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Viver sozinho... morrer sozinho...

Por Antônio Carlos Santini  

 

Um traço marcante da sociedade do Ocidente é a solidão. Vive-se sozinho, morre-se sozinho.

Aqui e ali, repetem-se fatos como o noticiado pela Agência France Press, em matéria assinada por Tiziana Fabi, em 8 de fevereiro deste ano: o corpo mumificado de uma idosa italiana foi encontrado em sua cadeira, dois anos após sua morte. Sem parentes próximos, Marinella Beretta foi achada em sua casa, próximo ao lago de Como, na Lombardia. Os vizinhos não a viam há dois anos e meio, e acharam isto... natural...

Um acontecimento destes faz pensar na canção de Vinicius de Morais e Toquinho, “Um homem chamado Alfredo”.

“O meu vizinho do lado
Se matou de solidão
Ligou o gás, o coitado
O último gás do bujão
Porque ninguém o queria
Ninguém lhe dava atenção
Porque ninguém mais lhe abria
As portas do coração [...]”

 E o poeta reflete sobre o fato:

“Há tanta gente sozinha
Que a gente mal adivinha
Gente sem vez para amar
Gente sem mão para dar
Gente que basta um olhar, quase nada...”

E vem o desfecho trágico:

“Num velho papel de embrulho
Deixou um bilhete seu
Dizendo que se matava
De cansado de viver
E embaixo, assinado Alfredo
Mas ninguém sabe de quê...”

 

Paul Tournier comenta a triste realidade dos aposentados: “A sociedade inteira está doente de solidão, porque não tem em seu interior mais do que contatos convencionais e superficiais. Pela aposentadoria o indivíduo sai dessa enorme engrenagem e não lhe resta grande coisa. Fora de sua máquina, uma engrenagem não é nada, mas dentro dela, em seu lugar específico, cumpre sua função sem chegar a unir-se com as demais peças”.

Em Paris, foi criada a APA – Associação para a Amizade. O objetivo dessa iniciativa de católicos é apresentar uma alternativa à solidão. Hoje, 25 apartamentos, onde está presente o Santíssimo Sacramento, permitem alojar 200 co-locatários e mais de 30 pessoas em família. Os idosos locatários e os amigos da APA partilham atividades, férias e peregrinações. Mundo afora, mesmo em ambiente “laicos” existem iniciativas semelhantes para facilitar a vida em comum.

Mas a realidade é dura. Na Itália, quase 40% das pessoas com mais de 75 anos vivem sozinhas. Essa mesma porcentagem se aplica a pessoas que não têm parentes ou amigos a quem recorrer caso precisem. Beretta foi a "encarnação da solidão", escreveu o colunista Massimo Gramellini na primeira página do Il Corriere della Sera, o jornal de maior circulação no país. “A misteriosa vida invisível de Marinella atrás da porta fechada de sua casa nos deixa uma terrível lição. A grande tristeza não é que não tenham percebido sua morte. É não terem notado que ela estava viva", destacou o jornal romano Il Messaggero.

Na verdade, a solidão sempre rodeia o ser humano. Camões falava no “solitário andar por entre as gentes”. E Drummond, em 1941, publicava o poema “A Bruxa”:

“Nesta cidade do Rio,
de dois milhões de habitantes,
estou sozinho no quarto,
estou sozinho na América”.

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