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Missa da unidade: “...ordenados para fazermos memória de Deus”

Por Luis Miguel Modino

A arquidiocese de Manaus celebrou na manhã da Quinta Feira Santa a Missa Crismal, com a presença de grande parte do clero que trabalha nessa Igreja local, da Vida Religiosa e de numerosos fiéis que se uniram para participar de um momento importante na vida da Igreja.

Enviado para animar, resgatar

Uma celebração presidida pelo arcebispo local, cardeal Leonardo Steiner, que iniciou sua homilia lembrando as palavras do texto de Lucas lido no evangelho: “Jesus foi à cidade de Nazaré, onde se tinha criado. Conforme seu costume, entrou na sinagoga no sábado e levantou-se para fazer a leitura.” Segundo o arcebispo, “voltou à espacialidade onde fora concebido, gerado, crescido, criado, e na Palavra de hoje, onde leu a sua missão: ‘hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir’. Sente-se enviado pelo Espírito para animar, resgatar, reanimar no corpo e no espírito: o Reino da verdade, da justiça e da graça!”

O cardeal Steiner lembrou aos presentes que “aqui estamos como igreja particular, como Arquidiocese: nossas comunidades, nosso presbitério, ministros e ministras não ordenados, vida consagrada, seminaristas; expressões do Povo de Deus em nossa igreja particular, para celebra o Santo Crisma.”

Nazaré, lugar de criação de Jesus

Analisando o texto, ele sublinhou que “Nazaré, pode significar ‘consagrar-se a Deus’, mas também ‘ramo’ ou ‘rebento’. Nazaré onde brotou o ramo do tronco de Jessé, pois o lugar do anúncio, da presencialização do Filho de Deus no ventre da Virgem. O lugar do sim da Virgem que abre a finitude humana para a presença humanada de Deus. Lugar da criação de Jesus, da maturação, do trabalho corpo a corpo com o pai operário. Nazaré onde cresceu em ‘sabedoria, idade, e graça diante de Deus e dos homens’ (Lc 2,52). Conforme o Evangelho proclamado, o lugar da escuta dos profetas, do encontro do Povo do Deus com a sua história. Nazaré a iluminação do Espírito que repousa unge e envia em missão: ‘hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir’!”

Diante desse significado, o presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1), disse que “somos convidados a voltar a Nazaré, o lugar do nascer da vida em Cristo Jesus. Voltarmos a Nazaré estarmos em casa com Jesus, Maria e José e participarmos do mistério amoroso, gracioso e salvífico que renova a face da terra, pois o Espírito a repousar, ungir e enviar. Voltamos a Nazaré e na escuta, deixar ressoar a vocação e a missão de discípulos missionários, discípulas missionárias. E de Nazaré somos enviados para anunciar o Reino da verdade, do amor e da salvação.”

Voltar a Nazaré

Nazaré, disse o cardeal, se dirigindo aos irmãos presbíteros e diáconos, “o ressoar da Palavra e da prece que ilumina a nossa vida e missão de ordenados. Voltamos a Nazaré e escutamos que o Espírito repousa sobre nós, pois O invocaram sobre nós, impuseram as mãos, fomos ungidos e enviados em Missão. Voltamos à Nazaré com o desejo de sermos continuamente gerados e crescermos, plenificarmos a nossa vida, missão, o nosso ministério. As nossas mãos, queridos padres, foram ungidas depois do Espírito repousar sobre nós, para abençoar, bendizer, ungir, jamais amaldiçoar! A ungir com o Espírito que concede rebento novo onde a vida parece ter secado, a esperança onde o sofrimento, a morte, parece destruir a nossa humanidade, a participação na redenção onde há sangue derramado e não recolhido; ungir a cegueira que não quer ver o cuidado amoroso de Deus, ungir os prisioneiros para que possam inspirar o desejo de liberdade, pois tantos encarcerados pelo mercado que sufoca, destrói as relações, o desejo de eternidade. O Espírito que unge para desestruturar a religião que não liberta, não oferece a verdade, a transparência da fé.”

