforça uma estratégia de mediação moral e estrutural que pretende oferecer ao Vaticano credibilidade como ator global.

O texto sublinha ainda que a Europa, em processo de marginalização geopolítica e cultural, pode se beneficiar desse novo olhar. Embora menos central no cenário mundial, o continente permanece relevante como interlocutor, e Leão XIV parece disposto a recolocá-lo como voz necessária em debates sobre paz e justiça. Ao mesmo tempo, sua origem americana não o prende automaticamente a alinhamentos políticos dos Estados Unidos, permitindo-lhe um posicionamento mais independente e de ponte entre diferentes blocos.

O risco, porém, é que a moderação excessiva possa ser interpretada como hesitação, sobretudo em tempos de polarização e violência global. A força de sua liderança dependerá da coerência entre discurso e prática e da capacidade de a Igreja reafirmar sua relevância num contexto em que secularização, fragmentação política e populismos fragilizam o papel moral do Vaticano. Ainda assim, a aposta em uma diplomacia silenciosa e firme pode devolver à Santa Sé um papel estratégico no palco internacional, recolocando a Igreja como agente de mediação e de esperança em um mundo marcado por rupturas e incertezas.

Fonte: L Eropeista

 

 

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