Um dos grandes desafios para a Conferência Eclesial da Amazónia (CEAMA) é passar do deber fazer para o fazer, a fim de aplicar o Sínodo no território. O Papa Francisco na Querida Amazónia, como recordou o CardealHummesnum comunicado, apela a que assimseja.
O presidente da CEAMA lembra-nos que o Papa nos diz: "Deus queira que toda a Igreja se deixe enriquecer e interpelar por este trabalho [do sínodo], que os pastores, os consagrados, as consagradas e os fiéis leigos da Amazônia se empenhem na sua aplicação".
Segundo o CardealHummes, ficar com o que devemosfazer, mesmo que seja algo bom, "não é suficiente". Por esta razão, ele vê a necessidade de passar à prática, afirmando que muitascoisasestãosendo feitas, mas que é necessáriotorná-lo conhecido, procurando trabalhar "em rede e em sinodalidade".
Isto implica, segundo o CardealHummes, continuar "indo às comunidades, expondo-lhes os resultados do sínodo, escutando-as e com elas construindo ‘os novos caminhos’, para depois comunicar a toda a rede ‘o que estamos fazendo’. Todo este processo seja realizado à luz da Palavra de Deus e com muita oração. É o Espírito Santo quem nos deve conduzir", insiste o cardeal.
O texto, baseado no número 15 do Instrumentum Laboris do Sínodo, relaraalgumas das ameaças à Amazónia: pela criminalização e pelo assassinato de líderes e defensores do território; pela apropriação e privatização de bens da natureza, como a própria água; por concessões madeireiras legais e pela entrada de madeireiras ilegais; pela caça e pesca predatórias, principalmente nos rios; por megaprojetos: hidrelétricas, concessões florestais, desmatamento para produzir monoculturas, estradas e ferrovias, projetos mineiros e petroleiros; pela contaminação ocasionada por todas as indústrias extrativistas que causam problemas e enfermidades, principalmente para as crianças e os jovens; pelo narcotráfico;pelos consequentes problemas sociais associados a tais ameaças, como alcoolismo, a violência contra a mulher, o trabalho sexual, o tráfico de pessoas, a perda de sua cultura originária e de sua identidade (idioma, práticas espirituais e costumes) e todas as condições de pobreza às quais estão condenados os povos da Amazônia (Fr.PM).
Alémdisso, aborda questõesmais centradas na vida pastoral da Igreja, tais como "que o Papa Francisco solicita cominsistência quese multipliquem os diáconos permanentes naregiãoamazônica", e juntamente com eles, "os ministros leigos e leigas dos vários ministérios instituídos, com destaque dos indígenas".
Para issopropõealgumas medidas, tais como "escolas de diaconato permanente, de catequistas e dirigentes de comunidades, seja mulheres seja homens, agentes missionários com prática sinodal, bem como renovação sinodal do nosso atual clero e dos religiosos/as". Devem ser escolas que "precisarão inovar e se inculturar seja na metodologia seja no currículo".
Reconhecendo que estessãoalguns aspectos entre muitosoutros, ele pede que o Espírito Santo "mantenha aceso o fogo sinodal na Igreja Panamazônica!", convidando a REPAM a juntar-se à CEAMA para assumir este processo sinodal. Finalmente, apelou a cada jurisdição eclesiástica a partilhar o que está fazendo "relativo aos compromissos, que assumimos na documentação final da Assembleia Sinodal", procurando assim "visibilizar, reconhecer, aprender, socializar e agradecer em espírito sinodal".
Eis a nota na íntegra:
A PASSAGEM DO “DEVER FAZER” AO “FAZER”
Aplicação do sínodo no território
(Comunicação do Presidente da CEAMA)
Terminada a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Panamazônica, em outubro de 2019, a Igreja como um todo, mas de modo especial na Panamazônia, é convocada pelo Papa Francisco, no documento A Querida Amazônia, a pô-lo em prática. Diz o Papa: “Deus queira que toda a Igreja se deixe enriquecer e interpelar por este trabalho [do sínodo], que os pastores, os consagrados, as consagradas e os fiéis leigos da Amazônia se empenhem na sua aplicação” (QA, 4).
