Por Pe. Cícero José da Silva
Por que nos causa desconforto atravessar ruas mal iluminadas, conviver com o diferente, olhar nos olhos de quem mora onde nós não ousamos pisar? Talvez seja porque, no fundo, sabemos que há ali uma verdade incômoda demais: a de que Deus está presente no rosto daqueles que, para nós, se tornaram invisíveis.
É mais fácil manter distância. Mais fácil dizer que "não é meu problema", que "eu já tenho minhas batalhas". A gente se convence de que é seguro viver dentro do nosso mundo confortável, limpo, organizado — mesmo que esse mundo seja construído sobre muros que excluem e silêncios que consentem.
Mas quem se atreve a sair desse comodismo encontra algo inesperado. Não só encontra o outro — encontra a si mesmo. Encontra um Deus que não mora apenas nos templos, mas que caminha descalço em vielas de terra, que partilha o pão simples, que sorri mesmo com pouco. E isso nos confronta. Diante da alegria de quem tem quase nada, nossos excessos se tornam pesados. Nossos acúmulos revelam nosso vazio.
A periferia não é apenas um lugar geográfico — é um espelho. E é justamente por isso que ela assusta tanto. Porque ela nos obriga a ver o que não queremos ver: que nossa “superioridade” é só maquiagem, que nossa fé pode ser seletiva, e que talvez estejamos adorando um Deus que se parece mais conosco do que com o Cristo pobre e crucificado.
Ir até os lugares de dificuldade é desinstalar-se. É sair de si. E, às vezes, é ali — justamente ali — que encontramos o sentido de tudo aquilo que dizemos acreditar.
Talvez o medo não seja da periferia em si, mas do que ela revela em nós.
Ela mostra o quanto nos acomodamos ao privilégio. O quanto aprendemos a evitar o incômodo, como se viver a fé fosse uma bolha estéril, protegida da dor alheia. Quantas vezes, dentro das nossas comunidades, celebramos um Deus que liberta… mas nos esquivamos de qualquer contato com os que ainda estão presos por correntes muito concretas: fome, abandono, violência, exclusão?
Preferimos doar roupas usadas do que oferecer presença. Levamos alimento como se fosse esmola, mas não sentamos para ouvir a história de quem o recebe. E quando ouvimos, talvez o choque seja tanto que corremos de volta ao conforto das nossas certezas, repetindo: “não posso fazer mais do que isso”.
Mas quem disse que é sobre fazer mais? Às vezes é só sobre estar. Estar onde ninguém quer estar. Ser ponte, não muro. Ser escuta, não discurso. Ser presença encarnada, como foi Jesus — aquele que nasceu longe do centro, viveu entre os pobres, e morreu fora da cidade.
O medo da periferia é o medo de deixar de ser o centro. De perder o controle. De não ter respostas prontas diante de realidades tão nuas, tão gritantes, que desmontam nossos discursos mais bonitos.
Mas talvez esse seja o começo da verdadeira fé: quando ela deixa de ser argumento para se tornar caminho. Quando ela nos tira de onde estamos para nos levar a onde deveríamos estar desde sempre — ao lado dos pequenos, dos esquecidos, dos que o mundo empurrou para fora do mapa.
É lá que o Evangelho se revela em carne viva. É lá que o Reino começa.
Então, talvez a pergunta não seja mais “por que temos medo da periferia?”, mas sim: até quando vamos continuar fingindo que ela não existe? O chamado do Evangelho é claro — não se vive o amor de longe, nem se segue a Cristo sem sujar os pés de estrada e poeira. O Reino não está onde é confortável. Está onde é necessário. E Deus nos espera lá.
Fonte: Mãe das Dores Juazeiro
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