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Imersos numa "cultura digital"

Por Ana Helena Ribeiro Tavares

Vivemos imersos numa “cultura digital”, ideia tão bem defendida por Joana Puntel e outros teóricos. A partir desta compreensão precisamos discernir, como cristãos e cristãs, quais os benefícios e os riscos disso para nossa missão.

Os benefícios... 
Entre os benefícios, podemos listar a quebra de barreiras geográficas e a instantaneidade da difusão de mensagens, que permitem que a Igreja tenha um alcance global e que a palavra do Evangelho chegue a qualquer lugar do mundo em tempo real. Cultos, missas, pregações, estudos bíblicos e catequeses podem ser transmitidos ao vivo ou disponibilizados sob demanda, chegando a pessoas que, de outra forma, não teriam acesso. Aqui vale destacar que um lado muito positivo é a acessibilidade. Fiéis que vivem em áreas remotas ou que por algum motivo de saúde, como mobilidade reduzida, não podem comparecer fisicamente às celebrações ou encontros, podem participar por meio de plataformas digitais. Isso garante uma maior inclusão e continuidade da vida religiosa.

A diversidade também é uma aliada nessa cultura digital, pois ela possibilita a produção de uma vasta gama de conteúdos evangelizadores em diferentes formatos: vídeos (YouTube), podcasts, blogs, e-books, imagens e textos nas redes sociais. Isso permite que a mensagem seja adaptada para diferentes públicos e preferências.

Vale também destacar a proximidade que a internet traz com as novas gerações. A linguagem e os canais digitais são nativos para as gerações mais jovens, por isso a presença ativa da Igreja nesse ambiente é crucial para evangelizá-las e mantê-las conectadas com a fé. Nesse sentido, temos testemunhos inspiradores como o do jovem beato Carlo Acutis, que mostrou que é possível evangelizar com autenticidade no ambiente digital, tornando-se “influenciadores do bem”.

Também os riscos...
Há, no entanto, muitos riscos, é claro. Entre eles, podemos citar a superficialidade e fragmentação. A lógica das redes sociais pode favorecer uma fé “fast food”, com um consumismo religioso rápido, sem profundidade teológica ou espiritual e sem comprometimento com comunidades reais. O individualismo, que já impera no mundo atual, é acentuado pelas redes digitais, podendo transformar a vivência da fé em algo excessivamente isolado. Temos aqui um paradoxo, pois, ao mesmo tempo que a cultura digital tem o imenso potencial de aproximar pessoas em lugares distantes, ela também pode servir para acomodar e isolar.

Entre os principais riscos, não podemos deixar de citar também o da desinformação e da manipulação. A internet é terreno fértil para fake news religiosas, interpretações distorcidas da doutrina e polarizações ideológicas. Aqui é fundamental que a Igreja desenvolva estratégias para combater a desinformação e promover a verdade.

Por fim, vale lembrar que estar nas redes é estar exposto e vulnerável. A coleta e o uso de dados dos fiéis em plataformas digitais levantam questões sobre privacidade e segurança, exigindo da Igreja responsabilidade e cuidado na gestão dessas informações. A presença online exige discernimento ético, pois há riscos de exposição indevida, ataques virtuais e dependência digital.

Muitos outros benefícios e riscos poderiam ser listados aqui. Concluo citando o Papa Francisco, que incentivou uma presença “missionária e sinodal” nos ambientes digitais, promovendo comunhão, participação e escuta. Talvez a chave esteja em habitar a cultura digital com autenticidade, sem medo, mas com discernimento. Como dizia São Paulo: “Fiz-me tudo para todos, para salvar alguns” (1Cor 9,22).

* Jornalista, conselheira da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Graduanda em Teologia na FAJE-BH. Autora do livro “Um bispo contra todas as cercas – A vida e as causa de Pedro Casaldáliga” (Vozes, 2019).

 

 

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