Nesta frase do Senhor Yahweh, dirigida à “serpente”, símbolo do maligno, é costume traduzir “semente” [sperma em grego, semen em latim] por linhagem ou descendência. Não está errado, mas corre-se o risco de não perceber que Deus é um semeador: “Meu Pai é o agricultor” (Jo 15,1). E sua principal “semente” é o Filho, semeado por amor na terra dos homens...
Palavra rica de ressonâncias, a semente foi usada por Jesus para falar do Reino de Deus, que encerra em seu íntimo um mistério semelhante ao do grão que o lavrador lança à terra e, daí em diante, pode dormir tranquilo (cf. Mc 4,27), que ela vai brotar. Um reino silencioso, discreto, misterioso.
Este reino tem um preço: a morte da “semente”. “Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer, produzirá muito fruto”. (Jo 12,24) Exatamente o fruto que não vem à luz quando a semente cai sobre o terreno rochoso, quando é devorada pelas aves do céu, quando é sufocada pelos espinhos (cf. Mt 13,18ss).
Existe uma boa semente, quase sempre identificada com a palavra de Deus, mesmo ao custo de ficar na sombra o fato de que essa “palavra” é uma Pessoa: o Verbo divino, encarnado na pessoa de Jesus de Nazaré. Existe, porém, uma semente ruim, maligna, venenosa, semeada pelo Inimigo (cf. Mt 13,25), que tenta competir com o trigo bom. Apressados, queremos arrancá-la de pronto, mas o Mestre manda aguardar até a “colheita” (cf. Mt 13,30), quando seus anjos se encarregarão dessa tarefa.
A semente é símbolo de vida. Sua existência deriva diretamente do desígnio do Criador: “Ervas que deem semente e árvores frutíferas que deem sobre a terra, segundo sua espécie, frutos contendo sua semente”. (Gn 1,11) Se o povo se afasta do Senhor, ficará sem suas sementes: “Debalde semeareis a vossa semente, porque os vossos inimigos a comerão”. (Lv 26,16)
A pregação apostólica usa a semente como símbolo de nossas obras. “O que o homem semear, isso colherá.” (Gl 6,7) “Sabei que quem semeia com parcimônia, com parcimônia também colherá.” (2Cor 9,6)
O próprio Espírito Santo, recebido no batismo cristão, é uma “semente”: “Todo aquele que nasceu de Deus não comete pecado, porque sua semente permanece nele”. (1Jo 3,9)
Alguns textos bíblicos:Sl 126,5-6; Is 55,10-11; Os 2,25; Mc 4,26-32; 1Pd 1,23.
(Do livro “Uma voz na nuvem – Símbolos da Bíblia” – Ed. Cultor de Livros – S. Paulo, 2021)
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