Recentemente celebramos o Dia Internacional da Mulher, data que deveria chamar nossa atenção para o fato de que a mulher ainda padece muito em uma sociedade estruturada a partir do masculino. Começando pela linguagem e passando por toda organização dos papéis sociais, a mulher vive à sombra do homem, o grande protagonista “natural” da história. Os direitos civis das mulheres, tanto no Ocidente como no Oriente, estão sempre sobre a corda bamba, e a tentativa de recolocar a mulher em um lugar de submissão tem voltado com força total pelas vias religiosas no mundo e no Brasil. As mulheres durante a alta idade média conheceram um florescimento do seu papel social. Em grande parte isso se deu ao fato de que os homens, ocupados com as guerras e ausentes de suas comunidades, deixavam às mulheres os papéis de governo nas tribos bárbaras que estavam dando origem ao feudalismo. No entanto, com o advento da modernidade a centralização e a hierarquização do poder nas mãos dos homens voltará a jogar as mulheres a um papel secundário. E não só. As mulheres começarão a serem vistas com desconfiança por uma sociedade pensada a partir da lógica patriarcal e por quatro longos séculos a caça as bruxas perseguiu, em terrenos católicos e protestante, mulheres que exerciam determinado protagonismo social.
Mulheres não são objetos dos homens No século passado as mulheres foram conquistando direitos, em meio a muita oposição dos homens. Com o passar do tempo as mulheres começaram a entender que não são objetos dos homens e que possuem vontades, direitos, voz, competências e claro, liberdade. Não foi fácil a elas conquistar esses direitos que nós dizíamos ser exclusivos nossos. Parecia que o lugar das mulheres estava garantido, mas não é bem assim. Vimos retorcer os direitos femininos primeiro em países islâmicos e hoje o “Ocidente cristão” começa a debater-se contra o protagonismo feminino. A Igreja Católica, que nunca consegui precisar um lugar específico para a mulher, durante o pontificado do Papa Francisco avançou consideravelmente no sentido de reconhecer o espaço da mulher na igreja. Ainda que de momento permaneça fechada a discussão sobre a ordenação de mulheres, a Cúria Romana começou a ser arejada por ares novos, a partir da inclusão das mulheres nos lugares de tomada de decisão. Francisco, pela primeira vez nomeou uma mulher para presidir um dos dicastérios da Cúria. A Ir. Simona Brambilla é a atual Prefeita do Dicastério para a Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica. A Ir. Raffaela Petrini hoje preside o Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano. Poucos anos atrás o próprio chanceler do Vicariato de Roma foi substituído pela atual chanceler, a Dra. Maria Teresa Romano. Durante o Sínodo, pela primeira vez na nossa história, mulheres tiveram papéis de destaque e direito a voto. Francisco começou um caminho de empoderamento da mulher dentro da Igreja.
Exegeses caducas e acríticas Exatamente contra tudo isso coloca-se hoje a extrema-direita religiosa. Sustentando discursos sobre exegeses caducas e acríticas, religiosos insistem no papel secundário da mulher, como se isso fosse uma designação divina e não cultural. Ficou famosa a fala do Frei Gilson que, exatamente no último oito de março, declarou ser uma “fraqueza da mulher” o não se contentar em ter as “qualidades normais de uma mulher”: “uma mulher que quer mais – vou até usar a palavra que vocês escutam muito - empoderamento”. Logo depois ele afirmou que os homens devem ter o comando social: “é claro ver que Deus deu ao homem a liderança. É claro ver que Deus deu ao homem ser o chefe, isso está na Bíblia! O homem é o chefe do lar, mas a mulher tem o desejo de poder. Não é desejo de serviço, desejo de poder. Repito a palavra: empoderamento. Essa palavra é do mundo atual”. Tal discurso, por mais obtuso que seja, voltou a ser disseminado nas igrejas, especialmente usando a força das redes sociais. Mesmo sendo de uma misoginia incontestável, milhares de mulheres apoiam esse discurso e aceitam ser uma “fraqueza” esse desejo de ter direitos e competências sociais. Isso demonstra o quão perigoso é a instrumentalização da religião por grupos de estrema direita. A diminuição da mulher a uma simples auxiliar do homem é uma ideologia que se desenvolveu fortemente dentro das igrejas e a Igreja Católica não foi exceção. O mais impressionante é ver a contradição, no seio da Igreja Católica atual, entre esses discursos e a prática do Papa Francisco de conceder lugares de poder à mulheres. Gostaria de saber se o frei é contrário ao posicionamento do atual Sumo Pontífice, pois sua fala vai na contramão do magistério de Francisco. Oxalá o bom Deus, Pai e Mãe (como já dizia o Papa João Paulo I), faça a sociedade acordar desse sono fanático que a está envolvendo progressivamente. Para isso, não tenho dúvidas, é necessário que as mulheres continuem lutando por seus direitos, denunciando toda e qualquer ideologia, religiosa ou laica, que as queiram calar. Acabou a época de caça às bruxas!
Como se não bastasse a água mudada em vinho, o pão multiplicado, os doentes curados, cegos que veem, paralíticos que carregam sua padiola pelas ruas, os inimigos de Jesus insistem em tentá-lo: “mostra-nos um sinal”.
"Já que sois meu Pai, ó meu Deus, quanto eu devo sempre esperar em Vós! Mas também, já que sois tão bom para mim, quanto eu devo ser bom para os outros! Já que Vós quereis ser meu Pai e Pai de todos os homens, como eu devo ter para todo homem..."
A prevenção do abuso sexual na Igreja Católica é crucial devido ao impacto devastador sobre as vítimas e a comunidade. Um caminho sem volta atrás que o Papa Francisco tem impulsionado, sobretudo com o Motu Próprio “Vos Estis Lux Mundi”
Oxalá o bom Deus, Pai e Mãe (como já dizia o Papa João Paulo I), faça a sociedade acordar desse sono fanático que a está envolvendo progressivamente. Para isso, não tenho dúvidas, é necessário que as mulheres continuem lutando por seus direitos, denunciando toda e qualquer ideologia, religiosa ou laica, que as queiram calar. Acabou a época de caça às bruxas!