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Catequese indígena: “descobrir Deus e nossa relação com Ele, com os outros, com a natureza”

Por Luis Miguel Modino

Catequese indígena: “descobrir Deus e nossa relação com Ele, com os outros, com a natureza”

Mais de 300 catequistas da Amazônia se reuniram de 24 a 27 de julho em Castanhal (PA), para participar do Nortão da Catequese, que teve como tema:“Iniciação à Vida Cristã na Amazônia: Anúncio, Mistagogia e Ecologia Integral.” Tem sido dias de partilha de experiências para oferecer elementos para as igrejas locais em seus processos catequéticos, fortalecendo a pluralidade da identidade amazônica.

Catequese indígena no Alto Rio Negro

Uma dessas experiências foi partilha pela catequista indígena da paróquia Nossa Senhora Aparecida,diocese de São Gabriel da Cachoeira, Deusimar Uahó, do povo desano. Na Igreja do Alto Rio Negro, com 294 mil quilómetros quadrados, moram 24 povos originários, com uma forte influência das cosmovisões indígenas, entendendo a catequese como “nosso descobrir a Deus e nossa relação com Ele, com os outros, com a natureza”, segundo a catequista indígena.

Depois da chegada dos primeiros missionários, e do processo de colonização que se deu naquele momento, a catequese indígena está fazendo um caminho de ressignificação, seguindo um princípio norteador: “a boa nova da cultura dos povos indígenas, acolhe a boa nova de Jesus.” Segundo Deusimar, “nossa relação com Deus, Tupãna, Oãk?, O am?,com nossos antepassados, nossos pais e mães primeiros, vem do sagrado de nossas culturas e religiosidades. Nossa catequese nasce, se desenvolve aí, é em casa/nossa aldeia que somos educados ao sagrado e à espiritualidade”.

Ressignificar  o sagrado

“Essa ressignificação do sagrado está sendo realizada a partir do conhecimento tradicional dos povos, valorizando e rezando como batizados, fazendo essa relação, para caminhar junto em diálogo intercultural entre a Igreja e o sagrado dos povos indígenas”, ressalta a catequista. Nas comunidades, como parte da espiritualidade indígena, ela destaca “a nossa partilha, a hospitalidade, as nossas orações, os nossos catequistas antigos que ainda têm vivido essa vocação em nossas comunidades, é essa nova geração que vem trazendo também um resgate cultural, inserindo dentro da Igreja os nossos valores, os nossos rituais, as nossas línguas, músicas, trabalhando também os nossos nomes tradicionais”. Um processo devagar, mas que vem tendo cada vez mais visibilidade, ajudando a entender a importância da sua identidade como povo indígena.

Durante décadas a Igreja do Rio Negro foi confiada aos Salesianos e Salesianas, sendo a educação, os internatos e as comunidades elementos importantes na missão. Após o Concílio Vaticano II e o encontro e Documento de Santarém, em 1972, os internatos são fechas e a catequese se realiza nas comunidades, sendo criado o ministério do catequista em cada comunidade, com um grande avanço na formação desses catequistas e de outros agentes. Nessa época começam a aparecer as vocações indígenas à Vida Religiosa e o presbiterato, os indígenas do Rio Negro para o mundo. Se realizam assembleias pastorais, se avança no processo de inculturação, recolhendo a proposta do Documento de Aparecida para ser discípulos missionários.

Diálogo intercultural

Em 2015 acontece uma missão da Catequese: “A boa nova das Culturas acolhe a Boa Nova de Jesus”, incentivando o diálogo intercultural. Também foi de grande importância o Sínodo para a Amazônia, a figura do Papa Francisco e sua valorização dos povos e culturas indígenas e sua exortação pós sinodal Querida Amazônia.

Deusimar destaco o impulso que está sendo dado pelo atual bispo, dom Raimundo Vanthuy, que define como bispo pastor e sinodal. Está se avançando numa catequese integral, onde é valorizada a partilha, os encontros comunitários, as convivências, a participação dos catequizandos, o resgate cultural: artes, línguas indígenas, medicina indígena, povo, rios, territórios, nomes tradicionais, grafismos, dentre outros elementos.

O novo bispo, com esse olhar sinodal, “ele tem dado essa abertura para que os indígenas tenham esse espaço para manifestar, expressar a sua fé a partir dos seus valores locais. Ele é um bispo que está indo aondeos indígenas estão para conhecer a realidade local e ele tem se mostrado que ele quer aprender, quer partilhar o que ele sabe e aprender também com ele os caminhos que ele pode nos direcionar como bispo”, destacou a catequista indígena. Ela agradeceu o incentivo e apoio do bispo para poder participar do Nortão da Catequese”.

 

 

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