A partir daí, muitas assembleias, reuniões e encontros já foram realizados, dentro das condições da pandemia do novo coronavírus, para refletir e discernir sobre “o que devemos fazer”. Muito também já se escreveu sobre isto. Muitas entrevistas foram publicadas nos meios de comunicação e muito se conversou. Sempre sobre “o que devemos fazer”. Nisto somos bons. E importa muito. Porém, não basta. Ficaríamos a meio caminho. É necessário passar do “dever fazer” ao “fazer”. Em vez de continuar somente a perguntar o que devemos fazer, como fazer, quando fazer, vejamos e estimulemos o que estamos fazendo, o que fizemos ontem. Pois, na verdade, muito já se fez e se está fazendo em termos de “aplicar” o sínodo no território. Ajudaria muito se conseguíssemos levar ao conhecimento de toda a rede “o que já se está fazendo”. Pois, queremos continuar a trabalhar em rede e sinodalmente. Sinodalmente, isto é, indo às comunidades, expondo-lhes os resultados do sínodo, escutando-as e com elas construindo “os novos caminhos”, para depois comunicar a toda a rede “o que estamos fazendo”. Todo este processo seja realizado à luz da Palavra de Deus e com muita oração. É o Espírito Santo quem nos deve conduzir.
O panorama territorial onde “fazer”, já o encontramos assinalado no Instrumento de Trabalho do sínodo: “A vida na Amazônia está ameaçada pela destruição e exploração ambiental, pela violação sistemática dos direitos humanos elementares da população amazônica. De modo especial, a violação dos direitos dos povos originários, como o direito ao território, á autodeterminação, à demarcação dos territórios e á consulta e ao consentimento prévios” (Inst.Lab., 14). Em conformidade com o que sobressai das múltiplas consultas realizadas em muitas regiões amazônicas, as comunidades consideram que a vida na Amazônia está ameaçada sobretudo: a) pela criminalização e pelo assassinato de líderes e defensores do território; b) pela apropriação e privatização de bens da natureza, como a própria água; c)por concessões madeireiras legais e pela entrada de madeireiras ilegais; d) pela caça e pesca predatórias, principalmente nos rios; e) por megaprojetos: hidrelétricas, concessões florestais, desmatamento para produzir monoculturas, estradas e ferrovias, projetos mineiros e petroleiros; f) pela contaminação ocasionada por todas as indústrias extrativistas que causam problemas e enfermidades, principalmente para as crianças e os jovens; g) pelo narcotráfico; h) pelos consequentes problemas sociais associados a tais ameaças, como alcoolismo, a violência contra a mulher, o trabalho sexual, o tráfico de pessoas, a perda de sua cultura originária e de sua identidade (idioma, práticas espirituais e costumes) e todas as condições de pobreza às quais estão condenados os povos da Amazônia (Fr.PM)” (Inst.Lab.,15).
Conhecemos também as repetidas vezes em que o Papa Francisco solicita com insistência que se multipliquem os diáconos permanentes na região amazônica, que são muito escassos ali, bem como os ministros leigos e leigas dos vários ministérios instituídos, com destaque dos indígenas seja para diáconos seja para ministros leigos e leigas. Isso exigirá abrir escolas de diaconato permanente, de catequistas e dirigentes de comunidades, seja mulheres seja homens, agentes missionários com prática sinodal, bem como renovação sinodal do nosso atual clero e dos religiosos/as. Essas escolas por sua vez precisarão inovar e se inculturar seja na metodologia seja no currículo.
Citei só algumas tarefas. Muitas outras nos desafiam. Empenhemo-nos com alegria nesta missão, com a alegria do Evangelho (cf. “Evangelii Gaudium”, do Papa Francisco). Rezemos ao Espírito Santo para que mantenha aceso o fogo sinodal na Igreja Panamazônica!
Convido fraternalmente a REPAM a assumir junto este processo sinodal.
Para terminar, como disse acima, nos ajudaria muito se pudéssemos dar a conhecer a toda a rede eclesial e a outros “o que já se está fazendo”. Por isto, lhes pedimos que, se possível, nos enviem o que vocês como jurisdição eclesiástica ou como instituição (em especial, indígena) estão realizando relativo aos compromissos, que assumimos na documentação final da Assembleia Sinodal da Amazônia de acordo com o questionário que lhes estamos enviando (ver formato). Tudo isto nos ajudará enormemente a visibilizar, reconhecer, aprender, socializar e agradecer em espírito sinodal”.
São Paulo, Festa de São Pedro e São Paulo,29 de junho de 2021
Cardeal Cláudio Hummes OFM
Presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA)
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