Por Luis Miguel Modino
Até o fim, mesmo em sua despedida, Francisco foi fiel a ele mesmo. O último pontífice pode ser considerado um grande metrônomo, que sabia medir o tempo e os gestos. Como um bom jesuíta, ele colocou o ser humano e o fato de ser humano em primeiro lugar e acima de tudo. Esse reconhecimento foi manifestado em seu funeral, que se tornou um grande tributo do povo. Um povo que ele acompanhou até o fim, pois apesar de sua saúde delicada, ele quis estar no meio do povo até seu último dia, dando sua bênção no domingo de Páscoa.
Ele partiu sob aplausos
A simplicidade dos ritos fúnebres, o fato de ser enterrado com seus próprios sapatos, seus famosos sapatos pretos desgastados, lembram sua vida. O arcebispo que andava de metrô, o Papa que se locomovia em carros populares, jamais poderia partir em meio à pompa. Pelo contrário, ele partiu em meio aos aplausos, que reconheciam o fato de que ele havia se tornado pequeno, que ele queria e conseguiu ser um entre muitos, continuar a ser o padre Jorge.
A homilia do Cardeal Re foi um retrato bem enquadrado de seu pontificado. As palavras e o tom de voz de um cardeal de 91 anos são dignos de admirar, dando voz às vivências do Papa que foi gradualmente perdendo sua voz. Uma voz que permanecerá como um legado, uma voz que “tocou mentes e corações”, como disse o cardeal.
Amor concretizado na misericórdia
Não há dúvida do amor de Francisco por Jesus, um amor que ele concretizou na misericórdia para com os descartados. Com isso, ele deixou claro que, em sua missão como pontífice, “não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por todos”. Uma citação do Evangelho que foi lembrada pelo decano do Colégio de Cardeais, que também insistiu que “apesar de sua fragilidade e sofrimento final, o Papa Francisco escolheu trilhar esse caminho de doação até o último dia de sua vida terrena. Ele seguiu os passos de seu Senhor, o Bom Pastor, que amou suas ovelhas a ponto de dar sua própria vida por elas”.
Essas ovelhas sempre tiveram o rosto das ovelhas perdidas, das ovelhas que a sociedade, e às vezes também a Igreja, descartou. Como o Cardeal Re reconheceu, ele prestou “atenção especial às pessoas em dificuldade, entregando-se sem medida, especialmente pelos menores da terra, os marginalizados”. Eles, os mais simples, o entendiam bem, ele falava a língua deles, o jargão do povo, sabia como arrancar um sorriso deles, sabia como fazer uma piada. “Ele tinha uma grande espontaneidade e uma maneira informal de se dirigir a todos”, disse o cardeal em sua homilia. Como bom torcedor, ele sempre provocava os brasileiros com a seguinte pergunta: “Quem é melhor, Pelé ou Maradona?”
O Papa das periferias
Um Papa de todos, todos, todos, como a Igreja que ele sonhava, “ávida por assumir os problemas do povo e os grandes males que dilaceram o mundo contemporâneo; uma Igreja capaz de se inclinar para cada pessoa, para além de qualquer credo ou condição, curando suas feridas”, como lembrava o decano do Colégio Cardinalício. Um Papa das periferias e que acima de tudo viajou para as periferias, iniciando suas viagens em Lampedusa, quase sempre marcadas por estar ao lado dos invisíveis para os detentores do poder, que por outro lado não deixaram de estar ao lado de seu caixão, a grande maioria reconhecendo sua grande contribuição para um mundo ferido por guerras, pobreza, polarização e tantas outras feridas que ele se esforçou para curar seguindo o exemplo do Bom Samaritano.
Uma cura de feridas que levaria a concretizar do Evangelho da misericórdia, que sempre foi a força motriz de sua vida, desde os tempos em que andava pelos becos das favelas de Buenos Aires, para tornar visível que Deus sempre perdoa e perdoa a todos. E fazer isso com alegria, com a Alegria do Evangelho, deixando de lado a cultura do descarte e assumindo a do encontro e da solidariedade, da vida em fraternidade, ideias presentes na homilia de seu funeral.
O cuidado de todas as criaturas
Francisco, sempre preocupado com o cuidado de todas as criaturas, seguindo o exemplo do poverello de Assis. O Papa da ecologia integral, e como lhe somos gratos por isso nós que vivemos na Amazônia, pela qual ele sempre se preocupou e na qual concretizou sua proposta de caminhar juntos como Igreja, na sinodalidade, construindo pontes e não muros.
Por isso, pedimos a ele, como fez o Cardeal Re, que reze por nós, para que sua memória e seus ensinamentos continuem presentes entre nós, para que nos mova a continuar fazendo bagunça, construindo um mundo menos complicado e uma Igreja menos complicada, onde o Evangelho marque o caminho a seguir, onde os últimos possam ser os primeiros, aqueles que usam sapatos velhos ou que, muitas vezes, nem têm sapatos.
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