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Tempo de ser “Igreja pobre para os pobres”

Por Pe. Joaquim Jocélio

Como estamos refletindo, o Jubileu é um tempo de renovação, de mudança, é tempo especial da graça do Senhor. Como Jesus mesmo anunciou na sinagoga de sua terra Nazaré, é tempo de Evangelizar os pobres e instaurar o Ano da Graça do Senhor (Cf. Lc 4,18-19). Os pobres estão no coração do Evangelho, por isso devem estar no coração da Igreja. O papa Francisco nos ajudou muito a recordar esse dogma de fé fundamental: A centralidade dos pobres. Assim, o Jubileu é o tempo propício para que possamos nos renovar e sermos cada dia mais Igreja dos pobres, pois só assim, seremos Igreja de Jesus.

Aqui, duas palavras são muito importantes: Renovação e Libertação. Como vimos, o Jubileu celebrado a cada 50 anos em Israel era um momento especial em que as vidas do povo deveriam ser transformadas; era um tempo de mudança. Além disso, essa renovação passava pela libertação dos oprimidos da terra, pelo perdão das dívidas e libertação dos escravizados, pelo cuidado com a terra e com os irmãos e irmãs. Mais recentemente, a Igreja passou por dois profundos processos de renovação e libertação: O Concílio Vaticano II e sua retomada criativa que foi o ministério pastoral do papa Francisco. O Concílio abriu as portas da Igreja para o mundo e se reconciliou com uma sociedade que antes era vista como sua inimiga. Ele afirmou que “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração” (GS 1). Francisco retomou de forma criativa essa renovação conciliar atualizando-a para nossos dias.

Primeiro, ele reconheceu que “derrubadas as muralhas que, por demasiado tempo, tinham encerrado a Igreja numa cidadela privilegiada, chegara o tempo de anunciar o Evangelho de maneira nova” (MV 4). Ou seja, com o Concílio, se encerrou a ideia da Igreja como uma cidadela (cidade de guerra) cercada de todos os lados por inimigos. Francisco deu continuidade a essa renovação dizendo que a Igreja não deve estar preocupada em ser o centro, mas deve estar em saída para as periferias (Cf. EG 20, 30, 49). E para isso, é preciso ser uma Igreja pobre e para os pobres (Cf. EG 198). Francisco assumiu com toda força a tradição libertadora latino-americana que é fruto da recepção do Concílio em nossas terras por meio das Conferências de Medellín (1968) e de Puebla (1979). Para garantir que essa renovação da Igreja continuasse e se desse a partir dos pobres, Francisco convocou o Sínodo sobre a Sinodalidade e recordou no discurso de abertura da última Sessão que aquela assembleia deveria dar “o seu contributo para a construção duma Igreja sinodal em missão, que saiba sair de si mesma e habitar as periferias geográficas e existenciais”. Para isso o Sínodo foi convocado, para a construção de uma Igreja que saia cada vez mais rumo às periferias. Uma Igreja de pé e em saída, como Francisco enfatizou na missa de encerramento do Sínodo: “Irmãos e irmãs: não uma Igreja sentada, mas uma Igreja em pé. Não uma Igreja muda, mas uma Igreja que acolhe o grito da humanidade. Não uma Igreja cega, mas uma Igreja iluminada por Cristo, que leva aos outros a luz do Evangelho. Não uma Igreja estática, mas uma Igreja missionária, que caminha com o Senhor pelas estradas do mundo”.

Há quem queria aproveitar o Ano Jubilar como uma forma de fazer o Sínodo ser esquecido e a renovação realizada por ele ser vista como algo que já passou. Na verdade, é justamente o contrário. Por ser um tempo de renovação, é o momento exato de aplicar as decisões do Documento Final do Sínodo. Por isso, mesmo no hospital, dias antes de falecer, Francisco aprovou o período de implementação do Sínodo a se concluir em 2028 com uma assembleia de todos os membros do povo de Deus. E o papa Leão XIV já deu o aval para os encaminhamentos desse processo. O Ano Jubilar é tempo propício para a renovação sinodal da Igreja, seguindo a linha do Concílio e do ministério pastoral do papa Francisco. Mas antes de tudo, essa renovação deve se dar a partir dos pobres. Como afirmou o papa Leão XIV na sua mensagem para o 9º Dia Mundial dos pobres: “o Dia Mundial dos Pobres pretende recordar às nossas comunidades que os pobres estão no centro de toda a ação pastoral. Não só na sua dimensão caritativa, mas igualmente naquilo que a Igreja celebra e anuncia… Os pobres não são objetos da nossa pastoral, mas sujeitos criativos que nos estimulam a encontrar sempre novas formas de viver o Evangelho hoje”.

O papa Leão recordou que os pobres devem estar no centro não só das nossas ações de solidariedade, mas também de nossas liturgias e celebrações, bem como catequeses e pregações, pois eles nos ensinam novas formas de viver o Evangelho hoje, ou seja, nos ensinam por onde vai a renovação da Igreja. Sigamos, pois, nesse Ano Jubilar, a missão de nos renovarmos a partir dos últimos para sermos mais fiéis ao Evangelho. Afinal, como afirma o Sínodo, “a Igreja é chamada a ser pobre com os pobres, que muitas vezes são a maioria dos Fiéis, a escutá-los e a considerá-los sujeitos da evangelização, aprendendo juntos a reconhecer os carismas que eles recebem do Espírito” (DF 19).

Joaquim Jocélio é presbítero na Arquidiocese de Fortaleza - CE

Fonte: Portal das CEBs 

 

 

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Extras

Uma Igreja que saia cada vez mais rumo às periferias. Uma Igreja de pé e em saída, como Francisco enfatizou na missa de encerramento do Sínodo: “Irmãos e irmãs: não uma Igreja sentada, mas uma Igreja em pé. Não uma Igreja muda, mas uma Igreja que acolhe o grito da humanidade.

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