Neste mês de setembro de 2021, a iniciativa da celebração do mês da Bíblia completa cinquenta anos. Revistar essa trajetória nos ajuda a compreender a força da Palavra em nosso meio e a valorizá-la ainda mais em nossa vida, na vida de nossas comunidades e em nossa Congregação. Dentro de um contexto mais amplo, nos interessa identificar também a trajetória da Palavra na Diocese de Caratinga-MG.
Antecedentes do Mês da Bíblia
No final do Século XIX, surgiram vários movimentos de renovação no seio do Igreja: movimento intelectual, eclesiológico, litúrgico, ecumênico, bíblico, de apostolado dos leigos, entre outros. Essa onda crescente foi chamada de “sementes de renovação” (1931-1949) e ganhou maior força no pós-guerra. Aqui no Brasil cresceu o “Apostolado Bíblico” ou “Movimento Bíblico” (1947-1975), impulsionado pela Encíclica Divino Afflante Spiritu de Pio XII (1944).
Na Diocese de Caratinga, Pe. Geraldo Silva iniciou em Alto Jequitibá as “Aulas Bíblicas” (1946), a partir das quais teve origem o grupo dos “Pioneiros do Evangelho”. Leigos, bem preparados biblicamente, davam palestras bíblicas nas capelas daquela paróquia e em paróquias vizinhas em caráter fortemente apologético. Dom Corrêa, logo que assumiu a Diocese, criou as “Conferências Populares” (1957), grupos de famílias se reuniam na casas para estudar um manual de catequese do Pe. Álvaro Negromonte.
Estas iniciativas tomarão um novo impulso e uma nova direção com a celebração do Concílio Vaticano II (1962-1967), sinalizando uma necessária volta de toda a Igreja às suas fontes bíblicas e patrísticas. De modo especial, a Constituição Dogmática “Dei Verbum” introduz a Bíblia como a grande chave litúrgico-sacramental. Doravante a Palavra de Deus deve voltar a ter centralidade na vida da Igreja. Um passo importante é a adoção da Bíblica na Catequese.
Nesta linha conciliar, nosso Irmão Alípio Jacintho da Costa, a convite de Dom Corrêa faz um curso na Universidade Católica do Chile e, a partir dele, dá uma nova direção aos trabalhos dos “Pioneiros do Evangelho”. Aos poucos sai da apologética e o trabalho bíblico é orientado para a formação e organização das comunidades. Neste clima eclesial das “sementes de renovação” e da volta às fontes motivadas pelo Concílio é que surge a iniciativa do “Mês da Bíblia”.
A celebração do Mês da Bíblia
A Arquidiocese de Belo Horizonte-MG, por ocasião de seu cinquentenário (1971), gestou a iniciativa de celebrar o mês da Bíblia. Foi uma sugestão das Irmãs Paulinas e do Pe. Antônio Gonçalves. Escolheu-se o mês de setembro por causa da festa de São Jerônimo (dia 30). Uma iniciativa feliz que foi continuada nos anos seguintes. Em 1976, com intenção de alargar a celebração do Mês da Bíblia, 30 dioceses de Minas e Espírito Santo foram visitadas, o que fez com que, em 1978, esta iniciativa fosse abraçada pelo Regional Leste II da CNBB.
Nesta década, no clima de fervor pela Palavra de Deus, surgiu a FEBIC (Federação Bíblica Católica), logo organizando-se a nível mundial (FEBICAM) e as Sociedades Bíblicas, destinadas a propagar a Bíblia de tal forma que chegue a todos. Surgem também os círculos bíblicos, motivados pela leitura popular da Bíblia com Carlos Mesters e o CEBI – Centro de Estudos Bíblicos Populares. Por sua vez, a Conferência dos Bispos (CNBB) preocupa-se com a formação bíblica dos agentes de Pastoral, dos catequistas e das equipes de liturgia, surge a Pastoral Bíblica e o GREBICAT - Grupo de Reflexão Bíblico-Catequética. Mediante o grande êxito no Leste II, a partir de 1985, o Mês da Bíblia passou a ser abraçado em toda a Igreja do Brasil e em outros países da América Latina.
Na Diocese de Caratinga, o trabalho de leigos evangelizando leigos expande-se. Além de se espalhar por toda a Diocese, alarga-se para outros estados: Mato Grosso, Rondônia, Espírito Santo, Goiás, Amazônia... Crescem também os grupos de reflexão, frutos de dois veios diocesanos: os cursos bíblicos com os “Pioneiros do Evangelho” e as “Conferências Populares”. Em 1979 é inaugurada a Casa do MOBON em Dom Cavati-MG e ganha ainda maior força os cursos bíblicos de Semana Santa (1974-1994) e os cursos de preparação para o Natal (1974-2007). Em busca de maior sintonia com a caminha da Igreja do Brasil, a partir de 1995 os cursos de Semana Santa se convertem em Cursos da Campanha da Fraternidade e os cursos de Natal, a partir de 2008, se convertem em Cursos do Mês da Bíblia.
Desdobramentos posteriores
A Conferência Episcopal Latino-americana de Aparecida (2007), a proposta do Sínodo do Bispos sobre a Palavra de Deus (2008) e de sua Exortação Apostólica Pós-Sinodal “Verbum Domini” de Bento XVI (2010), levam a um anseio e necessidade de se passar de uma “Pastoral Bíblica” à “Animação Bíblica de toda a Pastoral”. A Palavra de Deus há de ser a seiva que percorre e alimenta toda a Igreja, há de ser a “alma” de toda a vida e ação eclesial.
Em sua última assembleia, a CNBB, aprofundando o “Pilar da Palavra”, um dos quatro pilares definidos como eixos da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil (DGAE 2019-2023), incentiva e reforça esta proposta de efetiva Animação Bíblica (Doc. Estudo CNBB n. 114 “E a Palavra habitou entre nós” (Jo 1,14): Animação Bíblica da Pastoral a partir das Comunidades Eclesiais Missionárias). Ao lado da leitura orante da Bíblia, um dos elementos enfatizados é a celebração do Mês da Bíblia.
Sentimos falta neste documento de estudo de uma ênfase nos grupos de reflexão da Bíblia que são, na verdade um caminho concreto para a efetiva animação bíblica da vida e da pastoral no seio da Igreja. Mas há de se ressaltar a busca de integração dos momentos fortes de encontro com a Bíblia quer na liturgia, na leitura orante, na dinamização do Domingo da Palavra e na integração maior entre Campanha da Fraternidade e Mês da Bíblia como caminhos de Animação Bíblica da vida e da pastoral (Cf. Doc. Estudo CNBB 114, n. 256).
As Irmãs Paulinas, nesta ocasião lança um livro comemorativo dos 50 anos do mês da bíblia. "Essa obra objetiva celebrar o jubileu de ouro do Mês da Bíblia, contemplando o passado (1971-2021), mas também apresentando novos desafios e perspectivas para a área bíblica nos nossos dias. Essa história teve seus inícios com a contribuição das Irmãs Paulinas que começaram os Movimentos Bíblicos, as Semanas Bíblicas Populares e o "Mês da Bíblia" no Brasil, como fruto do próprio carisma da congregação e de sua inserção na pastoral da Igreja local. Também recordamos os 100 anos da Arquidiocese de Belo Horizonte, berço da iniciativa do "Mês da Bíblia", e que sempre teve a preocupação de 'proclamar a Palavra'."
Acesse o site e conheça o livro dos 50 anos do Mês da Bíblia. Irmãs Paulinas
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