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Cardeal Steiner: “A questão das relações da comunidade, das relações interpessoais, cada vez mais exige um cultivo”

Por Luis Miguel Modino

A sinodalidade tem sido o fio condutor da 52ª Assembleia Regional Norte 1, realizada em Manaus de 15 a 18 de setembro de 2025. Um regional onde “Jesus Cristo é anunciado com clareza”, segundo disse o bispo auxiliar de Manaus, dom Zenildo Lima. A assembleia é momento para trabalhar a identidade em nível regional, mas também nas nove igrejas locais que fazem parte dele.

O horizonte do Reino de Deus

Uma identidade que segundo o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte 1, cardeal Leonardo Steiner, deve ter como perspectiva “o horizonte do Reino de Deus”. Isso em uma Igreja com elementos marcantes e com o desafio de procurar o caminho para promover uma evangelização sinodal. Uma evangelização que acontece em uma sociedade marcada pela realidade política, as redes sociais e a internet como espaço em disputa e como instrumento de manipulação, gerando uma espiritualidade de guerra e de combate aos outros. Junto com isso, o impacto das facções, do garimpo, da pirataria, das guerras urbanas, do narcotráfico no território e nas pessoas.

Também por uma realidade eclesial marcada pelo individualismo, a fragilidade da identidade católica, a falta de pertença e de inserção eclesial, a preocupação com a vida comunitária, lugar privilegiado para a vivência da fé e da formação para o discipulado missionário. Igualmente foi destacada a mobilidade religiosa, o avanço de grupos evangélicos neopentecostais de modo sistemático e organizado, a espiritualidade marcada pela teologia da prosperidade e do domínio, realidades que interpelam a evangelização sinodal.

Esses caminhos de evangelização devem ter alguns elementos destacados: a Palavra de Deus, no estudo, na celebração, nos círculos bíblicos; a Iniciação à Vida Cristã como formação para o discipulado; as comunidades, lugar de evangelização, de formação do sujeito e da promoção da vida plena, de preocupação com a ecologia integral; a identidade missionária, caminho e fundamento da evangelização sinodal; a atenção aos jovens; a opção pelos pobres, como cabeçalho do comprometimento.

Continuar criando processos

Nessa perspectiva, a secretária executiva, Ir. Rose Bertoldo, ressalta no Regional Norte 1 “a responsabilidade de continuar criando processos que depois vão se desencadeando nas igrejas locais, bem como nas pastorais sociais”. A secretária executiva destaca a importância das dioceses continuar estudando o Documento Final do Sínodo da Sinodalidade, ajudando aos poucos a moldar o futuro da Evangelização no Regional. Por isso, a ideia de “dar a conhecer o documento para as nossas lideranças que estão lá nas comunidades”.

Comunidade, formação, fé

Reafirmar a comunidade” deve ser sempre o propósito na Igreja católica, segundo o arcebispo de Manaus. Algo que deve ser feito, “pessoa a pessoa, não virtual”, em uma sociedade em que diante do avança da tecnologia e da Inteligência Artificial, “as relações não estão mais sendo construídas, mesmo familiarmente”, sublinha o cardeal. Ele destaca “a questão das relações da comunidade, das relações interpessoais, cada vez mais exige um cultivo”.

Igualmente, o presidente do Regional Norte 1 ressalta a questão da formação para todos, um elemento destacado no Sínodo da Sinodalidade e na reflexão da 52ª Assembleia Regional Norte 1. Uma formação “para poder darmos as razões da nossa fé”, e que deve ser oferecida às comunidades. Junto com isso a eclesialidade sinodal, um caminho feito no Regional Norte 1, mas que deve ser aprofundado. Refletindo sobre a avaliação, o cardeal Steiner afirma que “nós poderíamos avaliar as nossas ações, nossos projetos, mas é tão difícil, quase impossível, avaliar a fé, até que ponto nós cremos”. Nesse sentido, ele disse ter a impressão de que “a fé é que nos tem, não que nós temos fé”, que “nós fomos despertados para a fé”, que “a experiência da fé é algo extraordinário que não se consegue mensurar”.

Junto com isso ele vê a necessidade de abordar a questão da ideologização da fé, “que não é mais fé, é uma ideologia”. O cardeal falou dessa “espécie de segurança que se busca hoje em determinados dogmatismos, em determinadas ideias e se ache que por isso tenha fé, mas quando chega o momento da cruz e da morte não se sabe onde se apegam.” Igualmente, o cardeal Steiner refletiu sobre a questão da Palavra, dos círculos bíblicos, da ligação na Liturgia entre a Palavra e as expressões religiosas, as expressões de reza que se tem, um aspecto que necessita avançar. Se trata de que “no momento da celebração da Palavra que a comunidade possa expressar as suas espiritualidades, as suas rezas, que às vezes são tradições de gerações e que nós não damos importância no momento celebrativo”.

 

 

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