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Manifesto da CNBB propõe uma narrativa cristã libertadora frente à crise ecológica planetária

Por Da redação

Publicado em março de 2025 pela Comissão para Ecologia Integral e Mineração da CNBB, o Manifesto Ecologia Integral é um forte chamado à conversão pastoral, espiritual e política diante da destruição ambiental causada por um sistema econômico predatório, baseado no lucro e na exploração. Frente à "mudança de época", a Igreja é convocada a uma fé encarnada e profética, comprometida com os pobres e com a defesa da Casa Comum.

O texto denuncia o capitalismo global como a raiz de uma crise socioambiental insustentável: a financeirização da vida, a acumulação por poucos, o extrativismo mineral, a devastação dos biomas, a exploração de povos e territórios. A mineração, em especial, é vista como um paradigma da violência contra a vida: promove crimes ambientais (como em Mariana e Brumadinho), destrói comunidades, corrompe estruturas públicas e tenta cooptar até mesmo as igrejas.

Contra esse modelo de morte, o Manifesto propõe uma narrativa cristã libertadora, alicerçada na opção pelos “condenados da terra”, na organização popular e no protagonismo dos movimentos sociais. A Igreja é chamada a caminhar com os povos indígenas, quilombolas, comunidades camponesas e urbanas, e a apoiar lutas por reforma agrária, agroecologia, soberania alimentar, desinvestimento em mineração e transição energética justa.

Inspirado na espiritualidade do Cristo encarnado e ressuscitado, o texto afirma: defender a criação é um ato de fé. A Ecologia Integral não é uma moda, mas exige nova pastoral, nova economia, nova política e nova espiritualidade. O Jubileu de 2025, a COP 30 no Brasil e os clamores dos mártires da terra são sinais de um tempo kairológico. O texto está dividido em quatro partes e traz uma conclusão que motiva a ação pela Ecologia Integral.

1. Uma narrativa cristã libertadora

Denuncia-se o modelo econômico baseado na financeirização da natureza, na lógica do descarte e na exploração sem limites. O capitalismo, afirma-se, não é reformável: ele precisa ser superado. A organização popular e a resistência dos movimentos sociais são apresentados como caminhos concretos de esperança e enfrentamento. Retoma-se a tradição profética da Igreja Latino-Americana: “ecologia sem luta de classes é jardinagem”, como dizia Chico Mendes.

2. O corpo ressuscitado de Cristo na criação

A teologia da criação é aprofundada numa perspectiva cósmica: Cristo está presente em toda a realidade. A destruição da Terra é, portanto, uma ferida no corpo do Ressuscitado. Defender a criação é defender a fé cristã. A espiritualidade ecológica deve levar à ação concreta, superando a indiferença e assumindo a conversão ecológica como exigência do discipulado.

3. O que é ecologia integral

A ecologia integral compreende a interdependência entre todos os seres, materiais e espirituais. Não se trata de ecologia “verde”, mas de um novo modo de ser Igreja, de fazer pastoral e de pensar a missão. Propõe-se uma pastoral integrada e transformadora, com participação ativa de comunidades, articulação com os movimentos sociais e valorização da memória e da luta das bases eclesiais e dos povos originários.

4. Consequências socioambientais e pastorais

Este capítulo é o mais prático e contundente. Denuncia a mineração como símbolo de um modelo que sacrifica a vida pelo lucro. Propõe:

  • Desinvestimento das igrejas em empresas predatórias;

  • Apoio à Reforma Agrária e à agroecologia camponesa;

  • Resistência ao falso discurso da “energia limpa” que, no fundo, mantém o extrativismo;

  • Fortalecimento da autodefesa dos territórios e das comunidades ameaçadas;

  • Valorização das espiritualidades ancestrais e das culturas do Bem Viver.

O texto valoriza experiências concretas como a Campanha A Vida por um Fio, os Comitês de Bacia, a ASA, a Rede Igrejas e Mineração, entre outras. Insiste que só haverá justiça climática com justiça social e territorial.

Conclusão: um grito pascal de esperança

O manifesto encerra-se como um ato de fé na possibilidade de transformação histórica. A esperança cristã não é passiva, mas militante. Invoca a mística dos mártires da terra — como Dorothy Stang, Chico Mendes e Berta Cáceres — e convida as comunidades eclesiais a assumirem sua vocação pública e profética. “A hora é agora”, diz o texto, unindo o clamor da terra e o grito dos pobres como lugar teológico da missão da Igreja.

Acesse e baixe o texto integral no link abaixo:

Manifesto Ecologia Integral - CEPAST_CNBB

Veja o ato de lançamento do manifesto no YouTube da CNBB




 

 

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