Em palavras do cardeal Steiner, “voltar a Nazaré, à espacialidade de nossa vida, missão e ministério, para escutarmos mais uma vez que o Espírito do Senhor está sobre nós, porque nos consagrou com a unção para sermos anunciadores, proclamadores da Boa-Nova transformante e redentora que traz esperança para os pobres; proclamar a boa-Nova que liberta os encarcerados, ensimesmados, presos no eu. Voltar a Nazaré e escutar a Boa-nova que abre horizonte e deixa ver, contemplar, admirar. Aquela boa-Nova que tomou conta do nosso ser presbítero e que liberta os oprimidos, os destruídos, os presos por espíritos mudos e desencaminhados. Voltar e escutar a palavra que o Espírito nos faz presença de graça, pois um verdadeiro jubileu de esperança.”

Fazer memória

Em Nazaré nos encontramos para renovar as nossas promessas sacerdotais, pois celebramos o memorial de uma pertença”, afirmou o arcebispo, citando as palavras da celebração da Eucaristia: “Fazei isto em memória de mim”! Segundo ele, “o memorial que antecede à cruz salvadora: ‘fazei memória de mim’. Na participação do memorial, somos ordenados para memorar, para fazermos memória de Deus.”

“O memorial que fazemos com as comunidades, é ao mesmo tempo memória da história da salvação, história do Povo de Deus, mas também pessoal, pois benevolência de Deus para conosco. A memória do encontro com Deus que toma a iniciativa, que cria e salva, que nos transforma; a memória da Palavra que inflama o coração, salva, dá vida, purifica, cuida e alimenta. Na nossa vida e ministério fazemos memória no serviço, proclamando Deus no seu amor, na sua fidelidade, na sua compaixão. A nossa vida e missão e ministério como expressão do memorial na conformidade do Reino plenificado na Cruz”, refletiu o arcebispo de Manaus.

O cardeal Steiner ressaltou: “irmãs e irmãos, somos os seguidores e seguidoras de Jesus que fazem memória, deixando-nos guiar pelo Memorial em a nossa vida, e buscamos despertar para esse memorial do amor o coração dos irmãos e irmãs”. Diante disso, ele questionou: “Somos nós memória de Deus? Procedemos verdadeiramente como animadores esperançados que despertam nos outros a memória de Deus, que inflama o coração? Ou está Ele esquecido porque preocupados demais com uma religião de normas e preceitos?”, respondendo que “Jesus, memória da Trindade é caminho, verdade e vida!”

Isso porque, “todo discípulo missionário, toda discípula missionária, faz e é memória de Deus. Memória de Deus se há uma relação cotidiana, fontal, graciosa com Ele e com o próximo; se somos mulheres e homens de fé, que confiam filialmente em Deus e colocamos n’Ele a nossa segurança e esperança; se somos pessoas de amor, de consolo, que vemos a todos como irmãos e irmãs, também as criaturas; se enfrentamos as dificuldades com paciência e perseverança, as provas e os insucessos com serenidade e esperança como o Crucificado-ressuscitado. Todos nós fazemos memória, vivemos da memória e, por isso, somos memória de Deus! Se perdermos a memória de Deus, também nós mesmos perdemos consistência, o vigor, o tempero, nos esvaziamos, perdemos os traços de Deus”, disse inspirado nas palavras de Papa Francisco.

Renovar as promessas

Se dirigindo ao clero da arquidiocese de Manaus, seu arcebispo destacou que “hoje, queridos irmãos presbíteros, padres, ao revisitarmos Nazaré, renovamos as promessas sacerdotais, presbiterais. Faremos com o encanto e o entusiasmo do dia de nossa ordenação. Sem o temor da primeira vez, pois o renovamos depois de labutas, confrontos, alegrias, realizações, sustentados pelo Povo de Deus. Diante da Igreja aqui reunida desejamos, na força da missão e do ministério que recebemos e na graça do Espírito Santo que repousa sobre nós, reafirmar que nos nossos dias continua se cumprindo a Palavra que recebemos: anunciar a Boa-Nova aos pobres, proclamar a libertação os cativos, aos cegos a recuperação da vista, a libertação dos oprimidos, o esparramar da graça do Reino do Crucificado-ressuscitado! (cf. Lc 4,18-20).”

