Por Antônio Carlos Santini
10/03/2025 – Entrai na herança do Reino! (Mt 25,31-46)
Nós podemos viver nossa religião como mendigos, tentando arrancar uma esmolinha de Deus, como se ele não fosse realmente nosso Pai. O filho pródigo cometeu este engano: chegou a propor ao Pai que o tratasse como servo da casa, como se fosse possível a um pai deixar de ser pai...
Também podemos viver nossa religião como verdadeiros atletas olímpicos, tentando exercitar os músculos das virtudes e, após longo e penoso treinamento, vencer a olimpíada do espírito e subir no alto do pódio, coroados com os louros celestes. Com os anjos aplaudindo, é claro!
Podemos viver ainda a nossa religião como alquimistas medievais, debruçados sobre velhos pergaminhos, em busca da pedra filosofal e de seus profundos segredos. Uma vez dominado o secreto conhecimento das coisas divinas, tomaremos posse do céu num piscar de olhos: pura mágica!
De uma forma ou de outra, estamos longe da estrada real. Nem mendigos, nem recordistas, nem “iluminados”. Cristianismo é outra coisa... O cristão – desde o seu Batismo – foi adotado como filho. Já não é mais escravo. Nem mesmo simples criatura. Na estatura de filho, o cristão tem direito à herança!
Lembra-se de Abrão e de sua queixa ao Senhor Javé? Velho e sem herdeiros, sua herança acabaria nas mãos do escravo que vivia em sua casa (cf. Gn 15,2). Mas, apesar da gemedeira do ancião, Deus tinha outros planos, que incluíam uma numerosa descendência para Abraão, culminando com o nascimento de Jesus.
Isto devia ser bem claro para nós: somos herdeiros de Deus. Em Jesus Cristo, o Filho do Pai - enxertados em seu corpo através da Eucaristia -, o que espera por nós é uma herança que não se traduz absolutamente em valores materiais, objetos, terras e rebanhos. Nossa herança é o próprio Senhor!
Mas nossa herança é típica, diferente de todas as outras. Os outros herdeiros devem esperar a morte do pai para terem acesso à herança. Em nosso caso, já não há nada a esperar. Afinal, Jesus já morreu por nós. Isto quer dizer que podemos tomar posse da herança desde já, aqui na terra, ainda que de modo parcial. Já é possível viver nossa condição de herdeiros em nosso dia a dia, fruindo o amor infinito que o Pai derrama sobre “todo homem que vem a este mundo”.
Se eu fosse Deus e Pai, ficaria muito chateado com essa desesperada multidão de mendigos...
Orai sem cessar: “O Senhor é minha herança e minha parte na taça.” (Sl 16,5)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
"Já que sois meu Pai, ó meu Deus, quanto eu devo sempre esperar em Vós! Mas também, já que sois tão bom para mim, quanto eu devo ser bom para os outros! Já que Vós quereis ser meu Pai e Pai de todos os homens, como eu devo ter para todo homem..."
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