Formação Bíblia
Compartilhe esta notícia:
27/07/2022 Denilson Mariano e João Resende Edição 3949 Deus está com você: Mês da bíblia 2022 (1/3)
F/ encrypted-tbn0
"O nosso mês da Bíblia, com o estudo do livro de Josué, deve nos levar a ter uma consciência crítica. Olhos abertos para os acontecimentos, para a realidade, sempre nos perguntando: como anda nossa Terra brasileira? A exemplo de Josué, fazer uma leitura crítica da real situação de nossa Terra e das condições de vida do nosso povo. Nossa fidelidade a Deus deve nos conduzir a uma luta pela Terra e pela vida para todos."

O Mês da Bíblia, celebrado no Brasil desde 1971, pretende ser um tempo privilegiado para aprofundar o estudo de um livro ou uma temática bíblica. Este ano a Igreja nos convida a aprofundar o Livro de Josué. Seu lema é "O Senhor teu Deus está contigo por onde quer que vás" (Js 1, 9).

O Livro de Josué trata da conquista da Terra de Canaã após a longa travessia pelo deserto. A Terra Prometida, e não Josué, é o personagem principal desse livro. Embora o livro de Josué apresente a conquista da Terra como fruto de uma geração, essa conquista foi resultado de um processo lento e demorado, às vezes pacífico, às vezes violento, que durou mais de dois séculos: iniciou no ano 1300 a.C. e só foi concluída no reinado de Davi (1000 a.C.).

O livro de Josué descreve a ação de Deus na vida do seu povo escolhido, sempre pronto a combater em favor de quem lhe demonstra fidelidade. Procura mostrar porque depois de ocupar a Terra Prometida e viver nela por longos anos, o povo perdeu a terra e foi levado para o exílio na Babilônia (597 e 587 a.C.). A redação final do livro de Josué se dá por ocasião da volta deste exílio (450 a 400 a.C.). O livro tem vários redatores, de épocas e grupos sociais diferentes, sua preocupação não é primeiramente escrever a história do povo, mas interpretar a história, destacando que Deus cumpre a sua promessa, garante a vida do povo, mas este nem sempre caminha na fidelidade.

Terra: dom de Deus e conquista humana

Josué, filho de Num, significa “o Senhor salva”. Ele acompanhou Moisés e tornou-se o seu sucessor, dando continuidade à caminhada do povo. Ele tem a missão de organizar o povo para a conquista da Terra, fonte de vida e de dignidade (cf. Js 1,1-9). Para melhor entender os acontecimentos, é preciso lembrar que, por volta do ano 1300 a.C, uma parte do povo explorado, que vivia nas planícies da Canaã, foge da exploração, refugiando-se nas montanhas, fugindo do controle dos reis e do faraó. A partir do ano 1200 a.C, o grupo, que saiu do Egito e atravessou o deserto, se insere nas pequenas aldeias já existentes nas montanhas de Canaã, iniciando um novo jeito de viver, partilhando a terra, os bens e as decisões.

Cada vez mais, foi-se firmando a fé no Deus dos antepassados. Ele prometera a Josué que não o abandonaria, nem o desampararia. Mas para isso era preciso permanecer “firme e corajoso”. O que é pedido a Josué é um apelo, que devia ser levado a sério por todo o povo (cf. Js 24, 15). Por isso, a insistência em ser perseverante na Palavra; aí a garantia de uma vida feliz. O sucesso da comunidade passa pela observância prática da Palavra e pelo cuidado de agir conforme a Lei do Senhor. Não se desviar dela, nem para a direita nem para a esquerda... A fidelidade dava garantia: “o Senhor, teu Deus, estará contigo, por onde quer que vás!” (Js 1, 9).

Josué é destacado como aquele que procura manter o povo no rumo da Aliança com Deus e zelando pela fidelidade do povo a Deus. Ele organiza o povo para enfrentar os reis das cidades estado, localizadas na planície. Prepara provisões, deixa um grupo em lugar seguro com as mulheres, crianças e o rebanho, enquanto outro grupo se prepara para luta (Js 1, 14), para isso era fundamental a união do povo (Js 1, 16-17). A conquista e tomada de posse da terra é em função de um futuro de vida e de esperança: partilha, justiça e fraternidade deveriam acompanhar a luta pela Terra e a nova organização sobre ela. Os relatos são feitos de forma heroica, quase mítica, mostrando a grandeza e a importância da Terra para o povo de Deus.

