Deus criou o homem em harmonia com a natureza: foi o jardim, não o deserto, o seu primeiro berço. Após a queda, a natureza se mostra hostil, produzindo espinhos e cardos (cf. Gn 3,18), e a tarefa de ser o gerente da Criação (cf. Gn 1,28) tornou-se penosa. O próprio acesso ao jardim tornou-se proibido (cf. Gn 3,24).
Mas as promessas messiânicas sempre falavam de uma regeneração que, além do próprio homem, envolveria o restante da Criação. Isaías profetiza: “Yahweh transformará o seu deserto em um Éden e as suas estepes em um jardim de Yahweh”. (Is 51,4) As promessas a Israel sempre incluem o novo jardim: “Serão como um jardim bem regado, não voltarão a desfalecer”. (Jr 31,12)
Em uma região com vastos territórios áridos e rochosos, a imagem do jardim é símbolo de bênção divina, de fertilidade e de repouso, de prosperidade e paz. Ao longo dos séculos, permaneceu viva entre os hebreus a memória do paraíso perdido. Ez 28,13 acena para o Éden como um dom desperdiçado. O justo, ao contrário, é comparado a um jardim irrigado pela graça (cf. Is 58,11).
No AT, por outro lado, os jardins e os bosques foram locais de cultos a ídolos pagãos, o que mereceu severa condenação dos profetas: “Um povo que me provoca de frente sem cessar, sacrificando nos jardins, queimando incenso sobre lajes...” (Is 65,3)
No Cântico dos Cânticos, a amada é o “jardim fechado” que só abrirá a porta para seu amado (cf. Ct 4,12) por ocasião das bodas. A piedade cristã identificou-a com Maria, Mãe do Verbo, gerando numerosa produção artística. Local aprazível e protegido, torna-se o lugar dos encontros (cf. Ct 6,2). Foi no jardim que Maria Madalena confundiu Jesus ressuscitado com o jardineiro. Em um jardim – o Horto das Oliveiras – Jesus se retirava em oração e se reunia com seus discípulos (cf. Jo 18,1).
Enfim, o mesmo horto/jardim seria o local do agônico combate de Jesus, quando enfrentou o último ataque de Satã (cf. Lc 4,13; Lc 22,39-40). A gruta que serviu de túmulo para Jesus estava situada em um jardim (cf. Jo 19,41). A história dos homens voltava a seu início. A árvore da vida, perdida desde o Gênesis, fica novamente ao alcance do homem (cf. Ap 2,7).
Alguns textos bíblicos: Gn 13,10; Ct 5,1; Is 1,292-30; Jl 2,3;
(Do livro “Uma voz na nuvem – Símbolos da Bíblia” – Ed. Cultor de Livros – S. Paulo, 2021)
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