Por Da redação
A publicação “El legado del papa Francisco a León XIV”, organizada por Amerindia Continental (2025), reúne teólogos e teólogas da América Latina e do Caribe para interpretar os frutos, desafios e horizontes abertos pelo pontificado de Francisco, especialmente à luz da eleição de seu sucessor, o Papa León XIV. Longe de ser apenas uma celebração de um pontificado, o livro é uma leitura crítica, comprometida e propositiva do impacto de Francisco sobre a Igreja e o mundo.
O capítulo de abertura mostra que Francisco não foi apenas “influenciado” pelo Vaticano II: ele amadureceu uma nova fase da sua recepção, colocando em prática a visão do Povo de Deus como sujeito eclesial. O processo sinodal (2021–2028) é descrito como marco eclesiológico de ruptura com o clericalismo e a rigidez institucional. A sinodalidade emerge como “forma de ser Igreja” — baseada na escuta recíproca, discernimento comunitário e corresponsabilidade na missão.
Conclusão pastoral: a Igreja está chamada a reconstruir-se “de baixo”, a partir da dignidade batismal, da pluralidade cultural e da escuta do sensus fidei do povo.
Francisco instaurou uma nova forma de exercer o ministério petrino, marcada pela simplicidade, profecia e coerência. Sua linguagem pastoral, acessível e simbólica, restaurou a credibilidade da Igreja, aproximando-a das pessoas comuns. Seus gestos — como abraçar migrantes, lavar os pés de presos e visitar periferias — falam mais que tratados doutrinários.
Conclusão pastoral: a comunicação da fé deve passar pela vida e pela linguagem do povo. Teologias de “sacada” ou de elites não convertem nem mobilizam. É preciso uma teologia que “calce as sandálias do povo”.
Este capítulo é uma denúncia lúcida e pastoral da autorreferencialidade eclesial e da cultura do descarte. Francisco reconfigura a Igreja como “companheira de viagem” dos pobres, migrantes, mulheres e jovens. Estabelece pontes com os movimentos populares, reconhecendo-os como “sementes de transformação” e lugares teológicos.
Conclusão pastoral: a Igreja deve apoiar as lutas concretas por terra, teto e trabalho. A sinodalidade exige alianças com as resistências populares e uma ecologia integral que denuncie o modelo econômico que “mata”.
Francisco, vindo “do fim do mundo”, deu centralidade aos deslocados e migrantes, transformando Lampedusa em ícone de sua missão. A pastoral da mobilidade humana torna-se, com ele, uma exigência evangélica.
Conclusão pastoral: uma Igreja que acolhe, protege, promove e integra os migrantes concretiza a vocação samaritana do Evangelho.
O livro oferece também um panorama das tensões e desafios que esperam León XIV: secularização, polarização interna, resistência à sinodalidade, clericalismo e ausência de espaços estruturados para participação real do laicato. A referência a Leão XIII, papa dos trabalhadores, sinaliza uma possível continuidade com a agenda social e profética de Francisco.
Conclusão pastoral: o futuro da Igreja dependerá da coragem de sustentar os processos de reforma iniciados por Francisco e de ampliar sua recepção nas bases.
Os autores refletem sobre os avanços e limites das reformas iniciadas. Francisco deu passos decisivos, mas muitos processos seguem abertos: a igualdade de gênero na Igreja, a revalorização das igrejas locais, o fim do clericalismo, a escuta dos povos originários, a superação do moralismo punitivo.
Francisco de Aquino Jr. acrescenta que Francisco inaugurou uma nova “era” na Igreja, onde comunhão, participação e missão se entrelaçam. A eleição de León XIV pode consolidar essa era — ou interrompê-la.
Conclusão pastoral: a Igreja está num tempo decisivo. A sinodalidade não é uma moda, mas uma conversão permanente. Sem ela, a Igreja corre o risco de voltar a ser uma instituição autorreferente e distante do povo.
Francisco deixa um legado de esperança ativa, reforma inacabada e conversão pastoral. Seu pontificado devolveu à Igreja um rosto mais evangélico, menos autoritário, mais próximo das dores do mundo. Mas seu projeto só será duradouro se for assumido pelas comunidades de base, pelos movimentos populares e pelas igrejas locais.
Para as comunidades e agentes pastorais, o livro oferece uma bússola:
Reforçar espaços de escuta e decisão com os leigos e leigas.
Reposicionar a linguagem da fé para ser compreensível e transformadora.
Assumir uma espiritualidade engajada com os pobres e com a Terra.
Lutar por reformas que expressem a dignidade batismal de todos os sujeitos eclesiais.
Francisco deixa uma “nova primavera eclesial”, ancorada na tradição conciliar latino-americana. Seu legado desafia a Igreja a permanecer fiel ao Evangelho em tempos de crise planetária, com coragem profética e protagonismo popular. Cabe à Igreja latino-americana, especialmente, sustentar essa caminhada.
O livro está em espanhol e pode ser baixado no link abaixo:
El legado del papa Francisco a León XIV
O Manifesto propõe uma narrativa cristã libertadora, alicerçada na opção pelos “condenados da terra”, na organização popular e no protagonismo dos movimentos sociais. A Igreja é chamada a caminhar com os povos indígenas, quilombolas, comunidades camponesas e urbanas, e a apoiar lutas por reforma agrária, agroecologia, soberania alimentar, desinvestimento em mineração e transição energética justa.
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