Do ontem para hoje

O Livro de Josué revela que a conquista da Terra não é trabalho de uma só pessoa, é trabalho coletivo de todo o povo. Um processo lento que exige perseverança, firmeza, coragem. Que exige fidelidade a Deus e a Seu projeto de vida. Revela também a atual necessidade de partilha dos bens e da terra. A Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, em junho de 2022, divulgou que mais de 33 milhões de brasileiros passam fome. Mais da metade da população brasileira (53,8%) vive com insegurança alimentar.

Importa lembrar que, em nossos dias, a Palavra de Deus vem sendo instrumentalizada para beneficiar os interesses dos grandes, contra as reais necessidades do povo. Isso fica visível na forma de agir e de votar de algumas bancadas no Congresso: como as bancadas dos Bancos, da Bala, da Bíblia e do Boi (agronegócio). Elas manipulam a Palavra de Deus e a religião, em prejuízo do povo. Desviam a atenção do povo, apresentando-se como defensores da “moral”, da família e da religiosidade. Defendem uma política controlada pelo sistema financeiro, na liberdade individual. Vão transformando a nossa Terra, no país das desigualdades e das injustiças, como se isso fosse uma coisa normal.

Enquanto, na pandemia, morreu muita gente por falta de uma política pública de saúde mais adequada, a riqueza dos bilionários aumentou em 5 trilhões de dólares e fizeram o Brasil voltar ao mapa da fome. O latifúndio invade cada vez mais as terras indígenas juntamente com as mineradoras. Os danos causados pela exploração da natureza são maiores que os ganhos. Estamos sofrendo as consequências dos transtornos climáticos, com enchentes, secas, avalanches, com perda de muitas vidas humanas, além da destruição da nossa biodiversidade. Nosso planeta está ficando desequilibrado.

O nosso mês da Bíblia, com o estudo do livro de Josué, deve nos levar a ter uma consciência crítica. Olhos abertos para os acontecimentos, para a realidade, sempre nos perguntando: como anda nossa Terra brasileira? A exemplo de Josué, fazer uma leitura crítica da real situação de nossa Terra e das condições de vida do nosso povo. Nossa fidelidade a Deus deve nos conduzir a uma luta pela Terra e pela vida para todos. A partir do povo de Canaã e, hoje, dos povos indígenas, descobrir e reunir os focos de resistências que estão surgindo. Nossa fé tem consequências sociais e não pode ficar indiferente aos clamores dos sofredores e aos gritos da Mãe-Terra. Cuidar bem do povo e da Terra, nossa Casa Comum, é uma ordem de Deus. A fidelidade a Deus e à Sua Palavra é garantia de vida para o seu povo.

O Mês da Bíblia 2022 nos ajuda a refletir sobre a importância da Terra na nossa história. A Terra é um dom que nos garante a vida com dignidade, que não é propriedade, mas presente de Deus. A Terra precisa ser repartida, cuidada, preservada. O Mês da Bíblia vem para alimentar nossa fé e nossa esperança no projeto de Deus que quer terra, pão, vida e futuro para todos. Ele nos ajuda a perceber, em toda a trajetória do povo brasileiro, a presença benevolente de Deus. Ele está conosco, mas quer que também nós estejamos com Ele, abraçando o seu projeto de justiça e fraternidade para todos.

Para aprofundamento: Nossas escolhas e decisões sociais revelam que estamos seguindo a Palavra de Deus ou nos desviando dela? Dê exemplos.

Leia também:
Clamor pelo cessar do ensurdecedor barulho dos tiros que ceifam vidas
O jovem e sua relação com a música

Um sinal para a Vida Religiosa Consagrada

A missão que marcou a vida

Bispos do Leste III escrevem carta sobre a melhor política

Norte 1 e Noroeste encerram visita ad limina

Escuta, clareza e avançar sem medo

CNLB realiza sua 40ª Assembleia Geral em São Luís-MA

Revisitar o passado, fazer memória

Mensagem do IV Encontro da Igreja na Amazônia legal

Santarém: Texto muito simples, mas prático...

O mundanismo, o funcionalismo e o pragmatismo...

50 anos de Santarém: Igreja com vitalidade...

Carta do Papa pelos 50 anos do Documento de Santarém

"O protesto dos pobres é a voz de Deus" 

Papa Francisco, a Sinodalidade e a eclesiogênese

"A Igreja da Amazônia não ficou esquecida do Papa"

Inteligência artificial, luz para a evangelização

Obrigados a desobedecer

Encontro Eclesial da Região Andina

Acesse este link para entrar nosso grupo do WhatsApp: Revista O Lutador Você receberá as novas postagens da Revista O Lutador.

Compartilhe esta notícia:
Nome:
E-mail:
E-mail do amigo:
DEIXE UM COMENTÁRIO
TAGS
ÚLTIMAS NOTÍCIAS