“Ao recordarmos e reafirmarmos a alma do primeiro amor de nossa vida presbiteral, desejamos ser memorial do amor que deixa o Povo de Deus estar a caminho. A memória do amor e da esperança que nos faz memória de Deus, nas palavras, nos gestos, a nossa presença. O memorial do ‘tomai e come’, ‘tomai e bebei’, como entrega benévola e doação gratuita da presença memorial de Deus nas comunidades”, explicitou o cardeal Steiner.

Ele pediu, inspirado no Ritual dos Santos óleos, que “ao voltarmos a Nazaré, ‘consagração a Deus’, invocaremos a benção sobre o óleo para os enfermos e para os catecúmenos; consagraremos o óleo do Santo Crisma. No dia do Santo Crisma admiramos o cuidado da Igreja em oferecer o óleo para a proteção e alívio do corpo, da alma e do espírito, para alívio da dor, da fraqueza, da enfermidade, enquanto peregrinos neste mundo. Admiramos o cuidado da Igreja em presentear o óleo para revestir as filhas e os filhos com as vestes da dignidade, da sabedoria do Ressuscitado. Na unção do óleo possam os batizados em Cristo, alegrar-se por terem renascido e viverem na Igreja, o Reino de Deus. Admiramos o cuidado da Igreja em consagrar o Crisma, sacramento de perfeita salvação e vida, para que os ungidos sejam templos da glória e manifestação da integridade da santidade. O óleo que cristifica o Povo de Deus, fazendo os ungidos participantes e herdeiros da Reino celeste.”

Óleos da esperança

Fazendo uma relação com o Ano Jubilar, o cardeal disse: “Os óleos, memoriais do nosso peregrinar na esperança! Óleos da esperança! ‘Somos, por graça do Evangelho e a unção, a esperança que não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado’ (Rm 5,5). Pela Crisma fomos ungidos, isto é, ‘cristificados’, unidos a Cristo e participantes da sua missão: ‘como o Pai me enviou, eu também vos envio’ (Jo20,21).”

“Todos louvamos e bendizemos a Deus por termos sido ungidos com o Espírito Santo que nos faz testemunhas e peregrinos ungidos de esperança. Irmãos presbíteros e diáconos, nós bispos e as comunidades agradecemos a vida e o ministério que cada um recebeu, e por servirem às comunidades. Louvamos e agradecemos, a disponibilidade, a fidelidade, a prontidão, a presbiteralidade que nos faz memória de Deus como Igreja em Manaus. Como não louvar e bendizer a Deus pelo cuidado e acolhimento junto às comunidades, famílias, doentes, jovens, idosos e crianças. Agradeço, como o fiz no ano passado, a vida de oração, de estudo, as horas que estão diante de Jesus: é nossa Igreja que silencia, se torna receptiva e reza. Agradecemos a Deus por serem homens que vivem simples, sabem codividir as dores, a alegrias, uma presença de esperança e santidade, de cuidado para com os outros presbíteros e os diáconos entre si. Deus abençoe a você caro irmão que aceitou servir as nossas comunidades do interior e as nossas comunidades das periferias, na quase pobreza. Estamos todos unidos no serviço, no ministério, no Espírito que nos ungiu e enviou”, afirmou o cardeal Steiner.

Rezem por nós, ungidos e enviados

Finalmente, o arcebispo de Manaus fez um pedido ao povo da arquidiocese: “Queridos irmãos e irmãs, rezem por nós que recebemos o Espírito Santo, fomos ungidos e enviados, para sermos fiéis à missão e ao ministério que recebemos como dom. Especialmente sejamos uma presença que encanta pela simplicidade, pela santidade, pela memória de Deus.”

E junto com isso, ele reforçou: “Queridos irmãos e irmãs, neste dia do Santo Crisma, deixemos vibrar em nós a palavra: ‘O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-Nova’! Sejamos todos anunciadores, anunciadoras do Reino novo. Rendamos graças, louvemos, exaltemos, pois fomos cristificados no Espírito Santo: a ele a glória e o poder, em eternidade. Amém!”

 

 

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