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22/09/2022 Luis Miguel Modino Edição 3951 Jovens indígenas em Assis: Ecoar vozes silenciadas secularmente Ir. Elis Ribeiro dos Santos desde Assis - Economia de Francisco e Clara
F/ Pixabay
"Povos indígenas que tem que “enfrentar com os próprios corpos o avanço da mineração, o avanço do capital nas terras, o avanço do agronegócio”, que provoca perseguições, violências e muitas mortes. Mesmo morando na cidade e estar aparentemente integrada, “a integração realmente não existe”, e estar na cidade é estar constantemente lidando com as tentativas de acabar com os povos indígenas."

A diversidade é um elemento presente no Encontro da Economia de Francisco que acontece em Assis de 22 a 24 de setembro. Do evento fazem parte três jovens indígenas, duas brasileiras, Bárbara Borum Cren, e Elis Alberta Ribeiro dos Santos, e a peruana Ilu Fernández, entrevistadas por Silvonei José para VaticanNews em português.

Bárbara chegou em Assis desde o Alto Rio Doce, no Estado de Minas Gerais, uma região montanhosa, onde ela diz se conectar com a ancestralidade presente nas montanhas, que “guardam as memórias ancestrais dos nossos povos originários daquelas terras”. A jovem indígena afirma ter nascido na luta em defesa dessas montanhas, hoje destruídas pela mineração, diante do qual ela diz sentir “dores no meu próprio corpo, porque elas são meu próprio corpo”.

Isso leva a jovem indígena a defender os povos massacrados pela questão das riquezas minerais nessa região. Ela denuncia que “foi declarada uma guerra de extinção para o meu povo”. Hoje são duzentas famílias indígenas na região, durante muito tempo escondidas para sobreviver, um tempo em que não podiam dizer que eram indígenas. Por isso, estar em Assis é “uma oportunidade imensa para ecoar as nossas vozes que há muito tempo foram silenciadas”, sendo sua presença “continuidade dessa luta das minhas ancestrais que lutaram, que morreram, que foram estupradas”.

Uma presença indígena que está em todo o continente americano, não só na Amazônia, insiste Bárbara, que insiste nessa presença indígena em todos os lugares, nas cidades, nas aldeias, nas montanhas, no Cerrado, na Mata Atlântica, insistindo na estreita relação dos povos indígenas com os elementos de cada bioma. A jovem indígena relata as dificuldades para lutar pela natureza, “especialmente quando estamos no território tendo que lidar frente a frente com essa colonização que avança”.

Povos indígenas que tem que “enfrentar com os próprios corpos o avanço da mineração, o avanço do capital nas terras, o avanço do agronegócio”, que provoca perseguições, violências e muitas mortes. Mesmo morando na cidade e estar aparentemente integrada, “a integração realmente não existe”, e estar na cidade é estar constantemente lidando com as tentativas de acabar com os povos indígenas.

Elis é indígena do povo Mura, no Estado do Amazonas, e religiosa da Congregação da Divina Providência. Nascida em Manaus, onde seus ancestrais migraram da região do município de Itacoatiara, em consequência dos projetos coloniais, que acabaram com o ambiente onde eles viviam. A religiosa fala sobre a importância de “uma tecnologia que possa defender a natureza, o ambiente em que a gente vive, essa composição que compõe os nossos corpos”. Ela insiste na conexão entre os rios, as florestas e os nossos corpos.

Como indígena, a Ir. Elis diz trazer o diferencial para a Vida Religiosa, numa congregação de origem alemã, querendo “trazer as vozes indígenas para que as irmãs possam assumir essa luta junto com a gente”. Sua congregação, presente em diferentes locais da Amazônia, diz querer se juntar a todo o movimento da Igreja, do Sínodo para a Amazônia, da REPAM, da qual ela faz parte, ao Cardeal da Amazônia, buscando promover “toda essa reflexão a partir de uma perspectiva indígena”, que leve a uma liturgia desde uma perspectiva indígena, que as vozes indígenas sejam ecoadas, que as pessoas possam aprender dos indígenas e possa ser realizada uma reparação histórica, também enquanto Igreja.

Tudo isso, segundo a religiosa da Divina Providência, “para que as populações indígenas possam realmente se sentir parte, desde uma verdadeira sinodalidade, e construir projetos juntos a partir da defesa da Amazônia, a partir da defesa dos nossos povos que estão sendo ameaçados, assassinados pelo atual governo brasileiro, porque o genocídio no Brasil está institucionalizado, a polícia mata”. A Ir. Elis diz ter levado até Assis as vozes dos kaiowá do Mato Grosso, “diariamente assassinados e perseguidos, como também nós somos perseguidos quando ocupamos nossos lugares na universidade, nós sofremos de um racismo estrutural”, fazendo um chamado a ter suas vozes e conhecimentos tradicionais valorizados, e construir suas epistemologias a partir de seus saberes tradicionais.

Jaén (Peru) é uma cidade onde vivem os povos indígenas Wampis e Awajun. A jovem peruana, que vive nessa cidade, diz que quer tornar visíveis os problemas enfrentados pelos povos indígenas do norte do Peru, cuja união com a natureza, que permite a sustentabilidade, se destaca. Estes problemas têm a ver com o tráfico de drogas, o corte ilegal de madeira e o tráfico de terras, um fenômeno crescente que também aumentou o número de líderes indígenas assassinados nos últimos anos por aqueles que querem assumir o controle de seus territórios e depois comercializá-los, algo que eles também fazem com o corte ilegal de madeira como um passo preliminar às plantações de monoculturas. 

Luis Miguel Modino é assessor de comunicação CNBB Norte1

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