Por Luis Miguel Modino
A diocese de Roraima realizou nos dias 25 e 26 de abril de 2025 na Missão Surumú, Raposa Serra do Sol, o Jubileu dos Povos Indígenas, que foi encerrado com a ordenação diaconal de Djavan André da Silva, indígena do povo Macuxi. No final do encontro, precedido por uma peregrinação, onde participou grande número de indígenas e contou com a presença da Presidente da Funai, Joenia Wapichana e de dom Gonzalo Ontiveros, bispo do Vicariato de Caroní (Venezuela), foi dada a conhecer a Carta do Jubileu da Aliança com os Povos Indígenas.
Transbordar de esperança
Um texto que iniciou recordando as palavras de dom Aldo Mongiano, bispo da diocese já falecido: “É um privilégio ter os povos indígenas em nossa Diocese”. No âmbito do Jubileu da Esperança, “um tempo de renovação da fé, da justiça e do cuidado com a criação”, a carta afirma que “as palavras do Papa Francisco nos inspiram a ‘transbordar de esperança’ (cf. Rm 15,13).” Junto com isso, “este Jubileu convida a viver a misericórdia, o perdão e a defesa da vida. É um chamado para devolver as terras aos povos originários, cancelar dívidas que oprimem os pobres e lutar pela libertação de todas as formas de escravidão (cf. Lv 25)”, diz a carta.
Os povos indígenas são definidos no texto como “guardiões das florestas, dos lavrados, bem como de tantos outros biomas. Vivem em harmonia com a Casa Comum”, colocando como exemplo disso o xamã yanomami Davi Kopenawa, “que recolhe os anseios de seu povo.” Sobre os Yanomami, os povos indígenas de Roraima afirmam que “podem dispor de tudo o que precisam e têm a responsabilidade de cuidar da floresta. Há milênios, os indígenas protegem não apenas seus territórios, mas também o equilíbrio do planeta.”
Denúncia do modelo económico
Diante da atual situação, a carta denuncia que “o modelo econômico, que idolatra o lucro e o dinheiro, provoca uma ruptura. Os avanços da derrubada da floresta, da pecuária extensiva, do monocultivo, dos megaprojetos e da mineração ameaçam a sobrevivência dos povos indígenas e a de todos nós. A harmonia da Casa Comum foi rompida pelos projetos de conquista e colonização, realizados de modo cruel, causando violências, dor e extermínio.”
“Há 300 anos a Igreja em Roraima caminha ao lado dos povos indígenas, ouvindo seus clamores e sonhos. Juntos, construímos iniciativas que fortalecem suas comunidades: as cantinas (venda de produtos básicos a preços acessíveis) e o projeto M-Cruz (criação de gado), que garantem autonomia econômica; a formação em educação, saúde e gestão coletiva, que valoriza seus saberes; a luta pela demarcação de terras e a resistência contra invasões ilegais; o diálogo entre a fé cristã e as tradições indígenas, que cria pontes de respeito mútuo”, lembra a carta.
O texto denuncia “a tese do Marco Temporal, que ameaça os direitos indígenas. Esta tese impõe e viola conquistas históricas e a Constituição Federal. Temos como exemplo a proposta da PEC 48 e da Lei 14.701/23, atualmente em vigor. Some-se a isso a criação da Câmara de Conciliação e Arbitragem pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a questão. Ela ameaça retirar direitos e favorecer interesses econômicos. O nosso marco é ancestral!”
A esperança dos povos indígenas permanece viva
Nessa perspectiva, os povos indígenas insistem em que “essas leis trazem dor e sofrimento, mas a esperança dos povos indígenas permanece viva. Eles clamam pelo respeito a seus territórios, culturas e modos de vida.” Para isso, dizem renovar “nossa aliança e convidamos todos a se unirem nesta luta”, colocando algumas propostas: “exigindo a derrubada dessas leis injustas e tantas outras tentativas de retirada de direitos; apoiando a demarcação de terras indígenas; protegendo a floresta e seus guardiões.”
Finalmente, é sublinhado que “a Páscoa de Cristo é a nossa Esperança, garantindo que a Vida vence a morte. A cruz não O derrotou – Ele a venceu! Esta Esperança não pode ser silenciada! Celebrar este Jubileu reforça que a vida triunfa. Juntos, escrevemos uma história de justiça e de paz para os povos indígenas e para toda a humanidade. Unidos, lutemos pela justiça e pela vida, testemunhando a Páscoa!”
Ordenação diaconal
O bispo diocesano, dom Evaristo Spengler disse que “este Jubileu é uma memória agradecida pela luta dos povos indígenas por seus direitos, pela terra e pela liberdade”, pedindo aos jovens indígenas que “não traiam seu povo, não deixem que caminhem sozinhos”, que assumam a causa de seus povos, para que possa ser respeitado o direito ancestral dos povos indígenas. Durante o Jubileu foi abordada a presença histórica da Igreja entre os povos indígenas de Roraima, com uma opção clara pelos povos indígenas, sobretudo a partir do episcopado de dom Aldo Mongiano, levando à criação do onselho Indígena de Roraima (CIR).
A ordenação de Djavan André da Silva é “um dos preciosos frutos dessa longa história de aliança”, segundo dom Evaristo Spengler. Uma ordenação que se tornou um símbolo vivo dessa caminhada. Um momento que ficará marcado não apenas na história da Diocese de Roraima, mas também na memória dos povos indígenas que seguem firmes, unindo fé, cultura e resistência.
Fonte: CNBB Norte1
Aprender a amar para aprender a viver. Reconhecimento dos territórios e movimentos internos. Atenção ao momento, ao aqui e agora nesse diálogo interior. Descentramento de si. O pai (ou os pais) na criança, que não nos deixam só. A liberdade que vem de uma relação de amor...
30 abril 2025Oração, escuta, diálogo, discernimento para caminhar juntos. Esse será o caminho, a missão que o povo de Deus espera que seja assumida pelos cardeais até 7 de maio, data que marca o início do Conclave em que será eleito o sucessor de Francisco.
29 abril 2025A simplicidade dos ritos fúnebres, o fato de ser enterrado com seus próprios sapatos, seus famosos sapatos pretos desgastados, lembram sua vida. O arcebispo que andava de metrô, o Papa que se locomovia em carros populares, jamais poderia partir em meio à pompa. Pelo contrário, ele partiu em meio...
29 abril 2025A diocese de Roraima realizou nos dias 25 e 26 de abril de 2025 na Missão Surumú, Raposa Serra do Sol, o Jubileu dos Povos Indígenas, que foi encerrado com a ordenação diaconal de Djavan André da Silva, indígena do povo Macuxi.
29 abril 2025