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15/11/2022 Luis Miguel Modino Edição 3953 COP27 - REPAM toma postura diante de “um percurso de hipocrisia climática”
F/ REPAM-Brasil
"Um fenômeno que denomina “a financeirização da natureza”, considerando “dramático poder calcular quanto pode valer uma árvore, um rio, uma população indígena”, um perigo quando se buscam essas falsas soluções, insistiu. Aos poucos a sociedade civil foi deixando de se posicionar frente à COP, algo que tem a ver com o fato desta COP ser realizada no Egito e a próxima na Arábia Saudita, dois países bem conhecidos pela sua falta de liberdade de expressão e perseguição de líderes ambientalistas."

Um momento de comunhão com os povos de diferentes pontos do mundo, que estavam em sintonia com aqueles que na noite do dia 10 de novembro, dento do Comitê Ampliado da Rede Eclesial Pan-Amazônica, realizado em Manaus os dias 10 e 11 de novembro, se reuniram para refletir sobre a COP27. Uma sintonia que nasce do fato de “sentir como nós sentimos que a Amazônia está no centro do mundo”, segundo o Padre Dário Bossi.

Um momento em que se fizeram representantes de outras igrejas, que na mesma data realizaram em Manaus o encontro "Amazônia de todas as Lutas”, organizado pela Coordenadoria Ecuménica de Serviço (CESE), que reuniu uma diversidade enorme de povos originários de toda a Amazônia Legal para escutar o clamor que vem dos povos originários, as suas lutas, as suas dores, os seus enfrentamentos, as suas resistências. Algo que a Pastora Sônia Mota, Diretora Executiva da CESE considera “um manancial, porque nos desinstala, porque nos incomoda, porque nos tira também do nosso chão e faz com que cada vez mais a gente se conecte uns com outros, umas com as outras, pelo cuidado da casa comum”

Pessoas que se sentem parte de um mesmo objetivo, o cuidado da casa comum, a “oikomene”, o que se faz realidade na caminhada em comum entre a REPAM e a CESE, nascida no Fórum Pan-Amazônico, onde foi criado um tapiri ecuménico, um tapiri interreligioso, que levou a “escutar os gritos da Amazônia, e como é que a gente enquanto comunidade de fé, enquanto pessoas que ouvem o Deus que cria, que nos dá para cuidar desta casa comum, qual é a nossa responsabilidade diante de um mundo que clama que quer respirar”, afirmou a pastora. “Diante de uma natureza tão degradada, de uma natureza tão vilipendiada, qual é a nossa responsabilidade?”, se questionou, chamado a se perguntar o que temos feito como sal da terra e luz do mundo que somos.

Uma COP27 que tem provocado uma grande insatisfação, sendo definida por alguns como “um percurso de hipocrisia climática”, segundo Padre Bossi, que lembrou as palavras do Secretário da ONU, Antônio Guterres, que diz que “o risco é de tornar a COP um slogan, uma campanha de mercado, uma cerimônia esvaziada”. O religioso Comboniano lembrou a força de outras COP, como Paris, logo depois da publicação da Encíclica Laudato Si´, o que provocou um entusiasmo, uma expectativa, metas bastante concretas de exigência, mas que não só não foram cumpridas, senão que hoje são vistas como inalcançáveis.

Num mundo que hoje vive uma insegurança energética que levou países desenvolvidos e tecnologicamente sofisticados, como a Alemanha, a retomar os combustíveis fósseis como fonte de energia, isso faz mais difíceis os acordos. Diante disso, o Padre Bossi fez ver que a COP continua porque “é conveniente oferecer falsas soluções, construídas e propostas por aquele próprio sistema que causou o aquecimento”. Daí denunciou que “o sistema capitalista agora sugere a venda dos créditos de carbono”, e junto com isso o fato de qualquer país do Norte Global poder seguir poluindo a condição de investir para um país do Sul Global absorver o CO2 que produz.

Um fenômeno que denomina “a financeirização da natureza”, considerando “dramático poder calcular quanto pode valer uma árvore, um rio, uma população indígena”, um perigo quando se buscam essas falsas soluções, insistiu. Aos poucos a sociedade civil foi deixando de se posicionar frente à COP, algo que tem a ver com o fato desta COP ser realizada no Egito e a próxima na Arábia Saudita, dois países bem conhecidos pela sua falta de liberdade de expressão e perseguição de líderes ambientalistas.

Isso faz com que as pessoas se sintam COP em diferentes lugares do mundo, insistindo em que “a solução à crise climática vem da sofisticada tecnologia dos povos em seus territórios, ela vem daquela experiencia amadurecida ancestralmente, de uma convivência equilibrada com a natureza, onde ninguém domina ninguém. Mas essa solução é tão distante do modelo que temos construído que não convém propô-la e defendê-la”. Uma situação que levou o Padre Dário a pedir uma reforma das Nações Unidas, “para que os povos tenham voz, acima inclusive da economia e dos governos”.

Diante de tudo isso, a REPAM tem tomado posição, com uma Declaração de Manaus diante da COP27, “para seguir gritando junto com o Papa Francisco, por seu sonho de uma Amazônia que luta por seus direitos, os direitos dos mais esquecidos”, denunciando a situação da terra, dos rios, do ar, “numa corrida desenfreada rumo à morte”, e exigindo “mudanças radicais e urgentes”, para evitar consequências catastróficas para todo o planeta. Por isso, deixa claro que “Sem a Amazônia, não há vida nem humanidade possível”.

Uma realidade que leva a REPAM a dar um basta diante de acordos que ficam como letra morta, da falta de uma promoção eficaz dos direitos humanos, sobretudo dos povos da Amazônia. Um mundo chamado a olhar para os verdadeiros sábios e sábias sobre a água, a terra, as árvores e as plantas, ainda mais diante de uma atitude que Querida Amazônia chama de “injustiça e crime”.

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