Por Celso Pinto Carias
Antes que alguém diga que o comunismo é mais diabólico ou tão diabólico quanto, deixe-me lembrar o óbvio: aqui vamos discorrer sobre o CAPITALISMO. Tem sido uma situação horrível ter que justificar afirmações negando outras, ainda mais quando se trata de negar o que não tem fundamento.
Franz Hinkelammert, Hugo Assmann, Jung Mo sung, entre outros, tem nos lembrado do caráter idolátrico do capitalismo. Mas recentemente Byung-Chul Han tem apontado para o caráter auto exploratório do sistema econômico sobre as pessoas, no sentido de não haver necessidade de um “capataz” que faça o papel de fiscal dos mecanismos da relação entre trabalho e capital. Mas aqui queremos apenas olhar para a realidade sob o prisma de alguém que vive na periferia há 63 anos e pôde juntar a análise com a observação do cotidiano.
“Diabólico” é aquilo que divide.
Muitos sabem que a origem grega da palavra “diabólico” é aquilo que divide. “Simbólico” é aquilo que une. Portanto, estaremos aqui, de forma sintética, falando de um mecanismo que é experimentado social e subjetivamente como uma grande divisão que empurra pessoas para uma morte lenta e psiquicamente dolorosa. Não há, via de regra, um “paredão de fuzilamento”, mas a dor e o sofrimento são injetados na veia da maioria absoluta da população planetária, naturalizando tudo, ou seja, criando uma cultura na qual, por exemplo, a morte violenta de inocentes é vista como um efeito indesejado, mas necessário.
O capitalismo promete o “Eldorado” para todas as pessoas, sob a alegação de que basta trabalhar muito que um dia você conquistará todos os seus sonhos. Meu pai, que faleceu aos 54 anos, com uma hérnia estrangulada, pois trabalhava muito e não tinha tempo de cuidar da saúde, dizia: “Se Sílvio Santos conseguiu, sendo ele um camelô, eu também conseguirei”. Meu pai foi camelô e não conseguiu nem 0,1% do patrimônio do ilustre apresentador falecido. Foi na sua morte que fui para a luta social, pois ele não morreu por vontade de Deus, mas por culpa de um sistema que não reconhece a dignidade fundamental de toda pessoa humana.
Aqui está a perversidade do sistema: a culpa é sempre do indivíduo. Certamente existem pessoas que podem ser catalogadas como “preguiçosas”, mas generalizar para bilhões de pessoas no planeta é uma estupidez. Por que existe fome no mundo? Não é porque as pessoas não desejem trabalhar. Existe uma profunda desigualdade social impossibilitando que as pessoas possam nascer, viver e morrer com dignidade, pois não há partilha, e Jesus já sabia disso quando promoveu a partilha dos peixes e dos pães.
O capitalismo é a forma moderna e legal da escravidão.
As pessoas precisam estar convencidas de que pelo trabalho terão sua dignidade e poderão, no futuro, ter uma aposentadoria tranquila. Para isso, o sistema, religiosamente, afirma que você pode. Basta ter força de vontade. Ora, peguemos um exemplo urbano: o trabalhador, a trabalhadora, acorda quatro da madrugada, gasta duas horas no trânsito, volta para casa à noite, e pode, ou não, ter uma folga por semana (6 x 1). Essa pessoa mal consegue ter tempo e recurso para o lazer. Só vai ao médico em emergências para conseguir abonar um ou dois dias do seu trabalho, não há tratamento preventivo. Então, essa pessoa tem vida? Isso, quando tem emprego.
Falam de empreendedorismo. Ora, um motorista de aplicativo precisa trabalhar mais de dez horas por dia para ter uma boa renda, sem garantias trabalhistas e previdenciárias. Mas alguém pode objetar: “É melhor do que ficar desempregado”. Por favor, podemos ir com este argumento até ao “trabalho análogo à escravidão”, termo técnico de uma ilegalidade trabalhista ainda muito presente no Brasil.
Hoje, a expectativa de vida vem crescendo no mundo. Porém, é graças à indústria farmacêutica, pois se vive por mais tempo, mas não necessariamente melhor. Crescem as doenças psíquicas e psiquiátricas, cresce inclusive o suicídio. Sem falar nos entorpecentes virtuais. Assim, o crescimento do capital é garantido pela força de trabalho de pessoas que trabalham, muitas vezes, até a morte, como o meu pai.
Dentro do capitalismo não há salvação.
Há muito estudo sobre tal realidade que infelizmente não é decodificada para a grande massa trabalhadora. Aqui entra o que Han chama de “psicopolítica”, uma forma de converter mentes e corações para sua própria destruição. Quero apenas chamar atenção para um fator chave, que mesmo pessoas progressistas estão deixando de lado: dentro do capitalismo não há salvação.
E a solução? Como tudo na história, a solução dependerá de um longo processo. Talvez não tenhamos tempo, pois a crise climática está aí. Contudo, podemos aprender com os povos tradicionais, com a nossa ancestralidade. Em 2023 publiquei um pequeno artigo que apontava soluções (https://portaldascebs.org.br/por-um-novo-projeto-de-sociedade/). Difícil, pois como o capitalismo é diabólico, muitos o criticam, mas sem abrir mão daquilo que a lógica do consumo, mola mestra do sistema, proporciona. Como diria o Mestre Jesus de Nazaré, se o grão de trigo não morrer, não haverá fruto. Quantos de nós estamos dispostos a mudar o rumo de nossas vidas? Só o BEM VIVER será capaz de prolongar a vida na terra. Vida dada por Deus para ser administrada responsavelmente, e não dominada: “Considerai como crescem os lírios, como não fiam, nem tecem. Contudo, eu vos asseguro que nem Salomão, com todo o seu esplendor, se vestiu como um deles.” (Lc 12,27).
*Celso Carias é teólogo, escritor e professor da PUC-Rio. Assessor das CEBs.
Utilitaristas, descobriram que não precisa saber muita coisa; basta repetir ,repetir e repetir as mesmices que ouviram de um outro pregador. Crer e ser piedoso é necessário , mas também é necessário ser estudioso da fé, sobretudo da fé que veio com Jesus e com os apóstolos.
19 julho 2025[Frei Betto] A ciranda funciona assim: o governo vende títulos a investidores (bancos, fundos de investimentos, empresas ou pessoas físicas) e, em troca, recebe dinheiro imediatamente. No vencimento do título (ou de parcelas), o governo devolve o valor acrescido de juros. Portanto, quanto mais altos os juros (como agora), mais os especuladores do mercado financeiro embolsam dinheiro.
19 julho 2025Então algo inédito poderia acontecer. Todos os humanos, sentindo-se partes da natureza e seus guardiães, conviveriam em sinergia com o todo. O reino das necessidades teria ficado para trás e todos gozariam dos benefícios do reino da liberdade, agradecidos ao Criador, vivendo felizes e em paz perene, sob a luz e o calor benfazejos do sol.
19 julho 2025[Celso Carias] Há muito estudo sobre tal realidade que infelizmente não é decodificada para a grande massa trabalhadora. Aqui entra o que Han chama de “psicopolítica”, uma forma de converter mentes e corações para sua própria destruição. Quero apenas chamar atenção para um fator chave, que mesmo pessoas progressistas estão deixando de lado: dentro do capitalismo não há salvação.
19 julho 2025